16 outubro 2011

glad 2 B back!

Bom... parece que me desbloquearam ... entretanto tenho andado por aqui -- já dou mais notícias!

---- afinal, 'glad 2 B back' coisa nenhuma! continua tudo na mesma .. vou passar-me definitivamente para o outro VENTO

13 outubro 2011

O grau zero da decência e a excelência do cinismo

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in Público, 12/10/2011

Santana Castilho *

Os argumentos que sustentam a revogação dos prémios de mérito dos alunos ilustram a excelência do cinismo. Comecemos pela incoerência. Nuno Crato foi um arauto da meritocracia, da superioridade dos resultados, da competição e do reconhecimento dos melhores. É verdade que nunca se ocupou a reflectir sobre o que é ser melhor em Educação, nem perdeu tempo a clarificar “as poucas ideias” (a expressão é dele próprio) que tem sobre ela. Mas apontou o “eduquês”, sempre, como a antítese daqueles paradigmas doutrinários. Ora os prémios que estoiraram eram o melhor símbolo da meritocracia e da oposição ao “eduquês”. Nuno Crato implodiu, portanto, a sua coerência. Vejamos agora a forma e a legalidade dúbia. O despacho está escrito em fino “eduquês”, redondo, cheio de frases reles, que Crato ridicularizou quando não era ministro. Cita mal e descuidadamente legislação de suporte. E rebenta, sem poder, com o que se consigna no Código Civil. Com efeito, a instituição dos prémios reveste a forma jurídica de “promessa pública”, cujo sentido é, assim, clarificado pelo nº1 do artigo 459º do citado código”: “Aquele que, mediante anúncio público, prometer uma prestação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo, fica vinculado desde logo à promessa”. Esta promessa pública, se não tiver prazo de validade, o que é o caso, é revogável a todo o tempo (nº 1 do artigo 461º). Mas a revogação não é eficaz (nº2 do artigo 462) “… se a situação prevista já se tiver verificado …”. E este é o caso. Quando o ministro revogou, já os factos que obrigavam ao cumprimento do prometido se tinham verificado, isto é, estavam apurados, há muito, os alunos referidos na promessa. Crato podia revogar para futuro. Mas não podia deixar de cumprir o que estava vencido, fazendo uma interpretação torta do Direito. E chegamos ao mais importante, à ética e à moral. Que acontece à ética quando se retiram, na véspera de serem recebidos, os prémios que se prometeram aos alunos? Que ética permite que a solidariedade seja imposta por decreto e assente na espoliação? Que imagem da justiça e do rigor retirarão os alunos, os melhores e os seus colegas, do comportamento abjecto de que os primeiros foram vitimas? Terão ou não sobeja razão para não acreditarem nos que governam e para lamentarem a confiança que dispensaram aos professores que, durante 12 anos, lhes ensinaram que a primeira obrigação das pessoas sérias é honrar os compromissos assumidos? Por fim, o despacho ordinário do ministro impõe a pergunta fatal: que moral o informa para, responsável por tal infâmia, quando confrontado com ela, apenas reconhecer uma falha de comunicação, por a decisão ter sido tomada a 19 de Setembro? Fora o primeiro-ministro além da contabilidade e Crato teria imediatamente ficado a saber, pela única via reparadora, que a emergência que vivemos não suspende a legalidade, a coerência e a ética, nem o dispensa da moral mínima. Já sabíamos que Crato queria endireitar a Educação medindo e classificando tudo e todos. Não sabíamos que pretendia formar o carácter dos alunos enganando-os e obrigando-os a serem solidários à força. Esclareceu-nos agora. Eficazmente. Sem deslizes de comunicação.

A aceitação de qualquer meio para chegar ao fim, baixo modo de fazer política, marca também a relação com os professores. Não é edificante que a trapalhada dos concursos esteja agora no Departamento de Investigação e Acção Penal. Nunca antes se tinha chegado a tal extremo. Independentemente do que de lá saia, há factos indesmentíveis. O processo usado para contratar professores é uma charada sem réstia de transparência e uma porta aberta às manipulações e aos golpes. Num dos momentos do concurso, designado por “Bolsa 2”, entre 15 e 19 de Setembro, quando as escolas quiseram manifestar horários anuais, a respectiva plataforma informática bloqueava essa opção e assumia-os como temporários. Foi o glorioso tempo dos professores ao mês, apressadamente corrigido a seguir. Dizer que os professores foram colocados em função do que constava na aplicação informática é, neste contexto, vil, demasiado baixo. Quando confrontado com os factos no Parlamento, Nuno Crato foi simplesmente demagógico. Falou de não poder contratar para além das necessidades. Ora ninguém lhe pediu que contratasse para lá das necessidades. Pediu-se-lhe que explicasse por que contrataram arbitrariamente. Por que manipularam horários. Por que permitiram que quem estava antes fosse ultrapassado por quem vinha depois. Com um vistoso jogo de cintura, para aligeirar o escândalo e as televisões servirem, Crato afirmou que apenas 0,4 (“Bolsa 1) e 0,1 (“Bolsa 2”) por cento dos professores reclamaram. O distinto matemático esqueceu-se de nos dizer a que universo se referia a percentagem. Mas só um é relevante: o dos cerca de 37.000 professores desempregados. Dado que os recursos foram 512 para a “Bolsa 1” e 152 para a “Bolsa 2”, as percentagens verdadeiras são 1,38 e 0,41 por cento, respectivamente, sem atender a que o universo do cálculo se reduziu entre os dois momentos considerados. Acresce, e não é de somenos, que quem queira reclamar se tem que sujeitar a um “conveniente” mecanismo de “consulta prévia” informática, prolixo, castrador, perito em brindar os irreverentes com a canalha mensagem: “O seu perfil de utilizador não lhe permite executar a operação pretendida”. 

O grau zero da decência a que o Ministro da Educação e Ciência desceu tem uma vantagem: daqui para a frente, por mais repugnantes que sejam as suas decisões, estaremos preparados. Nada surpreenderá as pessoas de bem. 

* Professor do ensino superior. (s.castilho@netcabo.pt)

28 setembro 2011

Pensar sem palas

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Santana Castilho *
Pensar sem palas

1. Eles serão fortes enquanto formos fracos e a indignação for só de alguns. Só pararão quando estivermos secos como os gregos e apenas nos restar o coiro, esbulhado todo o cabelo. Nas últimas semanas, depois do Instituto Nacional de Estatística e do Banco de Portugal terem “descoberto” o que muitos sabiam há anos, a degradação da política expôs-se em crescendo. Dum lado, reclama o PS contra o escândalo da Madeira. Do outro, grita o PSD que a responsabilidade pelo buraco do continente é do PS. Os dois têm razão. Porque os dois são culpados. Os notáveis do costume, alguns deles outorgantes da impunidade que protege a política, emergiram do ruído pedindo leis que sancionem os que gastam o que não está autorizado. Como se o problema fosse da lei, que existe e é ignorada, e não fosse dessa espécie de amnistia perpétua que decretaram. É, assim, fácil prever como terminará o inquérito que o Procurador-Geral da República determinou. O destino dos mesmos é o de sempre: sem o mínimo incómodo, muito menos de consciência, uns, eles, continuarão a dizer aos outros, nós, cada vez mais sufocados, que temos que pagar o que (não) gastámos. 

Sobre a Madeira, um notável de Bruxelas mostrou surpresa. Estava em Wroclaw, na Polónia, com todos os ministros das finanças da Europa. Foram para decidir sobre a Grécia, que se afunda e arrastará com ela a Europa e o euro. Não sei quanto gastaram, mas foi muito. Sei que decidiram coisa nenhuma. Sobre a Madeira, outro notável, o presidente da nossa República, disse com ar grave: “Ninguém está imune aos sacrifícios”. Estava nos Açores, onde teve a oportunidade de apreciar o “sorriso das vacas” e verificar que “estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto que começava a ficar verdejante”. Não sei quanto gastou, mas não terá sido pouco. Disse-me Rita Brandão Guerra, deste jornal, que Sua Excelência se fez acompanhar de 30 pessoas, 12 seguranças, dois fotógrafos oficiais, médico e enfermeira pessoais, dois bagageiros e um mordomo inclusos. 

2. “O cratês em discurso directo” podia ser o título desta crónica. Porque há uma prática evidente e um discurso, que emergem sob a responsabilidade de Nuno Crato, eticamente deploráveis. A 14 de Setembro, o Ministério da Educação e Ciência confirmou que as escolas só podiam contratar professores ao mês, mesmo que o horário fosse para o ano inteiro. Independentemente de ter emendado a mão, com justificações trapalhonas, pressionado pelas reacções, o importante é ter posto a nu a seriedade que não tem, a ética em que não se move e a facilidade com que calca a dignidade de uma profissão. Que pretenderiam as mentes captas dos seus responsáveis? Não pagarem Agosto? Interromperem o vínculo no Natal e na Páscoa? Aumentarem a competição mercenária a que estão a reduzir a Escola? Isto não é fazer política. A isto chama-se canibalizar a Educação. 

3. O pudor mínimo mandaria que o primeiro-ministro se recolhesse ao mosteiro do silêncio em matéria de avaliação do desempenho dos professores. Não sabe do que fala, nem sabe que não sabe do que fala. Mas falou. Falou para felicitar o Governo e destacar o rigor daquilo que o dito fez. No dia seguinte, o rigor tornou-se público: a avaliação dos mais de mil directores de agrupamentos e escolas é o primeiro paradigma da pantomina. Segundo a bíblia da econometria pública, o Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho da Administração Pública, caberia aos directores regionais de Educação avaliá-los e classificá-los. Só que esses foram todos apeados. E os senhores que se seguem não cumprem o requisito legal de terem seis meses de contacto funcional com os avaliados. O desleixo, a improvisação e o amadorismo estão aqui. Mesmo que Passos Coelho os felicite. 

4. Quem também falou foi a Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário. Depois do que ouvi, em entrevista ao Correio da Manhã, fiquei esclarecido, que não surpreendido. Move-se no desconhecido, a Senhora. Foram constantes expressões como: “talvez”; “até pode ser”; “estamos a equacionar”; “estamos a trabalhar no estudo”; “ainda está em fase de estudo”; “ainda está a ser trabalhado”; “é nossa intenção fazer”; “é nossa intenção introduzir”; “é nossa intenção universalizar”. Quando saiu deste registo assertivo, esbarrou com a realidade. “Alargar o ensino pré-escolar a idades mais precoces”? Se agora estamos nos três anos, propõe passar os partos para o jardim-escola, para aproveitar o tempo? Menorizar a Educação Física? Escolarizar a educação da infância? Lastimável!

5. Talvez seja uma simples coincidência, mas no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues o processo foi o mesmo: em momento cirurgicamente escolhido, caiu na imprensa um número grande de faltas de professores. O Diário de Notícias de 26 transacto noticiou 514 mil dias de baixas médicas, de Outubro de 2010 a Janeiro de 2011. E apimentou o escrito com a suspeição de fraude. Tirada a fraude, que deve ser investigada e castigada, se confirmada, pensemos o facto sem palas. Relativizados os números e admitindo que os dias se distribuíam uniformemente por todos os docentes, estaríamos a falar de qualquer coisa que não chegaria a um dia (0.85) por mês, por professor. Mas não distribuem: há baixas prolongadas (gravidezes de risco, baixas pós-parto, doenças graves e assistência a filhos). E ainda há o período considerado, de Inverno, em plena visita do vírus H5N1. Entre tantas, três perguntas mereciam tratamento jornalístico: por que razão só agora foi tornado público algo que se verificou há oito meses? Quantos dias trabalharão os professores portugueses para além do seu horário de trabalho? Haverá relação causal entre as doenças dos professores e as políticas educativas seguidas? 

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* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

26 setembro 2011

censura ao "Vento" ??!!

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é isto que aparece quando eu própria tento aceder ao meu blogue!! Aqui ou via Facebook!!!!!!
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O sítio web em o-vento-que-passa.blogspot.com foi denunciado como um sítio maligno [?????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ] e foi bloqueado de acordo com as suas preferências de segurança.


Sítios malignos tentam instalar programas que roubam a sua informação privada, usam o seu computador para atacar outros ou estragam o seu sistema.Alguns sítios malignos distribuem intencionalmente software que provoca estragos, mas muitos foram comprometidos sem o conhecimento e/ou permissão dos seus donos.
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love has no gender

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23 setembro 2011

a insustentável perspectiva

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Hoje faltei. Não suportei a perspectiva de ficar 12 horas na escola, as últimas 3 em sofrimento atroz - e não exagero! - o que me causam agora as reuniões, todas as reuniões - um massacre sistematicamente infligido, como se fossem necessárias, como se fossem úteis, importantes. Não são. Não nestes moldes de obrigatoriedade e excesso, de impossibilidade anímica.
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Ainda pensei ir dar as aulas, meter depois o artigo 102 para justificar 4 tempos (2 por cada reunião) - que equivaleriam a um dia de faltas. É esta a situação dos professores: leis absurdas que nos subjugam, que, mais assustador ainda, a maioria nem sequer contesta. Que os sindicatos ignoram, tal como o ministro.

Hoje. Estava a preparar materiais para os meus alunos desde as 6 da manhã, quando me dei conta já passava das 8, impossível chegar a tempo, começava às 8.15. Dez minutos de atraso (no auge da febre-mlr chegaram a ser 2!!!, nesta escola onde estou ..) e terei de justificar 45 ou 90, dependendo se é ao 1º tempo ou noutros. Posso até estar na escola - a trabalhar, e não me dar conta de que o tempo de entrada passou (não há toques), ou a vomitar na casa de banho, e não chegar a tempo: 2 tempos de faltas, os 90 minutos que dura cada uma das minhas aulas.

Hoje. Faltei. Tenho estado intermitentemente a preparar materiais para os meus alunos. Que lhes envio por mail, que poderei ainda colocar na plataforma moodle. Nos intervalos durmo, fujo, ainda que tenha pesadelos que me representam encurralada, labirintos sem escapatória possível. Praticamente não como, sinto-me enfartada, as digestões que faço mal. Escrevo num intervalo, quero dar testemunho deste des-ser. Escrevo e falta-me o ar, o meu eu consciente assombra-me de remorsos pelos meus alunos, por não ter estado lá, hoje. Talvez por isso vou trabalhando para eles num dia penalizado com falta a descontar no período de férias. Como provavelmente trabalharei no sábado, e no domingo.

Evito agora a minha família, não quero preocupar sobretudo a minha mãe, deixar que se aperceba deste mal-estado. Há dias uma colega confidenciou fazer o mesmo, em relação ao dinheiro que lhe falta: a prestação da casa, as propinas do filho. Carreiras congeladas há anos, ordenados com actualizações muito inferiores aos níveis de inflação, por várias anos aumentos zero para a Função Pública, de que os professores seriam um grupo à parte, daí o ECD. E são-no, relativamente às faltas, por exemplo: 7 por ano para nós (não mais do que um dia ou 4/ 5 tempos por mês, depende), 11 para eles, com possibilidade de 2 dias por mês.

Quando comecei a dar aulas (e nunca achei que tivesse uma 'vida regalada'!!), podia dar 24 dias de faltas por ano (2 por mês), justificáveis ao abrigo do que era então o artigo 4.º. O 1.º ECD com que nos brindaram em 1988 reduziu-os logo para metade, retirou-nos o direito às fases, às diuturnidades. O 2.º, para 5 (menos de metade) - obra da mulher que, para "ganhar o país, perdeu os professores" - aviltando-os e espezinhando-os com prazer sádico. Uma mulherzinha ressaibiada que devia estar presa por danos irreversíveis a toda uma classe, e eu diria mesmo, por homicídio/classicídio premeditado!! A ministra dos sorrisos e do pouco pensar alargou os 5 dias para 7. O actual nem se deu ao trabalho de fazer contas. Saberá ele da disparidade relativamente ao resto da FP? Duvido. Como, decerto, não saberá que uma falta a uma reunião, num dia livre que um professor tenha, equivale a um inteiro dia de faltas - descontável no período de férias, sem direito a subsídio de refeição (4 euros e uns cêntimos). Acho que ele também não sabe - nem isso lhe interessará minimamente - que um professor pode repor uma, 'n' aulas que não tenha dado, e muitos o fazem agora a bem da sua avaliação e para massacre dos alunos, que entretanto terão tido uma farsa de substituição.. As faltas que o professor deu, apesar de as ter reposto, mantêm-se, e as inerentes penalizações também.

Hoje faltei. Era-me insustentável a perspectiva de permanecer 12 horas no meu local de trabalho, da tortura destas reuniões sem sentido, ao fim do dia, no limite do cansaço. Não estive fisicamente doente, ainda que haja doenças tão ou mais incapacitantes que as físicas, tão ou mais mortíferas. Se até ao fim do mês chegar atrasada a uma aula terei de justificar a falta com atestado médico, assim é a lei. Não posso 'prolongar' as aulas, repor os 10 minutos como outros profissionais, não posso invocar que trabalhei em casa muito mais horas do que as que me pagam, que uma coisa devia compensar a outra.
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Conviver diariamente com o absurdo, tentar sobreviver a todos os eternizados processos "monstruosos e kafkianos"  (e a ADD é apenas um exemplo!) que o PM  prometeu suspender e descartou sem remorso e que o ME ignora ou despreza. Ser professor é também isto. É, agora, sobretudo isto. Não devia.
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o quadro é de Júlio Resende , falecido na 4ª feira passada (ler)
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22 setembro 2011

este dorido estar Professor, hoje

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alguns dos comentários que me chegaram ao post 'perder a alma' .. que tomo a liberdade de colocar aqui e que actualizo todos os dias, a cada novo que vem .. 
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«Tudo o que dizes é a verdade nua e crua... a nossa vida de professores atingiu o nadir... e como me dói a tua dor... entendo perfeitamente que queiras fugir e que o faças efectivamente... eu também gostaria, porém tenho apenas metade do teu tempo de serviço... portanto, a minha almejada "liberdade" está a anos-luz de ser atingida... mas fico feliz por/se a conseguires já...»
Um forte abraço solidário, do colega José Couto
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«como te compreendo!!! este ano sou, pela 1ª vez desde 1994, diretor de turma. o inquérito de caraterização, para voltar a 'conhecer' os mesmos alunos que conhecia no ano passado, a extrema burocracia - planos de acompanhamento, de recuperação, de turma, de PESES, de reuniões de pais... Ando há 1 semana a tentar ter tempo para organizar uma visita de estudo com os meus miúdos do surf, que andam entusiasmadíssimos. tenho as minhas colegas da física a pedir ideias para o nosso clube recém criado onde trabalho probono. mas chego a casa, trato dos miúdos e estou estoirado. deito-me. não leio, não pesquiso, não planeio. apenas durmo. para no dia seguinte voltar a ter de pensar no mesmo. este está a ser o ano mais complicado e desmotivante desde há muitos anos. e não quero senti-lo assim... adoro dar aulas, adoro os meus alunos, crescer com eles, sair com eles, planificar com e para eles. mas este ano está a ser difícil... ainda não posso pedir reforma antecipada mas, pela 1ª vez desde que sou professor, sinto que talvez não me importasse de ser outra coisa qualquer...» -  Carlos Milho
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«Podemos perder muita coisa, mas a alma... não! Podem deitar-nos abaixo, mas abater-nos, não! Por isso levanta a cabeça e segue em frente. Tenho 57 anos, 34 de serviço, fiz tudo o que havia para fazer numa escola e desde Dezembro que espero a reforma. Agora gozo a liberdade de querer sair, de ir embora, de dizer 'Não quero mais'. Afinal, estamos vivas!»  - Judite
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Obrigada, queridos amigos, pela solidariedade, as palavras de apoio, o vosso carinho..
Sei que somos muitos neste 'barco'.. acho que soçobra quem, precisamente, se dedicou/dedica de alma e coração, quem está na escola pelos alunos, quem leva a profissão a sério e a vê tão adulterada.
Não sei se vos falta o ar como a mim, agora, todos os dias.
Ontem, ao sair da escola, deixei positivamente que uma carrinha me batesse no carro. Vi-a fazer marcha atrás, eu ali parada sem ter por onde escapar. Esperei que o condutor se desse conta, fui incapaz de reagir, apitar. Bateu-me. Fui-me embora sem reclamar nada, desimportando-me da amolgadela, do espelho torcido.
Tudo o que queria era fugir dali, encontrar um refúgio.

Assim estou, mais morta que viva. E não sei se ainda vou a tempo de recuperar a alma.. – Ana Lima

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«Também estou contigo! Compreendo-te perfeitamente! Também eu era uma professora empenhada e apaixonada pelo que fazia até há seis anos atrás.» (antes de MLR) - Júlia

dying slowly - Tindersticks

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«Uma pequena correcção, sem qualquer "parti pris", não foi o Passos Coelho que cortou, a si como a mim, dos tais "chorudos" 2000 euros líquidos para os actuais 1800, foi ainda o outro "Pinóquio". Ocorreu a partir de Janeiro de 2011 e as eleições foram só em Junho. Pode ser é que não fique por aqui.
Tudo o mais, na "mouche" - e damos connosco a colaborar neste massacre suicidário.»  - António J. F.
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Tem razão, António, foi ainda o outro pinóquio, lapso meu .. O actual, para além de metade do 13º mês, cortou-nos outra coisa, talvez mais importante: cortou-nos a esperança de que alguma coisa poderia mudar, com as suas colagens a SC, as suas promessas vãs em tempos de oposição. E 'corta-nos' tudo este ministro de opereta - que mantém o insustentável, que à 3ª desdiz o que na 2ª afirmou, sem um mínimo vislumbre de como 'agir Educação' .. E é verdade, somos todos cúmplices: comemos e comemos e calamos e tudo aceitamos - até ao estrebuchar final, 'sem apelo e sem agravo' - AL
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    via e-mail:
    «Olá Ana, como te compreendo. Fiz um comentário para o teu blog mas não foi publicado, talvez porque não assinei...
    Tb tenho 56 anos e estou saindo com um grande corte, pois entreguei o pedido em Dezembro. Estou mesmo quase a sair. Não dá para aguentar, e é revoltante fazerem-nos sair de rastos.
    Beijos, amiga. E cuida de ti o melhor possível, sem qualquer remorso. O que já ofereceste de ti à escola e aos alunos ao longo de tantos anos, para além do que era devido, dá-te o direito de procederes agora de modo a proteger a tua saúde, mental e física, através de alguns períodos de baixa ou o que for necessário e possível.»
    Um grande abraço. Eduarda

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    com. deixado no FB:
    «Tenho 62 anos e também estou de saída. Não pela minha vontade. Quando iniciei, era para ir até ao topo e ao limite da idade. Assim, com penalização, sinto que saio pela porta do cavalo. Desiludido, desencantado, defraudado e acima de tudo enganado, compelido e descartado.» - Reinaldo A.

    beyond much, much reasonable doubt

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    EUA: mais um inocente condenado à morte?
    fonte: yahoo

    Troy Davis executed despite protests


    "I am innocent," Davis said moments before he was executed Wednesday night. "All I can ask ... is that you look deeper into this case so that you really can finally see the truth. I ask my family and friends to continue to fight this fight."
    (...)
    When asked Thursday on NBC's "Today" show if he thought the state had executed an innocent man, civil rights leader the Rev. Al Sharpton said: "I believe that they did, but even beyond my belief, they clearly executed a man who had established much, much reasonable doubt."


      - ler mais

    Portugal inimputável

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    in Público, 21.09.2011

    "Antes da Madeira, houve várias Madeiras"
    Medina Carreira: governantes dos últimos dez anos deveriam ser julgados

    de Antoni Tàpies
    “Estamos com as baterias contra o Dr. João Jardim (...), mas temos muita gente que à frente dele devia sentar-se no banco dos réus. As pessoas que puseram este País no estado em que está deveriam ser julgadas”, disse Medina Carreira, durante uma tertúlia na Figueira da Foz.


    Medina Carreira alegou que o caso da Madeira “só existe” porque Portugal “chegou ao estado de abandalhamento completo” e que a questão só foi tornada pública dado o período eleitoral na região autónoma.

    “Por toda a parte se nota que falta dinheiro aqui e ali. Rouba-se aqui. Rouba-se acolá. Nunca ninguém é julgado. Nunca ninguém presta contas.
    - ler mais

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    Merecemos pagar cada cêntimo gasto por Jardim

    por Daniel Oliveira
    retirado daqui


    A dívida astronómica do governo regional da Madeira, que nem o imposto extraordinário de Natal chega para pagar, não é novidade. Há anos que sabemos que Alberto João Jardim se eterniza no poder por não ter de fazer contas. As suas campanhas resumem-se a uma sucessão de inaugurações de obras sobre obras, não havendo na ilha já quase espaço para tanto betão e asfalto.

    A forma despudorada como nos rouba e ainda goza também não é novidade. Quando o País se comovia e aceitava, como gesto natural de solidariedade com os compatriotas madeirenses, que, em tempo de crise, fossem canalizados para a ilha milhões, com vista à reconstrução depois da tragédia, o cacique madeirense não hesitou em gastar o dinheiro em outras obras e despesas. Perante a austeridade geral, riu-se de nós e explicou que tencionava continuar a esbanjar. Porque nada podemos fazer para o impedir.

    A violação descarada das leis da República, de que troça, por conhecer o seu estatuto de inimputável, também não é novidade. O senhor absoluto da Madeira persegue opositores, cala jornalistas, insulta detentores de cargos públicos e ainda usa as forças de segurança para impedir protestos e os tribunais para calar criticas, incluindo de deputados que, em princípio, têm imunidade parlamentar. Financia imprensa que lhe faça propaganda, esmaga a que faça jornalismo, distribui negócios por amigos e empregos por familiares, impede deputados eleitos pelo povo de entrar na Assembleia Regional e recusa-se a aprovar a lei de incompatibilidades que vigora no resto do País.

    A cumplicidade com que sempre foi contando também não é novidade. Quando o Presidente da República se deslocou à Madeira, foi impedindo de ir ao parlamento regional e aceitou receber deputados da oposição num quarto de hotel, como se estivesse numa qualquer ditadura do terceiro mundo. Deixou que assim fosse, porque a democracia e o Estado de Direito têm um offshore na Madeira, aceite por todos.

    Durante anos o País sorriu com as alarvidades deste déspota local. Durante anos achou o seu desprezo pela lei, pela democracia, pelo Estado e por todos nós "politicamente incorrecto" e sinal de "rebeldia". Agora ele explica, com todas as palavras, que rebentou com centenas de milhões, violou a lei e nos mentiu para não ser apanhado. E ainda se diverte com isso. Queixamo-nos? Não sei porquê. Merecemos pagar cada cêntimo que nos roubou. Achámos que não era para o levar a sério. Agora pagamos a brincadeira. Muitos madeirenses corajosos, que há quase quatro décadas fazem frente ao Presidente num ambiente político sufocante, têm pago um preço bem mais alto pela sua ousadia. Nunca quisemos saber deles. Vem agora a fatura. É bem feita.

    Publicado no Expresso Online
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    A vingança do anarquista

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    Público de 21.9.11 - aqui
    a pedido do autor, este artigo respeita as normas do Acordo Ortográfico
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    A vingança do anarquista

    Por Rui Tavares (*)


    Aqui há tempos havia um enigma. Como podiam os mercados deixar a Bélgica em paz quando este país tinha um défice considerável, uma dívida pública maior do que a portuguesa e, ainda por cima, estava sem governo? Entretanto os mercados abocanharam a Irlanda e Portugal, deixaram a Itália em apuros, ameaçaram a Espanha e mostram-se capazes de rebaixar a França. E continuaram a não incomodar a Bélgica. Porquê? Bem, - como explica John Lanchester num artigo da última London Review of Books - a economia belga é das que mais cresceu na zona euro nos últimos tempos, sete vezes mais do que a economia alemã. E isto apesar de estar há 16 meses sem governo.

    Ou melhor, corrijam essa frase. Não é "apesar" de estar sem governo. É graças - note-se, graças - a estar sem governo. Sem governo, nos tempos que correm, significa sem austeridade. Não há ninguém para implementar cortes na Bélgica, pois o governo de gestão não o pode fazer. Logo, o orçamento de há dois anos continua a aplicar-se automaticamente, o que dá uma almofada de ar à economia belga. Sem o choque contracionário que tem atacado as nossas economias da austeridade, a economia belga cresce de forma mais saudável, e ajudará a diminuir o défice e a pagar a dívida.

    A Bélgica tornou-se assim num inesperado caso de estudo para a teoria anarquista. Começou por provar que era possível um país desenvolvido sobreviver sem governo. Agora sugere que é possível viver melhor sem ele. Isto é mais do que uma curiosidade.

    Vejamos a coisa sob outro prisma. Há quanto tempo não se ouve um governo ocidental - europeu ou norte-americano - dar uma boa notícia? Se olharmos para os últimos dez anos, os governos têm servido essencialmente para duas coisas: dizer-nos que devemos ter medo do terrorismo, na primeira metade da década; e, na segunda, dizer-nos que vão cortar nos apoios sociais.

    Isto não foi sempre assim. A seguir à II Guerra Mundial o governo dos EUA abriu as portas da Universidade a centenas de milhares de soldados - além de ter feito o Plano Marshall na Europa onde, nos anos 60, os governos inventaram o modelo social europeu. Até os governos portugueses, a seguir ao 25 de abril, levaram a cabo um processo de expansão social e inclusão política inédita no país.

    No nosso século XXI isto acabou. Enquanto o Brasil fez os programas "Bolsa-Família" e "Fome Zero", e a China investe em ciência e nas universidades mais do que todo o orçamento da UE, os nossos governos competem para ver quem é mais austero, e nem sequer pensam em ter uma visão mobilizadora para oferecer às suas populações.

    Ora, os governos não "oferecem" desenvolvimento às pessoas; os governos, no seu melhor, reorganizam e devolvem às pessoas a força que a sociedade já tem. Se as pessoas sentem que dão - trabalho, estudo, impostos - e não recebem nada em troca, o governo está a trabalhar para a sua deslegitimação.

    No fim do século XIX, isto foi também assim. As pessoas viam que o governo só tinha para lhes dar repressão ou austeridade. E olhavam para a indústria, e viam que os seus patrões só tinham para lhes dar austeridade e repressão. Os patrões e o governo tinham para lhes dar a mesma coisa, pois eram basicamente as mesmas pessoas. Não por acaso, foi a época áurea do anarquismo, um movimento que era socialista (contra os patrões) e libertário (contra o governo).

    Estamos hoje numa situação semelhante. Nenhum boa ideia sai dos nossos governos. E as pessoas começam a perguntar-se para que servem eles. 
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    (*) Historiador. Deputado independente ao Parlamento Europeu (http://twitter.com/ruitavares)

    21 setembro 2011

    o beijo do sol

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    e uma homenagem a Pedro Osório ..

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    Caros amigos,
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    Acabei de me estrear a fazer e montar um video. É um video-clip sobre uma música de um disco meu que está para sair. Coloquei-o no Youtube e, como sabem, só acima de um certo número de visionamentos é que ele aparece nos motores de busca.

    Peço-vos então que visitem este endereço
    http://www.youtube.com/watch?v=FyRUwKUigMo

    Talvez não se aborreçam e, se tal acontecer, por favor passem aos vossos amigos.
    Aqui fica desde já o meu agradecimento.

    Pedro Osório

    alberto-joão

    uma professora 'excelente' é isto!

    • o aluno que quer é ir trabalhar e a mim me parece virtual: tem 16 anos e anda na escola há 10, não aprendeu a escrever, a ler,  a contar, só sabe escrever o seu nome e mal. Chegou ao 8.º ano!
    • a professora?- directora? (daquelas q devem agradar imenso ao ME) que justifica o injustificável ..
    • e a jornalista que "pergunta perguntas" ..

    pois. viva portugal - aquele dos bem pequenino-poucochinhos que chegam a ministros, deputados, gestores !
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    palavras para quê?

    Omens sem H

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    Em Público
    Omens sem H 
    - Por Nuno Pacheco


    "Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos.

    No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim. Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco. Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje. Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas.

    Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio.

    O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota. "É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico. É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas?

    O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie,tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen? Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"?

    Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas. Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita".

    Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema. A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.

    Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo. Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas? Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo. Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido."
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    texto retirado daqui
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    the last beat of my heart

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    Alemanha, rainha das dívidas

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    em: 2011-08-2 

    A chanceler alemã, Angela Merkel
    Alemanha, rainha das dívidas

    O historiador Albrecht Ritschl evoca hoje em entrevista ao site de Der Spiegel vários momentos na História do século XX em que a Alemanha equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas por grandes e pequenos países credores.

    Ritschl começa por lembrar que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crash bolsista de 1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com os custos das reparações.

    A Guerra Fria cancela a dívida alemã

    Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.

    No caso da Grécia, essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a Alemanha de Konrad Adenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na sequência da guerra civil.

    À pergunta do entrevistador, pressupondo a importância da primeira ajuda à Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, e da segunda, em valor semelhante, contrapõe Ritschl a perspectiva histórica: essas somas são peanuts ao lado do incumprimento alemão dos anos 30, apenas comparável aos custos que teve para os EUA a crise do subprime em 2008. A gravidade da crise grega, acrescenta o especialista em História económica, não reside tanto no volume da ajuda requerida pelo pequeno país, como no risco de contágio a outros países europeus.

    Tiram-nos tudo - "até a camisa"

    Ritschl lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão, que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da ocupação.

    E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.

    Ritschl conclui aconselhando os bancos alemães credores da Grécia a moderarem a sua sofreguidão cobradora, não só porque a Alemanha vive de exportações e uma crise contagiosa a arrastaria igualmente para a ruína, mas também porque o calote da Segunda Guerra Mundial, afirma, vive na memória colectiva do povo grego. Uma atitude de cobrança implacável das dívidas actuais não deixaria, segundo o historiador, de reanimar em retaliação as velhas reivindicações congeladas, da Grécia e doutros países e, nesse caso, "despojar-nos-ão de tudo, até da camisa".
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    20 setembro 2011

    perder a alma

    acabo de chegar a casa. estou exausta, enervada. passei 10 horas na escola, dei 2 aulas. o mais foram tarefas de treta, tempo de espera para a reunião das 18.20. na próxima 6ª feira tenho duas, no fim do meu dia de trabalho. não haverá tempo de espera. ao todo, terei estado 12 horas na escola. são tempos de cad e de gpi e de blogue (que faço em casa), mais reuniões semanais ordinárias, mais reuniões extraordinárias quando calha e não refiles, reuniões basicamente para nada, em que já não aturamos sequer a presença, a voz do outro, reuniões que terminam de noite e em que se preenchem papeis e papeis e papeis com coisas que de qualquer forma faríamos -sem as registar e com muito mais disponibilidade. chego a casa e não consigo fazer nada do que supostamente deveria: preparar aulas, ver os mails dos meus alunos, orientar-lhes o trabalho no início do ano. não tenho energia nem para comer. apetece-me desabafar, ainda que saiba que não adianta, que poucos lerão e ainda menos vão entender, nada vai mudar, jamais. o ministro gaba-se dos seus (des)feitos e eu continuo com o mesmo horário sobrecarregadíssimo, tarefas sem sentido, burocracias que me devoram a alma e me aceleram as pulsações. podia agora tomar antidepressivos, ansiolíticos, dormir, esquecer a inutilidade disto tudo, a perversidade de um sistema vampiresco que me suga e suga e suga. nem dormir posso, para já, acordaria cedo demais e depois não conseguia dar as aulas, amanhã. não vejo televisão, ainda que, agora, só me apeteça estupidificar, deixar-me hipnotizar. deprime-me a mediocridade, as notícias dão-me náuseas, não aturo as mentiras dos políticos. também não oiço música, nada. quero um silêncio absoluto, telefones desligados, janelas fechadas. tenho 56 anos de idade, 33 e tal de serviço. sou hoje uma professora derrotada, desfeita. pudesse eu pedir isenção do serviço não-lectivo, reuniões, reuniões, reuniões e as pessoas que se levam tão a sério. reuniões para nada, fora do meu horário de trabalho, reuniões que não contam como horas extraordinárias como se não tivessem existido nunca, espremidas dão zero, dão sangue. a cada uma que aturo contrafeita penso que vou ter um ataque cardíaco, um avc. vou pedir a reforma antecipada. sei que depois de 33 anos e tal a descontar para a segurança social trarei para casa uma miséria, nem sei se chega a mil euros. estudei 18 anos para ser professora (4+7+5+2). Estava no último escalão da carreira, o ecd de maria de lurdes rodrigues recambiou-me para o nono, passos coelho das falsas promessas reduziu os dois mil euros mensais que recebia para cerca de 1800. estudei 18 anos, empenhei-me, aperfeiçoei-me, dediquei muitos anos à escola, tantas vezes com prejuízo da minha família, o tempo, a paciência que dedicava aos alunos e faltava depois ao meu filho. tantas vezes. a sinistra  matou-me, matou-nos, os efeitos sentem-se numa continuidade de ondas. isabel alçada e nuno crato não fizeram NADA para me devolver à vida. a escola-instituição, é, desde há 6 anos, um pesadelo. dias há em que chego e não consigo entrar. fico cá fora à chuva ao vento à canícula, fumo cigarros atrás de cigarros até chegar a hora de dar a aula propriamente dita. apetece-me fugir, hibernar, às vezes morrer. hoje, de volta a casa, uma condução que poderia ter-me custado a vida, a falta de reflexos pelo cansaço extremo, e a ânsia, a urgência de me afastar dali o mais rápido possível. o stress, a revolta pelas condições de trabalho que me impõem e que não vão mudar nunca. horas e horas na escola, tarefas sem sentido, 30 e tal graus dentro de uma sala ouvindo que a turma, que foi minha no ano passado, tem 16 rapazes e 14 raparigas que os alunos preferem sair com os amigos a ler livros que que que que.. kafka na sua expressão absoluta. estou cansada, não quero repetir isto amanhã, e depois, nas duas semanas em que duram as reuniões extra-horário, extra tudo. ouvi, e não quis acreditar: "um aluno que seja mandado para a sala de estudo sem tarefa regressa à sala de aula - de que foi expulso por mau comportamento". pensei numa loucura colectiva e irreversível que nos atinge, que fazemos todos parte de um maquiavélico plano de extermínio. chega. eu era uma professora entusiasmada. gostava de procurar e preparar materiais para os meus alunos, de aprender pesquisando, experimentando. e lia, lia muito, fiz para eles blogues e moodle e páginas web com escritores, música, história, cultura - em inglês francês espanhol alemão português. meti-me no projecto e-twinning e e-learning e fui auto-didacta e trabalhei milhares e milhares de horas aos fins-de-semana, em férias. tudo fiz por gosto, num tempo em que alegadamente os professores "não eram avaliados". agora só quero não pensar, se possível fugir fugir fugir. falta-me o tempo e o ar, não posso senão ir-me embora.
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    os professores, esses felizardos

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    pelo Secretariado Nacional da FENPROF, aqui
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    Salários dos professores portugueses, na última década, desvalorizaram-se cerca de 10%

    A ideia que se pretende passar, de que os salários dos professores portugueses se valorizaram na última década, é uma verdadeira vigarice! Na verdade, depois de 1998, os salários dos docentes têm vindo a desvalorizar-se de forma muito acentuada, devido a:
    • Sucessivos congelamentos das progressões;
    • Roubo de anos de tempo de serviço efetivamente prestado;
    • Aumento da duração da permanência em cada escalão;
    • Redução efetiva do salário;
    • Aumento dos impostos e dos descontos sociais;
    • Níveis de inflação nunca compensados por sucessivos “aumentos-zero”, sabendo-se que a sua variação média anual, na década, foi de 2,5%.
    Poderia parecer que o salário tinha aumentado com a criação de um novo escalão de topo da carreira, mas nem isso aconteceu, pois os professores foram impedidos de o integrar, não havendo um único que nele se encontre.

    Acresce ainda esclarecer que os salários dos docentes não podem ser comparados entre países pela sua relação com o PIB de cada país, uma vez que, por exemplo, enquanto a variação média anual do PIB na União Europeia foi de 1,3, em Portugal situou-se em 0,9. Mas se tivermos em conta o PIB per capita em paridades de poder de compra, pode afirmar-se que hoje o salário dos docentes é inferior ao da segunda metade da década de 80.
    Percebem-se as razões por que o governo anterior terá fornecido à OCDE dados truncados e incorrectos: dar a ideia de que os professores portugueses ganham muito para, de seguida, desvalorizar ainda mais os seus salários! Em nome da verdade, a FENPROF dirigir-se-á aos peritos da OCDE (*) que trabalharam estes dados, dando-lhes a conhecer a realidade. Aos professores e educadores, pede-se a melhor atenção neste momento, pois a divulgação de dados deste tipo, que não são verdadeiros, têm sido sempre utilizados para atacar mais os seus salários. Pode ser isso que está, mais uma vez, em preparação, tanto mais que o governo já anunciou pretender rever o seu estatuto de carreira.  
    *(ver aqui)
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    da demagogia

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    «Este panfleto da FNE (ver) é um monumento à demagogia barata. 

    Este "novo" modelo de ADD é, basicamente, o anterior, com umas pequenas alterações de linguagem para o tornar mais comestível. 

    Até mesmo o argumento de que é menos burocrático não passa de uma grande treta que o tempo se encarregará de trazer à luz do dia.» - JAFP

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    Comunicado da FENPROF após fim das negociações sobre Avaliação de Desempenho (ver)

    professores contratados .. à dúvida

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    retirado daqui
    Sábado, 17 de Setembro de 2011

    Ministério já não vai contratar professores ao mês, vai contratá-los à dúvida

    Para que serve um professor quando não há dúvidas? É esta a pergunta que se tem feito pelo Ministério da Educação, numa altura em que as exigências orçamentais obrigam a fazer cortes.
    «Um professor, quando não há dúvidas, é como um mono gigante que tapa a vista dos alunos, porque ler o que está escrito nos livros toda a gente sabe», afirmou o ministro da Educação, Nuno Crasso.
    Foi por isso decidido que os professores que vão ser chamados para assegurar os horários por preencher serão contratados à dúvida. «Quando há uma dúvida, contratamos o professor, ele responde e depois metemo-lo logo na rua», esclareceu Crasso.
    Já ontem à tarde, numa escola do agrupamento 4 da direcção regional de educação do sotavento, um aluno chamou “stôr” e foi contratado um professor naquele momento. O jovem queria pedir para ir à casa de banho, o professor contratado consentiu e depois foi corrido. «Funcionou muito bem», relata o ministro.
    A única excepção a esta nova regra do Ministério da Educação será feita na Madeira, onde os horários das escolas serão preenchidos com 20 professores por sala, catering do Pestana, bailarinas russas e trapezistas.
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    publicado por Zé Pedro às 09:54

    19 setembro 2011

    waiting for the miracle

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    'Nazca Lines' Discovered in Mideast

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    Visible Only From Above, Mystifying 'Nazca Lines' Discovered in Mideast

    LiveScience.comBy Owen Jarus 
    LiveScience.com – Thu, Sep 15, 2011


    The giant stone structures form wheel shapes with spokes often radiating inside. Here a cluster of wheels in the Azraq Oasis. CREDIT: David D. Boyer


    They stretch from Syria to Saudi Arabia, can be seen from the air but not the ground, and are virtually unknown to the public.

    They are the Middle East's own version of the Nazca Lines — ancient "geolyphs," or drawings, that span deserts in southern Peru — and now, thanks to new satellite-mapping technologies, and an aerial photography program in Jordan, researchers are discovering more of them than ever before. They number well into the thousands.  

    (ler mais)
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    Os lambe-cus

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    por Miguel Esteves Cardoso

    "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.

    Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.

    Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço».

    Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os
    alunos engraxavam os professores, os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc. ..

    Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso. Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada.

    O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador.

    Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se
    irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu.

    O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu. Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu.

    Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing. Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo.

    (...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional.

    O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês."

    Miguel Esteves Cardoso, in "Último Volume"
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