14 março 2010

«não estou para te aturar, puta de merda!»

Este post é uma resposta à Em@.. É também, e sobretudo, o comentário que, por nojo, na altura não consegui fazer, sobre as notícias relativas ao suicídio do professor de Sintra, a falácia dos títulos nos meios de comunicação,  a desumanidade e a hipocrisia das declarações de pais e professores, o insulto à pessoa que morreu, a vitimização dos agressores (tudo aqui)

Amiga, tu sabes, eu sei, ambas sabemos que todos sabem.
Estas agressões a professores (maioritariamente verbais, às vezes físicas) são o pão-nosso-de-cada-dia na imensa maioria das nossas escolas, sobretudo as dos grandes centros urbanos e respectivas periferias. No próprio dia em que ouvi a notícia do suicídio, houve uma colega que me contou: um aluno - daqueles que já estão retidos por faltas (dezenas delas, e disciplinares) mas continuam a poder frequentar a escola - resolveu aparecer-lhe na aula, depois de tempos de ausência. Entrou a meio,  foi lá com o expresso, único intuito de chatear. Interrompeu, gritou, desestabilizou tudo e todos dentro da sala. Quando a professora o mandou sair, ele, essa inocente "criança cuja vida tem de estar acima dos debates" (sic, Isabel Alçada) responde-lhe, e cito, "não estou para te aturar, puta de merda!" Assim, tu cá, tu lá. O pão nosso de cada dia, repito, mais coisa, menos coisa .. A queixa, a participação disciplinar (desta, de milhares de ocorrências como esta)  é feita, 1, 2, quinhentas vezes; o aluno vai uns dias suspenso para casa (quando vai!..) , está dentro da escolaridade obrigatória, volta quando lhe dá na real gana. Este de que sei é do 7º ano, como ele há mais 'n', do 7.º, 8.º, 9.º .... às vezes até do 10.º, 11.º..

O Estatuto do Aluno 'ata-nos' de mãos e pés, o resto dos professores (muitos, demasiados..) é tudo menos solidário, acho que para esconderem as próprias fragilidades: 'comigo não, que sou tão bom professor!', estás a ver o estilo, Em@? Serão eles candidatos à avaliação de 'excelente', e enquanto há um que é exposto, massacrado, e logo logo, presumido culpado, 'folgam-lhes as costas' ..
Tal como a ministra, os directores/ CAPs evitam a todo o custo que a escola fique  'manchada' no seu bom nome, apelam à calma, ao bom senso, o povo é sereno.
Tal como aquela outra professora de música colega do Luís, que, contrariando as declarações de um EE da mesma escola, «.. um deles leva tareia todos os dias» -  diz que «...não há casos de violência, só as coisas normais.» , tal como os outros, que recusaram a associação do suicídio com o comportamento dos alunos, e logo apontaram o dedo acusatório à depressão do colega..
Tal como eles - quase todos, pais e respectivas associações incluídos,  se conluiam na negação da evidência:  um problema de que não se fala é um problema que não existe!

Até um dia em que já não se aguenta mais. O suicídio raramente será a saída por que se opta, mas o ME (que tão urgentemente pretende analisar as causas que levaram ao acto desesperado deste professor), que investigue seriamente, que apure quantos outros professores - professoras sobretudo, são clientes assíduas de psiquiatras, quantas só sobrevivem ao dia-a-dia das escolas porque encharcadas em anti-depressivos, ansiolíticos, calmantes vários.
O ME que procure também saber quantos atestados médicos, periódicos ou permanentes, se devem a depressões causadas pelo stress que resulta da indisciplina, da má educação dos alunos, da pouca solidariedade dos pares (tutela incluída, não é, sra. MªLR?) da ausência de soluções para uma agressão que é diária e assume uma imensa diversidade de contornos.

Venha este post a ser alvo de comentários,  e sei, vão talvez insultar-me, rebater-me com toda a certeza, muitos: "violência? na minha escola não!! antidepressivos? só se for você!!" - qualquer coisa assim. Tudo vai bem no reino das avestruzes.
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na imagem, que é de um memorial em Paris, cada luzinha poderia representar um professor vítima de maus tratos e agressão ..
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11 comentários:

André Melão disse...

Eu acho é que com estes casos de agressões não vão haver muitos novos professores no futuro, ainda por cima não conheço ninguém que o queira ser. Já ouvi de tudo, menos professor. Os alunos já andam pouco interessados na escola por não perceberem porque é que a frequentam, quanto mais quererem trabalhar numa escola. A culpa é dos pais mas sobretudo da falta da inteligência dos filhos que querem permanecer burros em vez de tentarem aprender a serem melhores pessoas. Esta bola de neve não para de crescer e vai engolir-nos a todos...

AL disse...

- obrigada André, bjinho grande para ti
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deixo aqui tb.(abusivamente, eu sei, por isso ñ os identifico) os comentários q até agora foram postos no FB, a propósito deste 'post': http://www.facebook.com/?sk=messages&tid=364787937644#!/group.php?gid=360153957967&ref=mf
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e ao contrário do q eu previa, pelo menos por enquanto..

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Cara Ana,

O seu texto é excelente!!!! Não podia estar mais de acordo consigo!

2
ISTO É QUE É TRABALHO!!!
A DREL-VT (Júlia Araújo) levou 6 meses a dar resposta à minha exposição (porque pressionei).

Em@ disse...

Ana, obrigada pelo post.
Negar evidências é o caminho mais fácil e fica bem na fotografia, eu sei, tu sabes, eles sabem.Sabemos, todos, disso muito bem.
Aqui há tempos numa reunião em que se descutia a indisciplina#comportamento do professor perante esta eu pus a seguinte questão e volto a colocá-la aqui:
"E se um dia, depois de muito aturar, de muita participação feita, de muitas férias dada aos meninos prevaricadores ,um professor(a) se 'passar' e ...atirar com uma cadeira ao aluno, um livro de ponto, um apagador ? E se acertar?"
Continuaremos no reino das avetruzes? DUVIDO!
Todos nós sabemos, que por muito controlo que tenhamos sobre as nossas emoções, há dias em que não o conseguimos fazer.
Porque é que os directores não mudam de escola os meninos? isso está previsto na lei (para além de outras coisas).Para não darem conhecimento da gravidade do problema?
...
Mas o que eu não concebo, MESMO, é a indiferença dos colegas.
Se ele estava mal, ninguém lhe deitou a mão? Olhou-se para janela? Não poderiam olhar par o espelho ? É que um dia poderemos estar na mesma situação...
Não nos unamos todos e um dia estes...

Teresa disse...

Ana, é muito importante que se denunciem estes casos que vão sendo cada vez mais. Eu nunca tive um insulto destes por parte de um aluno mas se algum dia tiver para além de fazer a respectiva participação na escola vou à esquadra apresentar queixa. Isto está insuportável. Os alunos com mais de 16 anos têm juridicamente um estatuto diferente dos que têm menos de 16 anos.

Sofia Cunha disse...

Sou professora e alguém me mandou o link deste blog. Não podia concordar mais consigo. Há que agir e ser solidário com os colegas.

Cristina disse...

Olá! Eu também sou professora e é muito triste ver a desunião da nossa classe, o esconder de situações graves de indisciplina (e outras) pelos C.Executivos...
Nunca fui agredida ou insultada por nenhum aluno até agora, mas já senti terror de ir dar aulas a uma turma onde estava a fazer uma substituição. De tal maneira que meti atestado. Ou mantinha a minha sanidade mental ou ia chegar ao ponto de fazer um disparate. eu optei pela minha sanidade mental e borrifei-me para os delinquentes de alta estirpe que aqueles alunos eram e que ainda por cima tinham o passar da "mão pela cabeça" do C. E.
Defendo que estas situações devem ser denunciadas e mostradas ao mundo. Porque os maus são sempre os professores e nunca os alunos. Somos nós que somos maltratados e ofendidos e ninguém nos socorre. E enquanto se continuar a esconder e a camuflar estas coisas, continuamos a dar força aos alunos que se estão a borrifar para a escola e que só lá vão para fazer porcaria com os professores e colegas.

Anónimo disse...

Uma colega enviou-me o link deste blogue e eu vou reencaminhá-lo para TODOS os meus contactos. Estou tão revoltada e indignada que, eu que habitualmente sou bastante prolixa, fico sem palavras.
A cobardia e o medo são sentimentos terríveis e cada vez reinam mais neste mundo de faz-de-conta-que-comigo-está-tudo-bem!
Será difícil perceber que a desunião nos enfraquece?
Quem de nós ainda não disse ou ouviu dizer: "se pudesse, deixava o ensino. Adoro esta profissão, mas ISTO não é ensinar." Que atire a primeira pedra...

Anónimo disse...

`Não sei se já começaram a atirar pedras à corajosa colega a quem dou todo o meu apoio. É verdade que esse tipo de frases está a tornar-se VULGAR nas nossas escolas e isso não significa que o professor seja um "banana", embora esses sofram mais... Eu não admito esse tipo de frases mas já ouvi diversas e participei delas com resultdos tipo :repreensão escrita do aluno ou 1 ou 2 dias de suspensão!
Os EE não sabem que fazer em muitos casos e ainda hoje ouvi o comentário de uma mãe "pois tomaram de ponta a minha filha"...
A única forma de se lutar contra este bullying dirigido a professores seria termos realmente uma forma de agir cooperativa mas tal não acontece e aavaliação de professores que continua a vigorar só veio dividir e levantar atritos entre a classe.
Vou divulgar este blog mas será que quem não é professor vai pensar em ler? Duvido.

AL disse...

obrigada Em@, Teresa, Pipoca, Cristina, anónimos (ao André já agradeci:) - contrariamente ao que previa, ñ fui 'apedrejada'.. o primeiro comentário é de um aluno e outro (q. publiquei) é de uma mãe.. mesmo entre os 'não professores' há pessoas solidárias, mães, pais, alunos, a quem comportamentos delinquentes incomodam tanto como a nós, que os 'aturamos' nas escolas.
É óbvio que ninguém aceita insultos como o descrito no post, o problema é o inócuo resultado das actuações (quando as há, por parte da gestão das escolas)- os alunos vão uns dias para casa, mas voltam! E, Teresa, muito raramente estes pequenos bullies têm idade para serem 'imputáveis'. Os mais agressivos, de linguagem mais desbragada, são os alunos do 3.º ciclo, e sobretudo do 7.º ano, miúdos de 12, 13 anos..
É óbvio também que a anterior equipa do ME (secundada pela Confap , jornalistas, outras figuras públicas) é altamente responsável (e deveria ser responsabilizada) pelo desrespeito e desconsideração que durante quatro anos alimentou, relativamente aos professores. Deu força a alunos e EE mal formados, que, muito particularmente com Mª de Lurdes Rodrigues, ganharam assim como que garantia de impunidade..

Anónimo disse...

Como poderemos combater esta situação? É uma questão que me coloco muitas vezes. Sempre que se tenta fazer algo, já para não falar da legislação, é-nos dito: «tens que pensar e perceber que estas "crianças/jovens" são seres especiais!»

Assim, continuar-se-á a viver estes "problemas" nas escolas, a pensar eles mais tarde crescem e saiem-nos das mãos, mas serãos eles os futuros cidadãos com que iremos lidar nos diversos estabelecimentos, empresas, estradas, etc.

Enfim, não nos livraremos deles e de certa forma toda a sociedade contribui para que assim se continue.

Volto a deixar a questão: O que podemos fazer?

Maria disse...

Obrigada pelo post...Estamos de mãos e pés atados... falaram que a direcção nada faz...Discordo...Há 1 exemplo na minha escola no mínimo bizarro...Um menininho daqueles do piorio que mandou professores para o car, para a mer...e outras coisas do género. Tratou mal colegas´, agrediu...Depois de levar dias de suspensão atrás de dias foi proposto,mudá-lo de escola...Fizeram todas as diligências, aliás a drel até deu o aval e o menino até tinha escola para ir, só que a mamãe colocou recurso...há 1 ano e tal. O Director fez tudo o que podia para o expulsar e o menino andou , certamente a rir-se de nós quase 2 anos lectivos e não saíu da escola. Felizmente acabou a escolaridade...estava num CEF. Que fazer?