07 fevereiro 2009

die Lorelei, ou o 25 de Abril 34 anos depois

"Ich weiss nicht, was soll es bedeuten, dass ich so traurig bin ..." assim começa o poema Die Lorelei, de Heinrich Heine, que, numa tradução livre, será qualquer coisa como "não sei o que pode significar esta tristeza...".

No meu caso terá sido a visão dos cravos, mal cheguei hoje à escola: vermelhos, omnipresentes, significado e significante afastando-se inexoravelmente.

Dói-me a memória daqueles slogans de há 34 anos, sobretudo um, tão veementemente sentido: "O Povo / unido / jamais será vencido!" - verdade inquestionável, de uma invencibilidade segura e para sempre ... "como havíamos de morrer, tão próximos, e nus, e inocentes", dizia o Eugénio de Andrade...

A 3 dias do 25 de Abril, o que resta em mim é basicamente o desencanto - que desejaria um nada: absoluto, redondo, e final. Tudo a esse sentimento de perda, à certeza de que me enganei, de que nos enganámos todos (tão próximos, e nus, e inocentes) ...

A iconografia, absolutamente oca, o que resta. Transformada em objecto turístico, comerciável. "O 25 de Abril, para mim, é nome de ponte, um feriado mais no calendário", dizem os meus alunos.

Eu, agora professora, olho para os cravos - vermelhos, omnipresentes - e tenho vontade de chorar. E tenho raiva de quem, todos os dias, fecha "as portas que Abril abriu". Tenho raiva dos oportunismos, das corrupções, da lambe-botice recompensada, do carneirismo-carreirismo militantes, da mediocridade incentivada, da inércia das nêsperas, do afã dos adesivos, das atitudes dúbias e duais, do endeusamento das aparências.


Tenho raiva de já não acreditar
que
O 25 de Abril, como o Natal, é "quando um homem quiser".
O 25 de Abril seria, para sempre
- a liberdade sem amarras, a justiça, a inteligência, a coragem recompensadas
- o pensamento correndo livre, as ideias confrontando-se sem medos, construindo utopias
- a euforia de, juntos, trabalharmos para um futuro que queríamos - críamos - melhor.
- a convicção de que, juntos, podemos transformar o mundo.

" tão próximos, e nus, e inocentes" ....


ana lima, 22 Abril 2008

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