É um livro de um escritor argentino chamado Tomás Eloy Martínez, e uma óptima ocupação para as férias da Páscoa.
De Tomás Eloy Martínez, sei apenas o que li nas badanas do romance: que actualmente é escritor residente numa universidade dos EUA, e que, em 1934, nasceu em Tucumán, a mesma terra argentina da cantora e activista política Mercedes Sosa.
Que ganhou inúmeros prémios e que publicações de grande prestígio "consideram o conjunto da sua obra como o fenómeno literário mais importante desde Cem Anos de Solidão". Sei que a sua escrita é limpa e flui, e nos conduz com prazer da primeira à última página. Que há um quê de romance policial nesta sua história, pela linguagem escorreita, despida, mas também pelo mistério que envolve personagens e lugares.
Em O Cantor de Tango, um académico americano parte para Buenos Aires numa espécie de compulsão, ou como se tivesse de cumprir um destino. Vai em busca de um cantor lendário (melhor que Gardel..), numa demanda que cruza os caminhos percorridos por J.L. Borges, as suas vivências/referências, o misterioso Aleph: objecto mítico, capaz de desvendar o futuro.
Em O Cantor de Tango, um académico americano parte para Buenos Aires numa espécie de compulsão, ou como se tivesse de cumprir um destino. Vai em busca de um cantor lendário (melhor que Gardel..), numa demanda que cruza os caminhos percorridos por J.L. Borges, as suas vivências/referências, o misterioso Aleph: objecto mítico, capaz de desvendar o futuro.
Numa espécie de busca do Graal em duplo (o cantor Julio Martel e o Aleph) , o personagem principal, Bruno Cadogan, conduz-nos através de uma cidade múltipla, enganadora e labiríntica: nas suas ruas de multiplicados nomes, nas suas memórias mais recônditas.
É uma Buenos Aires que se vai desvendando em camadas de tempo: esquinas improváveis que contam histórias de um passado de horrores que a voz única e solitária de Martel evoca e resgata do esquecimento, como que inscrevendo cruzes num mapa ferido da morte e do sangue das vítimas anónimas dos tempos da ditadura.
Mas é também a Buenos Aires dos dias e das noites conturbadas do ano de 2001, das manifestações diárias, dos sucessivos governos, do tempo da recessão económica com que a Argentina mergulhou - profunda e talvez irremediavelmente - no século XXI.
E é o retrato de uma população. Que se rebela, se redefine, se adapta: os 'portenhos' (os naturais de Buenos Aires) continuam a ler sofregamente, mas já não compram livros, como no tempo em que donas de casa adquiriam, com a mesma naturalidade, um molho de alfaces e as edições de Rayuela e dos Cem Anos de Solidão. Agora vão de livraria em livraria (que as há, a par com salões de baile, em grande número e sempre cheias), lêem um ou dois capítulos em cada uma delas .. sinal dos tempos, e o esboço dorido e no entanto resistente, das gentes de Buenos Aires, da sua cidade em convulsão.
O Cantor de Tango é um romance que se lê com o prazer das descobertas, com a excitação de quem vive a História a acontecer. Ou, como referiu o jornal The Guardian: "Um romance estimulante e pungente, com um ritmo libertador tão hipnótico como o próprio tango."
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