06 novembro 2009

e parei-me a olhar

há quem fotografe flores, se apaixone pela sua beleza delicada. eu é de nuvens que gosto. enternece-me a sua fugacidade, a sua quase inexistência: passa um minuto e aquela nuvem é já outra nuvem, outras as tonalidades, os contornos, o espaço em volta

gosto de nuvens, sobretudo nos limites dos dias. acordo e elas estão lá, tingindo-se do sol que nasce. olho-as como se dissesse nuvem, ou como se dissesse mãe. extasio-me com a sua luz, o movimento, o devir constante. viajantes na minha manhã. e eu, única, olhando-as

lembro-me de um dia, há muitos anos, era verão. estava a 20 metros da escola e não fui. por cima da ponte parei-me * a olhar o céu,  vermelho como só nalguns fins de tarde. olhava e extasiava-me, olhava e imbuía-me de luz beleza arte. olhava e era um fogo que me prendia, me encandeava. eu em duplo no cimo da ponte. eu já muito grávida, só sentidos, ebulição. eu ali parada,  guardando em nós o instante irrepetível daquele céu.

as minhas nuvens hoje, rumando ao mar

* é o José Luís Peixoto que assim usa este verbo - aqui, só podia tê-lo deste modo, reflexivo, estático, pregado ao chão

3 comentários:

Belga disse...

Minha irmã, a poeta do quotidiano.
Ainda por cima bela.
Orgulho-me de ser teu irmão.

AL disse...

obrigada, chéri!

finalmente vieste cá ver!! :-))

tb me orgulho de ser tua irmã.* * *

Em@ disse...

e eu também adorei!
lindas as 4! :)