22 setembro 2011

este dorido estar Professor, hoje

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alguns dos comentários que me chegaram ao post 'perder a alma' .. que tomo a liberdade de colocar aqui e que actualizo todos os dias, a cada novo que vem .. 
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«Tudo o que dizes é a verdade nua e crua... a nossa vida de professores atingiu o nadir... e como me dói a tua dor... entendo perfeitamente que queiras fugir e que o faças efectivamente... eu também gostaria, porém tenho apenas metade do teu tempo de serviço... portanto, a minha almejada "liberdade" está a anos-luz de ser atingida... mas fico feliz por/se a conseguires já...»
Um forte abraço solidário, do colega José Couto
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«como te compreendo!!! este ano sou, pela 1ª vez desde 1994, diretor de turma. o inquérito de caraterização, para voltar a 'conhecer' os mesmos alunos que conhecia no ano passado, a extrema burocracia - planos de acompanhamento, de recuperação, de turma, de PESES, de reuniões de pais... Ando há 1 semana a tentar ter tempo para organizar uma visita de estudo com os meus miúdos do surf, que andam entusiasmadíssimos. tenho as minhas colegas da física a pedir ideias para o nosso clube recém criado onde trabalho probono. mas chego a casa, trato dos miúdos e estou estoirado. deito-me. não leio, não pesquiso, não planeio. apenas durmo. para no dia seguinte voltar a ter de pensar no mesmo. este está a ser o ano mais complicado e desmotivante desde há muitos anos. e não quero senti-lo assim... adoro dar aulas, adoro os meus alunos, crescer com eles, sair com eles, planificar com e para eles. mas este ano está a ser difícil... ainda não posso pedir reforma antecipada mas, pela 1ª vez desde que sou professor, sinto que talvez não me importasse de ser outra coisa qualquer...» -  Carlos Milho
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«Podemos perder muita coisa, mas a alma... não! Podem deitar-nos abaixo, mas abater-nos, não! Por isso levanta a cabeça e segue em frente. Tenho 57 anos, 34 de serviço, fiz tudo o que havia para fazer numa escola e desde Dezembro que espero a reforma. Agora gozo a liberdade de querer sair, de ir embora, de dizer 'Não quero mais'. Afinal, estamos vivas!»  - Judite
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Obrigada, queridos amigos, pela solidariedade, as palavras de apoio, o vosso carinho..
Sei que somos muitos neste 'barco'.. acho que soçobra quem, precisamente, se dedicou/dedica de alma e coração, quem está na escola pelos alunos, quem leva a profissão a sério e a vê tão adulterada.
Não sei se vos falta o ar como a mim, agora, todos os dias.
Ontem, ao sair da escola, deixei positivamente que uma carrinha me batesse no carro. Vi-a fazer marcha atrás, eu ali parada sem ter por onde escapar. Esperei que o condutor se desse conta, fui incapaz de reagir, apitar. Bateu-me. Fui-me embora sem reclamar nada, desimportando-me da amolgadela, do espelho torcido.
Tudo o que queria era fugir dali, encontrar um refúgio.

Assim estou, mais morta que viva. E não sei se ainda vou a tempo de recuperar a alma.. – Ana Lima

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«Também estou contigo! Compreendo-te perfeitamente! Também eu era uma professora empenhada e apaixonada pelo que fazia até há seis anos atrás.» (antes de MLR) - Júlia

dying slowly - Tindersticks

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«Uma pequena correcção, sem qualquer "parti pris", não foi o Passos Coelho que cortou, a si como a mim, dos tais "chorudos" 2000 euros líquidos para os actuais 1800, foi ainda o outro "Pinóquio". Ocorreu a partir de Janeiro de 2011 e as eleições foram só em Junho. Pode ser é que não fique por aqui.
Tudo o mais, na "mouche" - e damos connosco a colaborar neste massacre suicidário.»  - António J. F.
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Tem razão, António, foi ainda o outro pinóquio, lapso meu .. O actual, para além de metade do 13º mês, cortou-nos outra coisa, talvez mais importante: cortou-nos a esperança de que alguma coisa poderia mudar, com as suas colagens a SC, as suas promessas vãs em tempos de oposição. E 'corta-nos' tudo este ministro de opereta - que mantém o insustentável, que à 3ª desdiz o que na 2ª afirmou, sem um mínimo vislumbre de como 'agir Educação' .. E é verdade, somos todos cúmplices: comemos e comemos e calamos e tudo aceitamos - até ao estrebuchar final, 'sem apelo e sem agravo' - AL
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    via e-mail:
    «Olá Ana, como te compreendo. Fiz um comentário para o teu blog mas não foi publicado, talvez porque não assinei...
    Tb tenho 56 anos e estou saindo com um grande corte, pois entreguei o pedido em Dezembro. Estou mesmo quase a sair. Não dá para aguentar, e é revoltante fazerem-nos sair de rastos.
    Beijos, amiga. E cuida de ti o melhor possível, sem qualquer remorso. O que já ofereceste de ti à escola e aos alunos ao longo de tantos anos, para além do que era devido, dá-te o direito de procederes agora de modo a proteger a tua saúde, mental e física, através de alguns períodos de baixa ou o que for necessário e possível.»
    Um grande abraço. Eduarda

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    com. deixado no FB:
    «Tenho 62 anos e também estou de saída. Não pela minha vontade. Quando iniciei, era para ir até ao topo e ao limite da idade. Assim, com penalização, sinto que saio pela porta do cavalo. Desiludido, desencantado, defraudado e acima de tudo enganado, compelido e descartado.» - Reinaldo A.

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