23 abril 2010

antes que acabe o dia..

Ouvi-o hoje duas vezes, uma delas a propósito do concurso de professores: este governo não é pessoa de bem.
Novidade? Nenhuma. Só o registo da tardi-érrima conclusão.
Que este, o anterior governo, quase todos os governos, a bem dizer, não são pessoa de bem e agem de má fé é um dado mais do que adquirido. Que os políticos (quase) todos se estão bem marimbando para outros interesses que não os próprios, quase uma la-palissade. Que o digam os professores, e é só um exemplo.
Pois hoje insurgia-se na rádio (assim a modos que incrédulo - e eu pergunto-me como pode, tanta ingenuidade, tanta cegueira - tanta fita?) - insurgia-se então um qualquer senhor do PSD  contra a inconstitucionalidade de se alterarem as regras do jogo a meio do processo (pois, deixa-me rir, que  grande novidade ! ou ainda não conhecem o engenheiro??) desta feita a propósito da tributação de mais valias bolsistas. Ah, os 'grandes grupos' não são abrangidos pela manobra, óbvio!- e nada de novo. Apenas mais uma entre milhentas ilegalidades, dispiciendas de tão corriqueiras.
Algum espanto? Nenhum. Só mesmo ouvir Cavaco Silva a exortar à esperança (oh por favor!!) - e no futuro, esclarece ele. Mas qual esperança, qual futuro?
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E o 25 de Abril aí às portas, mais uma vez. As previsíveis comemorações ocas de sentido,  e as palavras caindo, quando haviam de queimar. Palavras desvirtuadas, o significante totalmente outro. Palavras conspurcadas por bocas que não deveriam ousá-las.  
Ousar .. lutar, ousar vencer, um slogan que de repente me vem à memória como uma frase batida.
Vazia.
E eu que ontem voltei a ver Os Capitães de Abril dessa Maria irmã da Inês, tão alheia uma a tudo o que filmou e o que disse e que pensou a outra. Eu e uma turma de 10.º. Os alunos silenciosos, suspensos da alheia história, daquelas imagens impossíveis, eu falando-lhes em off, contando-lhes de como foi  assim mesmo tudo quanto aos dezoito anos vivi senti sonhei.. Eu não me contendo de chorar,  cenas que me desfazem, acontece-me sempre que vejo o filme. As lágrimas são as minhas mas o choro não é meu, qualquer coisa assim disse o António Gedeão. Choro por mim e por nós todos que acreditámos. E choro pelo muito, pelo absolutamente tudo que foi desbaratado, por essa esperança morta, pelo futuro desfeito, malsonhado. Choro de raiva  impotência saudade e crescem-me ímpetos assassinos. Pudesse - ousasse - eu, e mataria quem matou Abril. Depois penso, para quê? Outros virão e serão iguais, oportunistas, mentirosos, matadores da esperança.
Não há tempo para o sonho, e pelo sonho tenho ido tantas vezes.
Agora não. Agora nada.
E quero esquecer esse mês, e passarei esse dia sem festas  e sem emoção, sem canções de luta.
Abril, que seja outro. Um que venha e valha. E pode ser de madrugada.
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10 comentários:

Em@ disse...

Abril, que seja outro. Um que venha e que valha. E pode ser de madrugada. ou a outra hora qualquer, desde que venha, desde que valha.
beijo , Al

AL disse...

.. desde que venha..
bjis, Em@, Amiga..

Margarida Alegria disse...

Ânimo, amiga!
É tudo como dizes, mas não te desgastes em lágrimas, que esses "assassinos de Abril" não querem saber.Seguem sempre em frente com o mesmo descaramento.Só quem te quer bem é que fica preocupada.
Mas lembra-te que, como Pandora, temos sempre guardada a Esperança no fundo da caixa.
Um grande xi-coração
Margarida

AL disse...

sei disso tudo, Amiga, mas que queres? - pieguices e essa memória tão viva, e q me dói..
obrigada por me 'quereres bem'! :-)

jose lima disse...

Tu com 18 eu com 29.
Tu sem ires à guerra do ultramar lutar por Portugal(a mando).
Tu rica que tens muitos alunos a quem podes dar conhecimento e esperança.
T u com essa desiluzão pós 25/4.
Eu sou muito mais rico,porque tenho uma desiluzão MUUUUUUUUUito mais maior grande.
Mas também tenho um imenso abraço para te dar.......(SEMPRE)

AB disse...

Enquanto Abril viver em nós, pode ser lembrado, cantado ou chorado, que resistirá sempre a esperança de um dia se cumprir. Eu acredito, desde que não o deixemos morrer, desde que espalhemos o cheiro e cor dos cravos pelos corações dos mais pequenos. Um dia eles vão trazer um Abril Novo de novo!
Bjs
AidaB

Um Belga disse...

Que post mais derrotista, mais parvo!
Se bem que te entenda, para mim o 25 de Abril vai ser sempre.
E nem me chateia que tenha sido enganado, falseado, vendido.
Eu vivi-o. Nem que fosse só por mim, 25 de Abril, sempre! (parabéns ao PCP
por este maravilhoso slogan).
E, por favor, não confundas Marias com inesesitas! Tens alguma coisa contra a Maria? Eu amo uma, a outra... que vá para Paris e lá fique, não faz grande falta por cá... E ficava mais barata.

AL disse...

nem grande nem pequena, não faz por cá falta absolutamente nenhuma. e tens razão, confundi-as, indesculpável.

Anónimo disse...

É muito bonito o teu texto.
Gostei, até aos olhos molhados…
Mas não podemos ficar a chorar…
Há que fazer alguma coisa!
A democracia tb tem que ser económica e social!

Um beijo grande
I

AL disse...

obrigada, Amigo.
...
só um esclarecimento:
não fiquei propriamente a chorar ..
chorei quando, pele enésima vez, vi aquele filme. acontece-me sempre, q querem?
.
razões para chorar acho que temos muitas, sim, sejam as lágrimas reais ou não, mas eu ..não me fico pelo carpir. e pode ser derrotista o post, parvo, o que seja. o facto é que está aí e vocês vieram...
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verbalizo o pessimismo
mas não sou uma pessimista,
apenas liberto espaços
em mim.