24 maio 2010

M de mulher

o poema (coisa bonita!) chamava-se 'joelho' . perguntou-me: gostas da poesia dela? - a poesia dela .. versos que assim me visitam como bocas, beijos, mãos, um  odor quase.  palavras percorrendo-me, e a memória incendiada do meu corpo - a poesia dela .. e eu, inexplicavelmente, por tanto tempo desapercebendo-lhe o fascínio imensono more.

Maria Teresa Horta , poeta, romancista, activista, Mulher.

entrevista do Portal da Literatura :

 .
PL : O erotismo é uma marca da sua poesia. A emancipação da mulher, uma outra. (...)
 .
MTH : Primeiro, não gosto de falar de emancipação da mulher e sim de libertação. Segundo, acho que não há esse lado na minha poesia, o que existe é uma escrita veementemente feminina, uma desobediência, uma audácia desde sempre interdita às escritoras, às poetisas. E como a minha poesia sou eu, ou se quiser, eu sou aquilo que escrevo, e sou feminista, é natural que o feminismo faça parte, de uma forma subjacente, de todo o meu trajecto poético, mas nunca de forma panfletária, primariamente militante.   -  ler mais
  .
Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa e fez a sua estreia no campo da poe­sia em 1960, com um livro de poemas cujo título é premonitório: Espelho Inicial. Jornalista de profis­são, o seu nome começa por ser associado ao grupo da «Poesia 61». Mas, a partir de 1971, devido ao escândalo que envolveu a publicação das Novas Cartas Portuguesas, de que foi co-autora, e ao processo judicial que se lhe seguiu, passa a ser vista como um expoente do feminismo em Portugal.

A sua luta pelos direitos das mulheres é inseparável de uma carreira literária muitas vezes afectada, positiva ou negativamente, pelo seu posicionamento ético. No entanto, e apesar da intransigên­cia das suas convicções, a escritora não se reconhece na imagem estereotipada da «feminista militante»: «Eu sou precisamente o contrário do que as pessoas imaginam das mulheres feministas» (Pública, 208, 21.5.00). fonte


    INCÊNDIO

    Tu acendes a chama
    do meu corpo
    pões a lenha ao fundo
    em sítio seco

    Procuras no desejo
    o ponto certo
    e convocas aí
    o lume aberto

    Se a madeira demora
    a ganhar fogo
    tomas-me as pernas
    e deitas lento o vinho

    Riscas os fósforos todos
    e depois
    é mais um incêndio
    que adivinho

    *

    A VOZ

    Da tua voz
    o corpo
    o tempo já vencido

    os dedos que me
    vogam
    nos cabelos

    e os lábios que me
    roçam pela boca
    nesta mansa tontura
    em nunca tê-los...

    Meu amor
    que quartos na memória
    não ocupamos nós
    se não partimos...

    Mas porque assim te invento
    e já te troco as horas
    vou passando dos teus braços
    que não sei
    para o vácuo em que me deixas
    se demoras
    nesta mansa certeza que não vens.


    mais poemas aqui
    .

    2 comentários:

    Luísa M. disse...

    lindos, os poemas!
    obrigada por partilhares!

    Luísa

    sílvia disse...

    Eu gosto! Gosto muito da poesia "dela".
    Beijos Ana