no jornal Público de hoje :
Geração perdida. A expressão, amarga, integral, acaba de ser usada no Reino Unido para encaixar quem tem agora entre 16 e 25 anos.
Com a recessão, por ser tão difícil encontrar emprego e segurá-lo, uma geração inteira está desesperançada. Se o país não responder, toda ela se perderá, avisam os autores desse estudo (...)
O fenómeno é bem conhecido, diz Virgínia Ferreira, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: "Ao lado, em Espanha, chamam-lhes os mileuristas. Aqui, ficamos pela metade, pelos 500 euros."
Havia (...) "uma empregabilidade relacionada com a aprendizagem". Os alunos tentavam seguir o gosto, a vocação. (...) Agora, "a grande preocupação é se o curso tem ou não saída." (...)
Nem só os universitários vivem a calamidade. Os menos qualificados também - todos os dias, empresas a falir, fábricas a fechar portas. A transição do mundo juvenil para o mundo adulto alterou-se. Os jovens deixam-se estar em casa dos pais, adiam compromissos - como comprar casa ou constituir família. Por toda a parte se vê desejar um trabalho precário. Não aquele em vez de outro: aquele porque não há outro.
(...) Sofia Marques da Silva, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, recusa o epíteto 'perdida', mas está convencida de que "esta geração tem muita dificuldade em ter uma cultura de projecto - em imaginar o que vai fazer num tempo que ainda não existe". Fixa no presente o sentido dos dias e isso parece-lhe perigoso: "Alguém que não imagina etapas na sua vida, às vezes, só quer usufruir rapidamente momentos, sensações". Não fala em revolta, como se viu noutros países europeus. Fala de ingresso na criminalidade, por exemplo.
Elísio Estanque (...) observa alheamento e inquieta-se com a saúde da democracia. Não só por o sistema não funcionar sem uma base de participação eleitoral. Também por ser importante haver associações para o olear. E existir "pouca disponibilidade dos jovens para participar: condiciona-os o medo".
"Impera uma docilidade que é assustadora (...) As empresas olham para estes jovens como dóceis. Aceitam tudo."
Em baixo, excertos de dois comentários que se lhe seguiam:
Opinião de um adolescente de 17 anos
(...) há toda uma inércia a movimentar os adolescentes (...). Não têm sentido crítico, não estão actualizados sobre nada, podiam viver facilmente numa ditadura que só se aperceberiam disso se lhes proibissem o telemóvel, o mp3 e o computador. (...)
..(...) a responsabilidade /.../ é do facilitismo instalado há muitos anos no sistema educativo. É dos pais que se demitem da educação dos filhos ... que pagam para que eles não os aborreçam. (...)
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