A poesia é vida? Pois claro!
Conforme a vida que se tem o verso vem
-e se a vida é vidinha, já não há poesia
que resista. O mais é literatura
libertinura, pegas no paleio;
o mais é isto: o tolo dum poeta
a beber, dia a dia, a bica preta,
convencido de si, do seu recheio......
A poesia é a vida ? Pois claro!
Embora custe caro, muito caro, e a morte se meta de permeio.
Alexandre O'Neill
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14 setembro 2011
23 julho 2011
Poema Pouco Original do Medo
.
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
.
de Alexandre O'Neill
de J.Jean, 'intervencionado' |
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
.
08 julho 2011
do O'Neill
30 outubro 2010
— Alexandre, leva o chapéu de chuva.
— Alexandre, leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, pai. Não chove.
— Chove. Leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, Pai.
— Já te disse para levares o guarda-chuva.
— Não levo o guarda-chuva e nunca mais cá apareço...
* a ler, mesmo!! - aqui
Perfilados de Medo :
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...
foto e poema retirados de uma página que vale a pena! :
lacricrimejante
ou vociferante
ao cri-cri da crítica.
Abaixo a política!
Antes a poesia,
que é coisa mais séria.
Seria?
(retirado daqui - onde há mais poemas do O'Neill ..)
— Não é preciso, pai. Não chove.
— Chove. Leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, Pai.
— Já te disse para levares o guarda-chuva.
— Não levo o guarda-chuva e nunca mais cá apareço...
.
Esteve 16 anos sem ver o pai e passou a dividir um atelier numas águas-furtadas de um prédio antigo, na Avenida da Liberdade, com Cesariny e António Domingues.
Esteve 16 anos sem ver o pai e passou a dividir um atelier numas águas-furtadas de um prédio antigo, na Avenida da Liberdade, com Cesariny e António Domingues.
o diálogo, o desenlace, tudo excertos da Biografia * de Alexandre O'Neill, que começa assim:
«Lisboeta com nome de aristocrata irlandês, Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões nasceu a 19 de Dezembro de 1924, na Avenida Fontes Pereira de Melo. (...) »

do homem que achava que a poesia seria mais séria que a política **, um poema que podia ter sido escrito hoje:
Perfilados de Medo :
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...
foto e poema retirados de uma página que vale a pena! :
.
**
Crocodiletante**
lacricrimejante
ou vociferante
ao cri-cri da crítica.
Abaixo a política!
Antes a poesia,
que é coisa mais séria.
Seria?
(retirado daqui - onde há mais poemas do O'Neill ..)
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