a paisagem exterior-mente, Cruzeiro Seixas |
um ano que acaba - mal. que ameaça perspectivar-se assim eterno, futuro. negro de cenizas e desesperança, obscuro, tenso.
não me apetecem balanços, relembrar desacontecimentos - políticos, sociais. passar-lhes ao lado como por ignorá-los, fazê-los desexistir por omiti-los.
contra o que foi e o que -inapelavelmente?- será, busco socorro nas vozes dos poetas, desses cantores de ontem. as razões, as de sempre. tão prementes, tão actuais, tão aparentemente inócuas, agora.
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.
Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
Apetece morrer,mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.
Miguel Torga (aqui)
*
mudam-se os tempos - Luís de Camões, José Mário Branco
*
eu vi este povo a lutar, José Mário Branco
*
O LUGAR DA CASA
Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
Cruzeiro Seixas |
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
Eugénio de Andrade (aqui)
*
que força é essa, Sérgio Godinho
*
e sobre os tempos da guerra civil espanhola,
A galopar - Paco Ibáñez y Rafael Alberti
Concierto en el teatro Alcalá de Madrid en mayo de 1991.
GALOPE
Las tierras, las tierras, las tierras de España,
las grandes, las solas, desiertas llanuras.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
al sol y a la luna.
¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!
A corazón suenan, resuenan, resuenan
las tierras de España, en las herraduras.
Galopa, jinete del pueblo,
caballo cuatralbo,
caballo de espuma.
¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!
Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie;
que es nadie la muerte si va en tu montura.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
que la tierra es tuya.
¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!
.
Ponerle voz e ponerle rabia también !
.
¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!
¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!
Sem comentários:
Enviar um comentário