Todos demos conta. Nos últimos dias registaram-se na escola onde trabalho (margem sul) confrontos violentos, quer dentro do recinto (entre alunos da escola), quer junto ao portão, às horas de saída do fim da manhã e da tarde, com grupos de outros jovens (de 'fora') que aqui se deslocam para defender amigos ou compatriotas, marcar territórios, definir lideranças.
As 'fights' já de há muito por aqui tinham ganho estatuto de atracção circense, a excitação incontida do maralhal correndo desenfreado para o centro da acção, quem primeiro chega ganha as melhores posições, ninguém está disposto a perder pitada do espectáculo.
Os contendores são elevados à categoria de heróis que, não querendo desmerecer desse lugar cimeiro no pódio de fama e respeito que parecem infundir entre os seus pares, periodicamente proporcionam mais uma cena de crescente violência a que todos assistem deliciados, onde ninguém ousa intervir (dir-se-ia que uma qualquer intromissão, por parte de um funcionário ou um professor, seria até muito mal vista - para além de plena de riscos..) , e que invariavelmente implica a chegada tardia da polícia, que, acabada a contenda, mais não pode fazer senão tomar conta da ocorrência, registar os despojos de mais uma batalha desta guerra juvenil para a qual parece não haver solução.
Não sei o que acontece depois aos jovens brigões: se são chamados à Direcção da escola, alvo de processo disciplinar, objecto de investigação criminal ou judicial.. o que penso, realmente, é que eles deviam ser sujeitos a uma qualquer acção, de carácter pedagógico e/ou punitivo. Assistir impassível a este crescendo de violência e olhar para o lado é que não me parece ser, de todo, o caminho a seguir.
O problema tem de ser assumido (a meu ver urgentemente), as causas identificadas, as soluções discutidas. É uma questão que diz respeito à escola, mas também, indubitavelmente, à sociedade, que não pode deixar de considerar novos contornos, as especificidades decorrentes dos fluxos de emigração dos últimos anos. As lutas em que os nossos jovens recorrentemente se envolvem terão causas diversas, mas, de um modo ou outro, sempre acabam por traduzir-se num confronto entre 'gangs' cujos membros se identificam pela cor da pele ou a nacionalidade de origem.
Trata-se de uma questão social que deveria preocupar e envolver, não só a comunidade escolar, nomeadamente a Associação de Estudantes, como todos os sectores - autárquicos, cívicos etc a ela ligados: Associação de Pais, Junta de Freguesia, Câmara Municipal, comerciantes da zona - tudo, de resto, entidades que integram órgãos consultores ou decisores da Escola, decorrentes do novo modelo de gestão.
Trata-se, também, de uma questão política, ligada à integração dos imigrantes e às opções de justiça e solidariedade social, para com antigos e novos residentes, que deveria preocupar e merecer o empenho de todos, do Presidente da República ao Governo, passando pela Assembleia da República..
a imagem é um pormenor de um quadro de Picasso
4 comentários:
Sózinha e pequena no meio da multidão , não consigo intervir . Assisto como tantos outros ao negro cenário dessa violência ou oiço o que me contam os alunos.
É verdade que cada vez mais ocorrem casos isolados, mas mesmo querendo mudar esse panorama, nem a um psicólogo podia recorrer,pois essa figura não existe na escola.
Penso que tudo isto ,é fruto de uma sociedade de pais ausentes,bairros sem identidade,jovens sem referências e políticos sem soluções!
Ana, acho que tens imensa razão e isto assim não pode continuar, já que é mau para todos nós, enquanto cidadãos deste país.
A imigração é um problema que o PS, José Sócrates, tem ignorado propositadamente.
A violência nas escolas não é um problema novo, mas o que me parece, é que ninguém, do anterior governo e deste, querem ou/e sabem resolver.
Esperemos para ver se este ME, em conjunto com as autarquias e comunidade, o vão fazer. No entanto tenho as minhas sérias dúvidas...
Beijinhos e um bom fds
É isso mesmo... A imigração sem a devida integração social, a confinação a guettos na maior parte dos casos, a alternativa destrutiva socialmente dos bairros sociais... Tudo isso vai mexer no desenvolvimento de uma criança que, eventualmente, segundo o ambiente em que viveu, se irá, provavelmente, tornar num jovem violento e num bully, juntando-se a gangs e destruindo espiralmente a sua vida... Na Gedeão sempre se verificaram essas situações de violência, mas sempre em casos pontuais. Um amigo meu que está ainda por aí já me tinha falado dessa violência diária e da fraquíssima mobilização de meios que é feita. A esses jovens deveriam ser tomadas medidas urgentes (íssimas!) de reinserção social, quer através da autarquia (Câmara e Junta), quer através do maior patrocínio da Associação de Estudantes (que, quer seja por cortes no orçamento, quer seja por preguiça dos gestores escolares, a voz que tem no meio da Gedeão é inexistente... Só nos lembrávamos que existia tal coisa como uma AE na altura das eleições, com aqueles espectáculos para inglês ver...), com a promoção de actividades, onde não pode haver uma discriminação nem "guettização", ou seja, não pode haver a separação entre os "betinhos" e os "chungas". NA apresentação que foi feita no primeiro dia do meu curso foi lá um mestre de judo falar precisamente acerca disso: que, desde a primária, ele dá judo em centros comunitários onde aparece toda a gente. Dizia ele que teve a alegria de ver grandes amizades nascer no seio dessas aulas de judo, entre os riquinhos e os pobres. São precisas actividades como esta, mas não uma ou duas: dezenas por autarquia, milhares pelo país. O conto já é antigo, mas é verdade que nada é feito por preguiça das "autoridades competentes"...
olá Tiago,
que bom ver-te por aqui de novo!!
estás a gostar do curso?
vai dando notícias, gosto de saber de ti..
bjis,
ana
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