28 outubro 2009

pus o meu sonho num navio

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colora as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


5 comentários:

Em@ disse...

Gosto da Cecília Meireles!
É bom lê-la aqui.

Beijinho

Margarida Alegria disse...

Um dos meus favoritos deCecília Meireles. Poema por vezes esquecido de uma autora tantas vezes ignorada.

Valerie disse...

Lindíssimo!

Eternizado pela Amália no fado "Naufrágio" com música de Alain Oulman

http://www.youtube.com/watch?v=U_al0iIdI7U

AL disse...

encontrei estas duas versões de que gosto mais, sbt da 2ª

Naufragio (fado), por Mª de Fátima
http://www.youtube.com/watch?v=iQCk7VXqQO4


Naufragio (fado) live, at Stallet, Stockholm 2008:
http://www.youtube.com/watch?v=9rvlnArTjIw

acho é pena que o fado não inclua a última quadra..

Zorze disse...

Belíssimo poema de Cecília Meireles.
Tem uma dureza escondida e uma quebra de esperança latente.
Talvez, porque a realidade, ser sem sombra de dúvida, um quebra-cabeças, sem precisar da ajuda de um quebra-"nozes".
O sonho, pode ser um pesadelo disfarçado, ou porque não, uma projecção da consciência, uma saída do corpo.

Quem sabe?

Beijos,
Zorze