e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colora as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
5 comentários:
Gosto da Cecília Meireles!
É bom lê-la aqui.
Beijinho
Um dos meus favoritos deCecília Meireles. Poema por vezes esquecido de uma autora tantas vezes ignorada.
Lindíssimo!
Eternizado pela Amália no fado "Naufrágio" com música de Alain Oulman
http://www.youtube.com/watch?v=U_al0iIdI7U
encontrei estas duas versões de que gosto mais, sbt da 2ª
Naufragio (fado), por Mª de Fátima
http://www.youtube.com/watch?v=iQCk7VXqQO4
Naufragio (fado) live, at Stallet, Stockholm 2008:
http://www.youtube.com/watch?v=9rvlnArTjIw
acho é pena que o fado não inclua a última quadra..
Belíssimo poema de Cecília Meireles.
Tem uma dureza escondida e uma quebra de esperança latente.
Talvez, porque a realidade, ser sem sombra de dúvida, um quebra-cabeças, sem precisar da ajuda de um quebra-"nozes".
O sonho, pode ser um pesadelo disfarçado, ou porque não, uma projecção da consciência, uma saída do corpo.
Quem sabe?
Beijos,
Zorze
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