14 junho 2009

Contra A Avaliação Dos Docentes Enquanto Mistificação

post de Paulo Guinote no Umbigo:

Esta é a declaração de uma intenção tomada em consciência e coerência com as atitudes e posições por nós assumidas num passado recente. Não é um apelo a um qualquer movimento de desobediência civil, nem o seu contrário, assim como também não é uma recusa em nos submetermos à avaliação da qualidade do nosso desempenho enquanto docentes.

É apenas a manifestação pública da impossibilidade, de acordo com princípios de coerência e responsabilidade de que nos orgulhamos, de aceitarmos seguir as directrizes de um modelo de avaliação do nosso desempenho que de forma alguma cumpre os objectivos afirmados pela tutela, em particular no regime simplificado em vigor, de constitucionalidade duvidosa e escassa qualidade técnica.

Em conformidade com posições adoptadas por todos nós em momentos anteriores, os subscritores desta declaração afirmam a sua indisponibilidade para entregar a ficha de auto-avaliação nos moldes predeterminados pelo Ministério da Educação.

Esta posição implica rejeitar a transformação do biénio 2007-09 numa pseudo-avaliação com base em objectivos definidos entre três a cinco meses do final das actividades lectivas deste período. Esta atitude significa a recusa frontal em participar de forma activa numa mistificação pública cujo objectivo é fazer passar por verdadeira uma avaliação falseada do mérito profissional dos docentes, mistificação esta que sabemos ter objectivos meramente eleitoralistas mas que terá consequências profundamente negativas para a qualidade da educação em Portugal.

Estamos conscientes das potenciais consequências da nossa tomada de posição, nomeadamente quanto à ameaça da não progressão na carreira por um período de dois anos lectivos, assim como de um eventual procedimento disciplinar que todos contestaremos em seu devido tempo. Esta é uma atitude cujas implicações apenas recaem sobre nós, estando todos preparados para continuar a lutar pela demonstração da ilegalidade do regime da chamada avaliação simplex.

Estamos ainda conscientes de algumas críticas que nos serão dirigidas de diversos quadrantes. Todas elas serão bem-vindas, venham de onde vierem, desde que se baseiem em argumentos e não em meras qualificações destituídas de conteúdo.

Aos que nos queiram apontar que não compete a cada cidadão definir a forma de cumprimento das leis que se lhe aplicam, poderíamos evocar o artigo 21º da Constituição da República Portuguesa, mas bastará sublinhar o que acima ficou explicitado sobre a forma como encaramos as consequências dos nossos actos. A todos os que considerarem que esta é uma radicalização excessiva do nosso conflito com o Ministério da Educação reafirmamos que o fazemos em consciência e coerência com os nossos princípios éticos, sem calculismos ou outros oportunismos de circunstância.

Por último, salientamos que esta declaração não é um apelo a qualquer tomada de posição semelhante por ninguém, mas tão-só a afirmação da nossa. Não podemos, porém, deixar de constatar que a força de qualquer atitude é tão mais poderosa quanto consciente e esclarecida a convicção de quem a toma.


Ana Mendes da Silva (Esc. Sec. da Amadora), Armanda Sousa, (Esc. Sec./3 de Felgueiras) Fátima Freitas (Esc. Sec. António Sérgio, Porto), Helena Bastos (EB 2/3 Pintor Almada Negreiros, Lisboa), Maria José Simas (Esc. Sec. D. João II, Setúbal), Mário Machaqueiro (Esc. Secundária de Caneças), Maurício de Brito (Esc. Sec. Ponte de Lima), Paulo Guinote (EB 2/3 Mouzinho da Silveira, B. Banheira) Paulo Prudêncio (EBI Santo Onofre, Caldas da Rainha), Pedro Castro (Esc. Sec. Maia), Ricardo Silva (EB 2/3 D. Carlos I, Sintra), Rosa Medina de Sousa (Esc. Sec. José Saramago, Mafra) e Teodoro Manuel (Esc. Sec. Moita).

Público, 13 de Junho de 2009



distraí-me, esta onda passou-me ao lado..
ontem recebi por mail a notícia, o texto. era tarde e eu cansada.

hoje fui ver o post do Paulo. li atentamente a ‘declaração de uma intenção tomada em consciência e coerência’.
senti um imenso orgulho, e ternura, pelos signatários. a primeira coisa q pensei foi que tb gostaria de ter assinado, apesar de todas as dúvidas que me têm assaltado em relação ao cumprimento, ou não, da ‘lei’.

depois li os comentários .. muitos deles deram-me força, ajudaram-me a clarificar ideias.

o que eu acho/ sinto em relação a isto tudo:

- a opção de não entregar a FAA, ainda q possa não levar ‘a lado nenhum’, é uma forma de não compactuar com esta fantochada.

-tornar pública essa posição é o modo de mostrar – a quem quiser ver – que são mentirosas as conclusões do ME, de que tudo vai bem no reino da palhaçada.

- a coerência, neste caso, é ‘uma bandeira q se transforma em lenço’? – pode ser. a luta não se ganha com a resistência de uns poucos? – verdade. não posso é ir contra a minha consciência.

quando vierem as penalizações, eu quero estar junto dos que, do seu lado, têm, apenas, a força da razão. que da coerência fazem uma bandeira, e desfraldada.

quando confirmo, pelas últimas declarações dos secretários de estado, a arrogância, a prepotência, a cegueira e a estupidez deste (des)governo, acabam-se-me definitivamente as dúvidas:

NÃO ENTREGO. NADA de NADA.

E gostava de subscrever, publicamente, o corajoso documento dos "13 magníficos"!


.. roubando a citação da Fátima: "Quase tudo o que fizermos será insignificante, mas é muito importante que o façamos!" - Gandhi

2 comentários:

Anónimo disse...

... e isto é apenas o início de algo que vai ser muito falado...
Isto é que é demonstrar fibra!

João Francisco

Anabela Magalhães disse...

Levei a tua posição para o blogue.
Beijinho