- Atendendo às dificuldades das famílias para que pais e filhos se encontrem, que não seja para dormirem sob o mesmo tecto (é esta a nova definição de família),
- atendendo à necessidade dos pais obterem rendimentos que permitam um “nível de vida adequado aos tempos modernos”, trabalhando mais e mais horas em empregos quantas vezes instáveis,
- atendendo ainda ao tipo de vida que criámos nas cidades, em que nos levantamos com o sol e chegamos a casa depois dele se ter deitado, consumindo três e quatro horas em transportes que vão furando por entre um caótico trânsito,
- atendendo às exigências e às dificuldades que hoje representa a educação de uma criança e de um jovem,
… claro que os pais têm toda a razão e, por isso, o Ministério da Educação, que existe também para lhes agradar, também tem.
- Além de se poderem apoiar os pais de um modo muito mais consistente e continuado, sem quebras de ritmo, podendo a escola finalmente incluir no seu currículo as tão proclamadas educação do consumidor, educação sexual, educação do consumo, educação da saúde, educação da autoridade (há tanta falta dela!), educação rodoviária, educação ambiental, educação para os media, educação para a sustentabilidade, educação para a paz, educação para as artes, e tantas outras e tão necessárias educações, sem atropelos desnecessários,
- além disso, os pais também poderão ganhar a sua vida à vontade, passear e descansar do cansaço do trabalho permanente, constituir novas e renovadas famílias sempre que necessário, além de deixar de ser problemática a perda de quatro ou cinco horas diárias nos trajectos casa-empregos-casa.
Ao Estado, como é óbvio, esta pretensão dos pais vem de encontro a um velho desejo de se transformar na grande oportunidade social educadora de todos os cidadãos, sem favorecer as desigualdades sociais, acolhendo todos, sem excepção, 24 horas por dia. Finalmente, alcança-se a tão almejada igualdade de oportunidades, ricos e pobres poderão ter, de uma vez por todas (como gostamos desta expressão!), acesso à mesma educação de qualidade, garantida pelo Estado. Podemos dizer que as escolas, aí sim, serão instituições verdadeiramente educadoras e capazes, melhor, totalmente capazes.
- Famílias não haverá (e para que é que deveria haver, se os pais não ligam nada aos filhos e os filhos aos pais, se as famílias se fazem e desfazem ao ritmo dos bonecos de neve),
- os empregos serão cada vez mais precários, incertos e mal pagos (e para quê ser diferente se podemos agora combinar dois e três turnos?),
- o isolamento das pessoas e sobretudo das mais pobres e sós será ultrapassado: poderemos ficar sós todos juntos e a todo o tempo, em instituições de acolhimento verdadeiro!
As novas instituições E24 são o futuro por que tanto ansiamos. E o Ministério da Educação português, a pedido dos pais, oferece-nos, por antecipação, este futuro. Portugal mantém, assim, o seu perfil de povo inovador, gente de sensacionais descobertas, que abre novos mundos ao mundo! Que mais e melhor poderei eu dizer? Viva a E24, a verdadeira revolução da educação promovida pelo Estado, a pedido dos pais!
post scriptum: se alguém considerar este texto exagerado, peço apenas que sobreviva uns cinquenta anos, o que comigo já não ocorrerá!
por Joaquim Azevedo
Para além de ter sido Director-Geral do Ministério da Educação (no extinto GETAP: 1988-1992), Secretário de Estado dos Ensinos Básico e Secundário (1992 e 1993), representante de Portugal em diversos organismos internacionais (OCDE, UNESCO...), Joaquim Azevedo é Doutorado em Educação pela Universidade de Lisboa e um profundo estudioso das políticas educativas em geral e do Ensino Secundário em particular.
os quadros são de Aldo Peixinho (o 1.º) e Júlio Resende (a azul)
1 comentário:
Mas faltava-me o link para este blogue...já o vou colocar...
Abraço.
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