.
Acabei de assistir online a um debate no ETV (Económico.TV, um canal pago sobre assuntos económicos disponível em televisão apenas para aderentes)
Os oradores eram Santana Castilho (como convidado) e Pedro Vassalo * (comentador 'residente' à 2ª feira) e o tema qualquer coisa como "Educação em tempos de troika", ou, por outras palavras, "Os efeitos dos cortes orçamentais no estado da Educação".
Pedro Vassalo |
Santana Castilho |
Santana Castilho foi o mestre perante um aprendiz pedante, insuportável como só os ignorantes que pensam que sabem tudo sobre todas as coisas, arrogante e simplório na opção de partir impreparado para debater Educação (como se de um tema menor se tratasse!), ainda por cima com o Homem que sobre o assunto dá cartas em Portugal! E como isso foi, mais uma vez, evidentíssimo, a preparação e o conhecimento dos dossiers, a memória prodigiosa contrapondo números e fontes, a inteligência e a acutilância de um discurso certeiro e limpo, as ideias claras de quem pensa e sabe das coisas.
Não sei se, no fim do programa, PV ficou mais humilde, menos seguro de si. Devia. Vi Santana Castilho aturar-lhe dislate atrás de dislate, como se lhe sobrasse pachorra para o nacional-bronquismo, as frases feitas e as ideias pré concebidas de um consultor de negócios que pouco se distinguiu, no oco palavrar sobre Educação, da tacanha dona de casa que, no último Opinião Pública, brindou quem a ouviu com o estafado slogan à la MST de que 'os professores ganham muito e não fazem nada'.
Alguns exemplos, e a transcrição possível do que se passou no programa:
Partindo da referência de Santana Castilho à 'perversão' matemática destas políticas educativas, em que menos com menos dá, não mais, mas menos - menos escolas, menos professores, psicólogos e outros técnicos de educação, menos apoios - a alunos com deficiência, à aquisição de manuais escolares ou de passes sociais.. e sobre os ditames da troika e além, sobre o cortar despesa em "tudo o que mexe" e que Pedro Vassalo aprova como inevitável: (cortes) "possíveis porque imediatos para um governo em funções há apenas 3 meses" [e eu nem vos conto da náusea que me provoca este argumento!] - o que um e outro disseram:
PV: O orçamento do Ministério da Educação vai sobretudo para custos com pessoal, e isso (obviamente) implica despedir professores. --- !!!!!!!!
SC: «Há cerca de 4 mil administrativos em todo o sistema. Por comparação, na Suécia, apenas cerca de 200»
PV: (que "privou com muitos ministros da educação" e foi aluno, por isso crê poder opinar sobre o que se passa no mundo da Educação em Portugal -[a lata desta gente, não?!?!] : «Não há ministro da educação que consiga fazer alguma coisa, porque passa os dias a falar com os sindicatos, são milhares de pessoas!» [ohporfavor!!!!!!!!!!!!!!!!!]
.. e ainda, confundindo professores com líderes sindicais :
«A classe docente não colabora, nunca colaborou, em qualquer reforma que se faça no ME. Não querem que se corte uma vírgula no seu estatuto!» - [bom, aqui PV passa das marcas! Fique sabendo, caro senhor, que eu, professora, quero mais é que se cortem as vírgulas todas - e os pontos, sozinhos ou em duplo, os de exclamação e interrogação, mais as reticências e as aspas, toda a pontuação deste ECD!! Eu quero é implodir um estatuto que me equipara ao resto da FP apenas para me cortar no salário e em tudo o mais me desfavorece e sobrecarrega!]
Nos antípodas e sem papas na língua, o que consegui anotar das intervenções de Santana Castilho:
«Isto não é uma democracia. É uma falsa democracia. Nós não elegemos um primeiro ministro, votamos num partido, e em Portugal são menos de 4% as pessoas filiadas em partidos. Eu não gosto desta democracia! E não quereria meter as pessoas no Campo Pequeno, mas queria políticos que não fossem apenas técnicos e contabilistas. Queria políticos com alma e coração. Um governo não pode gerir números, tem de gerir pessoas!»
«A maior farsa que se fez neste país a nível educacional foi o programa das Novas Oportunidades.»
«A Parque Escolar foi um expediente para desorçamentar o Estado.»
«O Ministério da Educação é um patrão que não tem vergonha. Anda a contratar há anos milhares de professores a título transitório.»
«O senhor (P. Vassalo) acha que temos de esperar mais tempo antes de criticar as políticas deste governo? Eu ando à espera há 30 anos! Eu, como pagador de impostos, tenho o direito de exigir a quem chega ao governo que saiba ao que vai, que tenha o trabalho de casa feito e aja no dia a seguir a tomar posse!»
Ah, grande Santana Castilho! Assim houvesse mais uns quantos sem vendas nos olhos ou o rabo preso. Assim as pessoas usassem a cabeça para pensar.
Que um serviço público não traduzisse um poleiro. Que as leviandades se pagassem caro e os corruptos fossem parar à prisão, mais ainda se governantes.
E que quem fizesse o que quer que seja o fizesse bem feito ou não o ousasse de todo.
Que quem não percebe nada de Educação se abstivesse de mandar palpites sobre ela. Ou de lhe ocupar o pelouro
*
Experiência de Pedro Vassalo (para quem, como eu, nunca antes tenha ouvido falar neste senhor):
- Director de Negócio Portugal: Novacaixagalicia (Banking industry - March 2011 – present)
- Director Portugal - Caixa Galicia (Privately Held; Banking industry, 2000-2011)
- Analista de Risco de Crédito (Banco Santander - Banking industry, 1996-2000)
- Auditor-Coopers e Lybrand (Partnership; 10,001+ employees; Banking industry - 1993-1996)
Formação académica de Pedro Vassalo
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (1988 – 1993)
fonte
.
Biografia de Santana Castilho: aqui
*
entrevista de SC ao CM,
3 horas condensadas em 10 minutos:
.
Santana Castilho:
"Nuno Crato não sabe o que é uma escola"
Professor defende que o ministro da Educação começou "o reinado como um autêntico palhaço da avaliação do desempenho" dos professores e fala em impreparação.
.
Por:Janete Frazão / João Pereira Coutinho
xl.pt/detalhe/noticias/nacional/ensino/nuno-crato-nao-sabe-o-que-e-uma-escola
.
Sem comentários:
Enviar um comentário