26 agosto 2011

do bovino povo português e das novas oportunidades

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Este povo não presta!

Acabava de entrar o ano de 1872. E o novo ano que chegava interrogava o ano velho. "'-Fale-me agora do povo", pedia o novo ano. E o velho: “-É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre, porque lhe não montam na anca; e o desgraçado não se lembra da canga!” -"Mas esse povo nunca se revolta?" insistia o ano novo, espantada £ respondia o velho: “-O povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia. Por conta própria, nunca" E uma derradeira questão:"- Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?" E a resposta lapidar do ano velho:"- Um pais geralmente corrompido, em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer”. Este diálogo deve-se a Eça de Queirós. O mesmo Eça que escreveu sobre o Portugal de então: "O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (...) e padres que rezam contra ele. (...) Paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa" Estávamos, repito, em 1872.

Aquilino, por Artur Bual
Estamos obviamente a falar do povo português. Esta "raça abjecta", congenitamente incapaz, de que falava Oliveira Martins. Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouco de indignação e muito menos de revolta. Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém. É vê-los nas televisões, por exemplo, filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil e absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"!

Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões, agora no poder, se lembrou de inventar! E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for. E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado”.
Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes. Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio" recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens. E isso seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas.

Mas não. Esta gente come e cala. Leva porrada e agradece. E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem, quando e como eles o definirem. Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for.
Pelo contrário, paga tudo. Paga para tudo. Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta. E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala. Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado, exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar, como se tivesse ganho uma medalha olímpica.


Esta multidão anestesiada espelha claramente o pais que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser - um pais estúpido, pequeno e desgraçado. O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira" a que se referia o rei D. Carlos. "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais.
Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito...”

Nem mais. Eis aqui o segredo da governação. A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século: "Um país de bananas governado por sacanas". Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal.


Jornal de Barcelos, (Luis Manuel Cunha, Professor – in Jornal de Barcelos de 27/10/2010)


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comentário e texto retirados daqui  e daqui, respectivamente .
comentário de Zé das Esquinas, o Lisboeta:
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Já aqui comentei, a propósito de não sei o quê, que o real povo português está fielmente representado num programa da RTP1 chamado de Preço Certo. Quem quiser ver com olhos sociológicos e de estudo não necessita de ir passear pelo país. Basta-lhe passar uma horas a ver uma dúzia destes programas. Não tem mal, nem tem bem. É assim mesmo, um retrato do País onde incluo o apresentador e os seus quatro assistentes.
E a propósito da afirmação incluída neste post «que a falta de educação mantém o povo na imbecilidade e adormecimento» quero ainda acrescentar uma pequena mas verdadeira «estória».
Uma amiga de infância contou-me no outro dia que tinha sido aconselhada a inscrever-se no programa «Novas Oportunidades» para ter o 12º Ano e assim poder subir um nível na carreira administrativa na Segurança Social onde fez todo o seu percurso laboral e onde, nos anos sessenta e setenta, se entrava com o antigo 5º Ano dos Liceus…
Dizia-me ela que entusiasmada com a ideia, pois está à beira da reforma, que até eu entrava no seu salto académico, pois era referido no seu trabalho que lhe dará a equivalência. E então contou-me que estava a contar a «estória da sua vida» em Word (vê lá tu, eu a escrever num computador…). Concluindo, a equivalência era-lhe atribuída mediante a avaliação de um trabalho com um número de «x» páginas onde ela contaria com palavras e imagens, a sua vida.
Não quero, por agora, fazer comentários a este programa das Novas Oportunidades, que acabei de contar e que, repito, me foi contado pela voz da própria candidata.
Mas tenho a certeza que a minha querida amiga de infância fez bem ao inscrever-se, porque merece de certezinha absoluta ser remunerada um nível acima e um dia ter uma melhor reforma.
Mas se «isto» é um programa de Ensino, que permite o acesso directo à Universidade, como vi à dias um senhor de oitenta e tal anos orgulhosamente manifestar o seu interesse, após obter a equivalência ao 12º Ano neste mesmo programa, aí já tenho as minhas maiores dúvidas.
Mais uma vez, andamos a enganar quem?
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