20 maio 2011

Prefere a vitória de José Sócrates ou de Pedro Passos Coelho?

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Sócrates ou Passos? Passo. 

artigo de Daniel Oliveira
aqui


Prefere a vitória de José Sócrates ou de Pedro Passos Coelho? Se me pusessem perante esta escolha não saberia o que responder.

Não, lamento, não acho que o PS e este PSD sejam iguais. É verdade que o que Sócrates fará por falta de coragem Passos fará por convicção. Dá, infelizmente, quase no mesmo. Sendo certo que, apesar de serem ambos claramente incompetentes, o primeiro fará o que a troika decidiu e o segundo tentará ir mais longe. E nisso pode haver uma diferença.

Só que uma vitória de Sócrates teria como resultado a sua permanência na liderança do PS. Ou seja, o bloqueio, por mais dois ou três anos, do centro-esquerda e do deprimente panorama político português. E o lento reforço da direita. A médio prazo, a esquerda (eleitorado do PS incluído) acabaria por pagar um preço demasiado alto por esta vitória sem, na prática, ganhar grande coisa.

A questão é esta: se o programa do próximo governo está já decidido, não seria preferível que esta crise servisse para nos livrarmos de Sócrates e iniciar-se uma profunda renovação de toda a esquerda portuguesa? Sem Sócrates tudo ficará em aberto. Com ele, continuará a degradação ideológica e ética do PS e do País.

O problema é que com Passos Coelho teremos um grupo de lunáticos extremistas no governo. Sem ele, o PSD rumará ao centro para o bloco central. Com ele, a direita chega ao poder no momento em que o ataque ao Estado Social é mais fácil e em que tem a direção mais radical da sua história.

Isto não está fácil para quem, à esquerda, se resigna ao "voto útil", que, como dizia Adriano Moreira, só é útil para quem o recebe.

A resposta, quanto ao meu voto, é mais simples: nem um nem outro contará com ele. Sou exigente com a democracia e não sou dos que se conforma com a inútil aritmética que transforma o meu voto em arrependimento mais do que certo.

A esquerda que se opõe a este suicídio económico tem-se portado sempre bem? Não e eu tenho-o assinalado, para irritação de alguns, mais vezes do que gostaria. Mas seria trágico que, nas atuais circunstâncias, ela não saísse reforçada. Será a única oposição ao programa da troika. O único sinal de alarme aos abusos que aí vêm. Tenha um bom ou um mau resultado, também esta esquerda terá de refletir, depois das eleições, no papel que quer ter nos próximos anos. Mas isso não diminui a importância de haver uma oposição ao sentido único que nos quer ser imposto.

Se me perguntarem se prefiro a vitória de Sócrates ou de Passos Coelho não sei o que responder. A minha emoção impede-me de querer sequer imaginar o que será a trupe de Passos no poder. A minha cabeça nem por isso. Felizmente, não está nas minhas mãos. O meu voto servirá para outra coisa: garantir que, havendo quem se oponha a um programa que arrasará com a nossa economia e com o Estado Social, a democracia continua a funcionar. Será, é verdade, desta vez, um voto crítico. Mas seguro da sua enorme utilidade. Será um voto contra a capitulação. O debate sobre o que tem esta esquerda de fazer com o voto que eu e muitos outros lhe vamos dar virá depois. Terá de vir.

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