- recebido via e-mail: «Que país é este?» - de volta ao Projecto Farol (ver post anterior)
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Estudo realizado pela empresa de estudos de mercado GfK
* Comissão Executiva: Daniel Proença de Carvalho (Chairman) ; António Pinho Cardão ; Belmiro de Azevedo ; Jorge Marrão ; José Maria Brandão de Brito ; Manuel Alves Monteiro
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por grazia tanta, análise e alguns comentários :
O estudo tem coisas divertidas e outras menos.
Trata-se de um Estudo de mercado que não deve fazer esquecer quem o encomendou e pagou. E revela:
a) a ignorância dos respondentes, indiciadora da ausência da esquerda portuguesa na promoção de práticas democráticas (ficam contentes em perorar na AR e com uma meia dúzia de manifs anuais) ;
b) o amolecimento político e de participação que maioritariamente se faz no sofá a olhar o écran onde dissertam Medinas e Marcelos.
b) o amolecimento político e de participação que maioritariamente se faz no sofá a olhar o écran onde dissertam Medinas e Marcelos.
E daí,
- Não se coloca a questão do modelo de organização política, embora a opinião dos protagonistas políticos seja mostrada como muito má. [É evidente que não houve interesse em colocar a questão!]
- Não se coloca uma vírgula sobre a distribuição do rendimento; o importante é “mais produtividade” e “reforma no sistema laboral” .
- Não há referências à dívida pública, ao deficit, aos Pec’s, ao rapace sistema bancário; só há endividamento das famílias… [portanto, as empresas devem estar cheias de capital!]
- Acredita-se que o Estado deve apoiar as empresas e os empresários e é dele o principal contributo para a competitividade e desenvolvimento [que felizes devem ficar os colonizadores do Estado, os corruptos, os mandarins e a esquerda fóssil, vacilando entre o estalinismo e o keynesianismo!!]
- O neologismo neoliberal do “empreendorismo” está muito presente
- Os empresários são o elemento essencial na sociedade mas exige-se que sejam competentes [que roubem menos?] – [quem paga o estudo não são entidades de investigação, mas empresários ou rendidos ao neoliberalismo.]
- É bom viver no interior do país se houver … incentivos (o Estado a pagar); [uma solução deve ser obrigar pessoas a viver lá para haver … mercado!]
- Se a empresa se deslocalizar alegremente o pessoal vai atrás dela; [o que é estranho, dado que há taaaantos postos de trabalho por preencher… ]
- O pessoal até aceita cortes salariais, reduções nas deduções no IRS; [com tanta benevolência laboral, os “investidores estrangeiros” devem estar a abandonar a China!]
- Há idiotas que até abdicam de centro de saúde para o estado reduzir impostos. [Devem acreditar nos benefícios dos seguros de saúde e as seguradoras também.]
- No inquérito verifica-se que os portugueses são muito … participativos!! [Os faroleiros conseguem ver longe!! ]
- O povinho acredita no papel do Estado-bombeiro na redução da pobreza. [Aceitam portanto que os empresários amealham, pagam mal e que é o Estado que supre as consequeências da roubalheira empresarial.] A estupidez é tal que até as igrejas têm mais responsabilidades que as empresas que geram a pobreza.
- Surpresa! Os portugueses não enxergam mais do que o campanário local e só um terço se interessa pela política internacional. [Tantos?]
- E acreditam que eleições e manifestações alteram as coisas! [Anjinhos!]
- Acreditam que a globalização ajuda à paz no mundo, desenvolve países pobres,
... e o português da Deloitte deixa muito a desejar!
Sabe-se que um estudo de mercado dá as conclusões que se quiser, dependendo isso da escolha das perguntas e do modo como são colocadas. Naturalmente ninguém paga um estudo de mercado onde haja o risco de se concluir que o pagante não serve para nada!
Como quem paga o estudo são empresários e funcionários neoliberais, os empresários ......
2 comentários:
Agradecendo a atenção dada ao Farol, e sem pretender contrariar a argumentação ( creio que não valeria a pena e a liberdade de interpretação e de opinião é um bem), apenas gostaria de salientar uns quantos pressupostos:
1º) a entidade que fez a sondagem é uma entidade prestigiada e reconhecida internacionalmente. Não se angaria prestígio, nem reconhecimento, nem clientes se os estudos não se revelarem fiáveis.
2º) as questões colocadas foram seleccionadas segundo o critério dessa entidade.
4º) a última coisa que os promotores do Projecto Farol quereriam era enganar-se a si próprios .
3º) Também para os promotores do Projecto Farol algumas (muitas) conclusões foram surpreendentes
4º) Mas é reconhecendo e defrontando a realidade se pode aprender e tomar as medidas adequadas.
5º)As ideias de cada um de nós podem não ser (e a maioria das vezes não são) as da generalidade do povo.
6º)Pensar que as nossas ideias são as do povo é querer usurpar as ideias dos outros. Mas, em democracia, o povo pode ter ideias e é o povo quem mais ordena.
a pedido do autor, por dificuldades técnicas, aqui fica a resposta ao comentário anterior:
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Olá Ana
Não consigo a aceitação de um comentário meu aos do Pinho Cardão. Podes fazê-lo por mim?
Aqui vai
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"Também agradeço a atenção dada por Pinho Cardão a um anónimo, não empresário, não possuidor de títulos ou depósitos em offshores e, apenas rico de antipatias partidárias
Essa da liberdade de opinião mereceria um comentário específico dado o enviezamento que os media introduzem ao impingir à plebe as mesmas opiniões com palavras diferentes. Isso, porém, não é exclusivo da NUT europeia chamada Portugal.
Adiante
1 - Já passei pela área de estudos de mercado e, por exemplo, tive a oportunidade de ver uma conceituada empresa falar de um estudo de nível nacional com entrevistados de Lisboa e S. João da Madeira. Quanto ao prestigio e idoneidade de empresas, recordo apenas as vigarices da extinta Arthur Anderson no caso Enron e, peço perdão se estou enganado, recordo ainda a agudeza de vistas das auditorias da Deloitte ao BPN
2 – Um estudo de opinião é preparado tecnicamente pela empresa especializada mas, quem encomenda aprova sempre o questionário antes de este ser colocado. Seria excepcional o contrário e, se aconteceu, revela decerto a falta de tempo dos responsáveis do Projecto Farol
4 – Acredito. Mas decerto reflectiram os seus desejos, a sua forma de ver as coisas no questionário ou então este último apenas reflecte a visão da GfK e/da Deloitte, aliás bem presente no Projecto Farol; se assim foi, os outros elementos do Projecto arriscaram ter sido defraudados nas suas intenções, por não terem validado detidamente o conteúdo proposto para o questionário
3 – Subscrevo. Há de facto surpresas
4 – Naturalmente, embora não seja prática corrente no mandarinato político
5 – Decerto. Creio que é claro que não me embasbaco nas idiotices dos media, em futebóis, telenovelas, nem sequer vejo televisão, perdendo sem pena, os comentários dos opinion-makers catequizam o povinho… já que este deixou de ir à missa.
6 – Essa “do povo é quem mais ordena”, só a conheço na canção do Zeca; está a léguas da democracia de mercado, de consumidores, em que (sobre)vivemos
Grazia Tanta
27/4/2011"
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