26 abril 2011

Projecto FAROL 1

- já tinham ouvido falar? - pois eu não, e achei a leitura bem interessante!! (apesar de longa, vale a pena!)

enviado pelo grazia tanta


retirado daqui:

Preparação de um Bilderberg saloio

Eles andam preocupados e vão-se reunindo, em grupinhos, para descobrir a quadratura do círculo. Os ingredientes são sempre os mesmos, os trabalhadores que produzam para eles, a multidão que se sacrifique, os pobres que desapareçam. Importante são as empresas, os lucros, a finança, os mercados, eles, os capitalistas.

O principal problema deles, não é a plebe, que Sócrates tem gerido a contento, enchendo-lhes os bolsos o mais que pode. O problema é que a burguesia portuguesa, mesmo com muito dinheiro nos “offshores”, está colocada lá para o fundo, na hierarquia das cliques dominantes europeias e mundiais. Não produz nada de relevante a nível mundial, não detém importância tecnológica, é ignorante em termos culturais e de gestão. Uma merda.

E ninguém os escuta, nem pergunta a opinião. Recentemente o nosso estimado Cavaco, excelente exemplar do que atrás se disse, esteve com a sua comitiva de mandarins e “empresários”, uma hora, na Turquia, à espera do primeiro-ministro Erdogan, o que protocolarmente é uma ofensa.
Bem, depois destes desabafos tautológicos falemos dos tais grupinhos e almocinhos onde eles se encontram.
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1 - O projecto Farol
Sabem o que é?

No dia 27 de Abril último, depois de celebrarem o 25 de Abril, com os cartões bancários ao peito, posternaram-se, solenes e discretos (sem a imprensa, para acicatar a curiosidade), perante Cavaco que os acolheu "com muita satisfação". Aníbal e os elefantes? Não, Aníbal e os percevejos.
Entre eles estavam:
  • o grão-merceeiro Belmiro, habitual contribuinte do PS e do PSD, que anda com pouco que fazer depois de ter deixado a gestão da fazenda ao filho e que sofre de olho gordo desde que o Amorim lhe passou à frente na lista da Forbes;
  • Jorge Sampaio, ex-advogado e recordista na arte de falar muito sem dizer nada mas, conselheiro de Estado e de Sócrates, com bons contactos no PS;
  • Proença de Carvalho, advogado influente, bem integrado na direita e mandatário nacional da candidatura de Cavaco. Por ter sido um membro do Trio Los Dos (com José Niza e José Cid) foi apresentado como o chefe da banda;
  • Paulo Macedo, BCP, ex-DG dos Impostos, que largou quando já não havia dinheiro para arrecadar ao pessoal e foi promovido no seu regresso ao banco;
  • António Mexia, top-manager, da EDP, já algumas vezes glosado neste blog, que se afastou do Compromisso Portugal e membro ilustre duma piedosa Associação dos Empresários Católicos;
  • Paulo Fernandes, “special one” do grupo Cofina, com uma porção de títulos nos media;
  • Alves Monteiro, advogado, muito ligado aos mercados financeiros, bolsa, derivados e correlativos elementos produtores de riqueza;
  • Pinho Cardão, gestor, PSD
  • Brandão de Brito, economista, professor do ISEG, do PS;
  • Jorge Marrão, ligado ao turismo e da Delloite que patrocinou o grupo e vai fazer um estudo até ao final do ano;
E outros ilustres a quem pedimos desculpa pela não citação.

Todos juntos, abraçados em perfeita comunhão, auto-intitulam-se “movimento da sociedade civil” designação problemática se tivessem por lá um general e, "independente de qualquer pensamento ou projecto político e menos ainda de qualquer partido", como soa bem, nestes tempos de descrédito do mandarinato. Todos juntos, dizíamos, formam o que se chama um “think tank”, talvez porque as suas ideias têm a elegância de um Panzer.

O que pretendem os faroleiros?

Ainda não adivinharam? Fiquem sabendo que tão abnegados patriotas visam estudar “os problemas do país”, contribuir “para que os portugueses conheçam melhor os seus problemas", “numa perspectiva não conjuntural mas, de médio e longo prazo", movidos por um denominador comum constituido por: Estado de direito, democracia politica, e que “as políticas de respeito pela economia de mercado são as mais adequadas à criação de riqueza e também àdistribuição de riqueza e à criação do bem comum". Nada de inovador mas, tenhamos fé, pois o estudo ainda vai começar!

Mas eles têm mais ideias, adiantando como dimensões críticas mais relevantes, “a coesão (de quê?), a educação (com ou sem a Milu?), a cultura (do betão?), as reformas do Estado (porrada nos funcionários e privatizações?), a globalização e o financiamento da economia”. Brilhante!
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2 – Compromisso Portugal

Aqui há uns poucos anos, com pompa e circunstância, “uma iniciativa da sociedade civil” (também só para paisanos), saiu das cabecinhas de um luminoso friso de empresários e gestores e nasceu o CP, sem alinhamentos partidários e aberto à participação de todos, “sem preconceitos ideológicos” mas, onde por acaso do destino, os mais esquerdistas eram … da direita neoliberal. (As citações são todas do sítio do grémio)

Não vamos gastar neurónios com um elenco muito alargado destes magnos magos da gestão mas, o seu mais entusiasta lider era o Carrapatoso, recentemente saído da Vodafone, o Mexia que se mostrou discreto quando foi para a EDP ganhar € 96000 por mês e o Vaz Guedes que agora anda mais ocupado em safar o dinheiro que “investiu” nos bancos fraudulentos da moda. Por esse motivo, o CP empalideceu.

Queriam (ou ainda querem) os comprometidos “que a nossa sociedade atinja patamares mais elevados de bem-estar, coesão e felicidade”, tirada que só os masoquistas renegarão. Mais concretamente, apostam:
  • num “Estado forte e independente (o que será isso?) ao serviço dos cidadãos” (principalmente empresários, claro está), eficaz e eficiente nomeadamente nas actividades “que a iniciativa e o interesse individual dos cidadãos e das suas instituições privadas não conseguem garantir” (como tal desiderato é muito difícil, cremos que eles tinham em mente um colectivismo soviético…); 
  • na flexibilidade e predisposição à mudança dos cidadãos (como não registaram a patente, foram os dinamarqueses que ficaram na História como os inventores da flexisegurança); 
  • na igualdade de oportunidades (qualquer despedido sabe que ela existe e qualquer pensionista pode optar pelo internamento no Hospital da Luz); 
  • na sã concorrência nos mercados (desde que o Estado ajude uns contra os outros), etc
Ainda emocionados por sabermos que “O Compromisso Portugal acredita em Portugal” vem-nos moendo o pensamento saber se os comprometidos eram pré-faroleiros ou se os faroleiros são pós- compometidos.
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3 – Uma espécie de “Grupo de Contacto”

Sempre na crista da onda, Sócrates em 20 de Maio reuniu com a nata do poder económico, acolitado pelo impagável Manuel Pinho (do duo Pino&Lino) e decidiram criar um grupo de contacto para facilitar o crédito às empresas, por parte da banca.

Responderam à chamada os presidentes dos cinco maiores bancos, o José Barros da AEP, o eterno Rocha de Matos da AIP e os representantes das empresas nortenho do calçado, da cortiça e do têxtil e vestuário. O van Zeller não esteve presente, porque, sendo da casa, deixou de véspera uns quantos “post-its” na secretária do Sócrates.

Apurou-se que os “spreads” bancários estão altos (que argúcia!) e os esforçados empresários não estão para ir buscar o dinheiro que enviaram para os “offshores” e arriscar no reforço dos capitais próprios. Os banqueiros, cordatos e pacientes, explicaram aos capitães da indústria do Norte que, tecnicamente, o “spread” engloba factores tão incontornáveis como a taxa de financiamento (no mercado de capitais, pois também os accionistas dos bancos não se chegam à frente), o custo do risco, o risco do capital por o banco ter aplicado o dinheiro e a notação de “rating” da empresa. Os denodados empreendedores lá sairam de mãos a abanar pois, quem manda nestas coisas é o capital financeiro.

E pronto. No final. almoçaram juntos e trocaram os números de telemóvel, esperando a activação do tal grupo de contacto.
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4 – Banqueiros unidos, não querem ser engolidos!

Anafadinhos, sorridentes e com aquelas cãs que dão o cunho de sabedoria aos homens maduros, reuniram-se no Ritz os banqueiros lusos com umas estrelas importadas (Martim Wolf do Finantial Times, entre outros) para abrilhantar o “show”. Na assistência, um variada gama de advogados, gente do PS (o está-em-todas Vitorino e o Fernando Gomes, acampado na Galp), o Manuel Fino aliviado pela CGD de alguns apuros e mais não dizemos para não enjoar...

Para além de questões de pouco mérito analítico para tão culta audiência, como o desenvolvimento da relação com os clientes, a captação de novos clientes (irão em breve abordar os selenitas?), a gestão do risco, o malparado e outras trivialidades, os banqueiros unidos também apontaram para soluções mais dolorosas e estruturais que poderão apear muitos deles.

Os tóxicos? Os activos imprudentemente sobrevalorizados saem do balanço dos bancos em troca de quê? Se forem transferidos para um“bad bank” os bancos para manterem o balanço equilibrdo têm de registar pelo mesmo valor essa participação financeira. E como esses tóxicos não valem nada, mais tarde se concluirá que a participação no “bad bank” vale um prato de tremoços e há que contabilizar a diferença (o prejuizo). Se não se transferirem para lado algum terão de reavaliar em baixa os seus activos e registar os prejuizos? Naturalmente que se esperam fórmulas de contabilidade criativa, regulamentos novos, legislação fiscal facilitadora, não sendo plausível que seja sentida a falta de criativos como o Oliveira e Costa ou o Rendeiro.

Entradas de capital para que a banca tenha índices de capital próprio semelhantes aos das outras empresas? O BdP até já lhes exigiu uns “enormes” 8% que fariam a felicidade de qualquer empresa se pudesse ter acesso ao crédito nessas condições. Colocar dinheiro na banca é apenas aplicável às pessoas normais, de acordo com a publicidade; os banqueiros e os seus accionistas especializaram-se mais em retirar de lá dinheiro para “investir”. 

Como se garantem margens de lucro saborosas com economias estagnadas, negócios a patinar, multidões de desempregados, trabalhadores mal pagos e Estados superendividados? Isso só tem sido possível através da especulação e das cadeias de produtos derivados. Irão os banqueiros apresentar aos seus ávidos accionistas dividendos adequados às margens de lucro possíveis da economia real e concreta? O primeiro que tiver esse desplante vai engrossar o número dos desempregados.

Naturalmente que a maior concentração de capital, com fusões e aquisições é geradoras de “valor”. Há sempre trabalhadores despedidos, “downsizings” e menos accionistas a alimentar, pois com a concentração de capitais, muitos ficam de fora. E irão engrossar a coorte dos parasitas cheios de capital, à procura de colocações de curto prazo, pois a conjuntura está volátil.

Neste capítulo, Teixeira dos Santos pôs a mão na ferida ao apontar recentemente a necessidade de fusões de bancos e não se estaria apenas a referir à digestão das sobras do BPN e do BPP; elas têm acontecido (e de que maneira) em França, Inglaterra e Alemanha. E nos EUA até acabaram com o emblemático Lehman Brothers.

Os nossos banqueiros, muito paroquianos, aprenderam que as agências de “rating” são uma treta, quando lhes foi dito, pelo acima referido guru do esquerdista Financial Times que, quando começou a actual crise havia 64000 classificados com a classificação máxima e que agora há só 24! As agências de “rating” são como as consultoras, cavalgam a onda, para não perderem clientes; não ficam atrás, nem se colocam à frente.

Caderno reivindicativo dos banqueiros:

  • Que o Estado lhes fique com os fundos de pensões que provocaram, para os quatro maiores bancos portugueses perdas, em 2008, de €1750 M devido à à idiota sobrevalorização de activos. Naturalmente, os capitalistas sempre foram adeptos da socialização… dos prejuízos;
  • Que os clientes paguem (mais) comissões pelos serviços bancários, para além dos “spreads” ou, que estes sejam reajustados para pagar esses serviços;
  • Como o crédito à habitação tem uma baixa rendabilidade é preciso aumentá-la, acabando com os “spreads” fixos durante toda a vida do empréstimo.
Muito integrado na “saison” eleitoral, Teixeira dos Santos pugnou pela extinção dos “offshores” e a redução das remunerações milionárias dos gestores. Composta por gente educada, a plateia sorriu, benevolente.

Estas questões estarão, mais discretamente, na lista de compras dos bancos, a apresentar pela Associação Portuguesa de Bancos para inclusão no orçamento para 2010.

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Notas soltas:

O mito da ingovernabilidade

A maioria absoluta na AR garantida pelo PS de Sócrates em 2005 espelha bem o que qualquer burguesia considera como estabilidade governativa. Como a oposição aceita paciente e pacatamente as instituições, como quadro privilegiado de luta política, as opções são definidas autocraticamente pelo governo e a AR é um mero palco do esbracejar impotente ou conivente das várias oposições. Nos bastidores a caravana passa com o ouro dos numerosos bandidos, com as vítimas da acentuação das desigualdades, da pobreza e da exclusão a assistir, na plateia.

Van Zeller, anos atrás, referiu expressamente gostar de governos autoritários; de facto esse é o cenário da máxima governabilidade. E, para o efeito, perante o desgaste do compulsivo trafulha Sócrates, esse cenário pode ser montado perfeitamente com um governo PS/PSD, com os actuais ou outros figurantes. Ferreira Leite, na sua conhecida inabilidade, fugiu-lhe a boca para a verdade quando proclamou a conveniência da suspensão da democracia por seis meses, o que decerto seria para reprimir e delapidar os direitos da multidão e dos assalariados.

Ora, se a estabilidade governativa apenas serve para agilizar a tomada de medidas lesivas da multidão, de quem trabalha, dos pobres e facilitar o acesso do alto patronato à mesa do orçamento, melhor é a não estabilidade. No contexto da democracia de mercado, se, por hipótese 10 partidos tivessem 10% dos votos cada, somente o que fosse consensual seria aprovado e as medidas mais lesivas e controversas não recolheriam os apoios necessários, folgando a multidão.

Leonor, em Beleza

A vida corre-lhe bem. Depois da Fundação Champalimaud, cai no Conselho de Estado a convite de Cavaco. Estará lá como representante dos hemofílicos que contaminou, por incúria, com a sida, enquanto ministra da saúde?

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