Quando Vargas Llosa parecia já destinado a tornar-se o sucessor vitalício de Jorge Luis Borges, que todos os anos era notícia por não ganhar o Nobel, a Academia decidiu finalmente consagrar o autor de Conversa na Catedral (1966). A decisão foi anunciada ontem, (7/10) ao princípio da tarde, pelo presidente da Academia Sueca, Peter Englund, que destacou, na obra de Vargas Llosa, a "cartografia das estruturas de poder" e as "imagens mordazes de resistência individual, revolta e derrota".
Em entrevista a uma rádio colombiana logo após ter sabido que era o 103.º Nobel da Literatura - e que iria receber 10 milhões de coroas suecas (mais de um milhão de euros) -, Vargas Llosa confessou a sua surpresa: "Não sabia que estava, sequer, entre os candidatos". Garantiu mesmo que começou por julgar que se tratava de uma brincadeira. Na conferência de imprensa que deu ao fim da tarde acrescentou que este prémio "reconhece não apenas o escritor, mas a maravilhosa língua espanhola e a literatura latino-americana".
Mas é de prever que nem todos os latino-americanos se regozijem com esta escolha, já que muitos não lhe terão ainda perdoado a acentuada viragem política à direita, que culminou com a sua candidatura à Presidência do Peru (...)
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"Vargas Llosa e García Márquez: uma inimizade para toda a vida" - aqui
. Em 1967 (...) Vargas Llosa afirmou, ao receber na Venezuela o prémio internacional Rómulo Gallegos, que "a literatura é fogo" e que "a razão de ser do escritor é o protesto, a contradição e a crítica". E lançou um aviso: "Ou a sociedade (...) elimina de uma vez por todas esse perturbador social que é o escritor, ou acolhe a literatura e, nesse caso, não tem outro remédio senão aceitar uma perpétua torrente de agressões, ironias e sátiras".
Nascido na cidade peruana de Arequipa a 28 de Março de 1936, Vargas Llosa foi criado pelos seus avós maternos, primeiro na Bolívia, onde o avô era cônsul, e depois em Piura, no Peru, que evoca nas novelas recolhidas em Os Chefes (1959) e no romance A Casa Verde (1966). Já adolescente, voltou a viver com os pais e estudou num colégio militar, experiência que descreve em A Cidade e os Cães (1963).
Das várias obras publicadas por Vargas Llosa nas últimas décadas, algumas das mais relevantes são A Guerra do Fim do Mundo (1981), sobre a Guerra dos Canudos, A Festa do Bode (2000) ou O Paraíso na Outra Esquina (2003), cuja protagonista é a feminista Flora Tristán, avó do pintor Paul Gauguin.
links no nome para vídeos do Youtube: Vargas Llosa fala sobre a sua obra e a literatura
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O Nobel em castelhano (aqui).
O primeiro autor americano de língua espanhola a receber o Nobel da Literatura foi a poetisa chilena Gabriela Mistral (1889-1957), em 1945. Seguiu-se um intervalo de mais de duas décadas até à consagração, em 1967, do ficcionista guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1899-1974). Apenas quatro anos depois, em 1971, era a vez do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973). - no nome, link para site onde se podem ouvir poemas ditos por P. Neruda ..
Gabriel García Marquez - o romancista de Cem Anos de Solidão -, recebeu o prémio em 1982, e, cumprindo a regra da alternância entre prosadores e poetas, seguiu-se, em 1990, o poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998).
Decorreram depois vinte anos até que a irregularíssima órbita do Nobel voltasse a passar na América Latina, consagrando agora o peruano Mario Vargas Llosa.
Decorreram depois vinte anos até que a irregularíssima órbita do Nobel voltasse a passar na América Latina, consagrando agora o peruano Mario Vargas Llosa.
- links nos nomes p/ Youtube : onde García Marquez e Octávio Paz falam sobre si e os livros ..
Ainda assim, e apesar da aparente resistência da Academia Sueca aos escritores argentinos - Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Julio Cortázar morreram sem receber o prémio, e o romancista Ernesto Sábato, que fará cem anos em 2011, dificilmente o receberá - , a literatura de língua espanhola até não tem grandes razões de queixa. (...)
os links nos nomes :
- Borges lê "Arte Poética";
- Cortázar fala do seu mais famoso romance, 'Rayuela'
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