29 outubro 2010

e não se pode 'exterminá-los'??

Diz que é uma espécie de democracia

O orçamento é péssimo e tem de ser aprovado. A economia europeia suicida-se e ninguém pode fazer nada. Porquê? Porque falta a política onde ela tinha de estar. Mais do que uma crise financeira, vivemos uma crise democrática. 

artigo retirado daqui

por Daniel Oliveira (www.expresso.pt)


Este orçamento tem de ser aprovado. Porque é bom? Não, é péssimo. Porque nos salva? Não, vai-nos afundar ainda mais. Porque ajuda a economia? Não, vai rebentar com a economia.

Vai ser aprovado porque não é aqui que se governa.

Não é aqui que se governa porque a Europa é governada por dois ou três países. Os restantes são meros adereços. A estrutura institucional do Euro e o conteúdo do último tratado que assinámos assim o determinam. Temos uma moeda à qual não corresponde nenhum poder político com legitimidade democrática e real poder. O resultado é este: há o poder da chantagem sem a compensação da solidariedade.

Não é aqui que se governa porque a financialização do capitalismo tornou o poder difuso e os Estados reféns do caprichoso jogo dos mercados. E esse poder difuso, sem a força da legitimação do voto, é estruturalmente antidemocrático. Quem julgava que o mercado livre correspondia ao máximo de democracia tem aqui a resposta. A democracia só casa com o mercado se tiver o Estado como padrinho.

O que este orçamento nos diz, quando todos o acham péssimo e todos o querem defender, é que não é apenas a economia que está em crise. É a democracia. O que toda esta charada nos devia dizer, aos portugueses e aos europeus, é que vivemos uma farsa. E que um dia isto rebentará por algum lado. Os povos europeus não aguentarão muito mais vezes a chantagem de pagar a crise provocada por outros. Aqueles que salvámos há dois anos e que agora nos apontam uma pistola à nuca. Um dia os europeus vão ter de exigir que a política e as instituições em que ela é legitimada pelo povo se imponham. Esperemos que essa exigência venha a tempo de ter uma natureza democrática.

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ver também artigo de Santana Castilho, "Falemos de Vampiros", aqui
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