05 agosto 2010

António Ramos Rosa

nascido em Faro, em 1924 (..) 

  • estreou-se na colectânea O Grito Claro (1958). Estava criado o movimento da moderna poesia portuguesa.  
  • Ramos Rosa era o poeta do presente absoluto, da «liberdade livre» e sobe todos os degraus da admiração europeia.  
  • em Portugal é comparado com os grandes escritores nacionais.  
  • Urbano Tavares Rodrigues considerou-o como o empolgante poeta da coisas primordiais, da luz, da pedra e da água. (ler mais)
*

retirado de "As Tormentas", de Luís Rodrigues :
Não posso adiar o amor
.
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

*
retirado da página da Madalena :) no FB :
.
Estou vivo e escrevo Sol
.
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa

2 comentários:

alex disse...

António Ramos Rosa, Ruy Belo, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder, entre outros, encheram-me horas da mocidade e da alma, aluna de Universidade, curiosa, e principalmente instisfeita com os programas universitários (que paravam em Fernando Pessoa). Gastei horas a copiar poemas destes e de outros poetas dos livros requisitados na biblioteca do Departamento. Ainda tenho os cadernos que testemunham esses momentos de labor prazenteiro.
E este poema em especial diz-me tudo, sempre.
Podia lê-lo a qualquer hora, quando me surgisse a vontade, mas encontrá-lo assim, como que por acaso, dá um prazer especial. É como ouvir na rádio de repente aquela música que temos no CD lá em casa. Muito bom.
Obrigada, Ana.

AL disse...

obrigada, alex.