10 maio 2010

o eduquês e o novo E.A. (parte 2)*

* passei-a para aqui, que a cada dia lhe acrescento qq coisa e as 'intenções' já se perdiam no meio do outro post..

Então retomando:

Fosse eu a redigir um Estatuto do Aluno (de qualquer grau de ensino mas considerando muito particularmente o 3.º ciclo..), e acho que dois artigos me chegavam:
 .

artigo 1.º:   o aluno tem o direito a ser respeitado:
  • quanto à sua diferença, naturalmente, mas também quanto às expectativas de futuro decorrentes de uma escolarização pautada por critérios de exigência e qualidade. 
  • Respeitar os alunos é, por exemplo, impedir que terminem a sua formação académica sem, na prática, saberem ler ou escrever. 
  • É exigir-lhes atenção nas aulas, trabalho, empenhamento, cumprimento de regras.
  • É proporcionar-lhes os instrumentos (a informação rigorosa, as leituras ..) que lhes permitam tornar-se cidadãos atentos e conscientes, críticos, interventivos, responsáveis. 
  • Não os respeitar é criar leis que lhes facilitam a progressão com 2, 3, .. níveis negativos, e sem que tenham adquirido os conhecimentos indispensáveis para acompanharem sem 'sobressaltos' a matéria das várias disciplinas, no ano seguinte. 
  • É tolerar-lhes comportamentos que futuramente os tornarão cidadãos marginais, excluídos socialmente. 
  • É esvaziar de sentido, porque inconsequentes, as faltas disciplinares.
  • Não os respeitar é levá-los a crer que, passando sistematicamente reprovados às mesmas 3 disciplinas no ensino básico, terão alguma hipóteses de sucesso num qualquer curso de nível secundário, muito menos um de prosseguimento de estudos. 
  • Desrespeitá-los é, sobretudo, deixá-los acreditar que não é preciso estudar porque passam  sempre, que a escola é um lugar de recreio e a vida um mar de facilidades.
  • Não os respeitar é, também, afogá-los em 15 ou mais disciplinas com conteúdos extensíssimos., nos 2º e 3º ciclos. De duvidosa utilidade, nalguns casos, umas, e outros.
  • É  levá-los a acreditar que têm qualquer hipótese de aprender uma língua com a qual contactam apenas 90 minutos por semana, no 3º ciclo.
  • É sujeitá-los à falácia das 'aulas' de substituição, e depois à sobrecarga das aulas de reposição.
  • Desrespeitá-los é, finalmente, enclausurá-los entre 4 paredes durante 35 horas semanais, retirar-lhes o tempo do ser criança. Criança em família. Criança fora da escola, o seu local de trabalho. Criança no bairro e na rua e à porta de casa, com os amigos.
 .
artigo 2.º:   o aluno tem o dever de respeitar o 'outro' * :
  • na sua diferença e na sua integridade (física e psicológica),  
  • no seu trabalho e autoridade, no seu direito a exercer a sua profissão, no caso dos professores
  • ou, no caso dos outros alunos, no seu direito a aprender. 
  • o aluno tem o dever de contribuir para um ambiente de trabalho produtivo, convivência saudável, cooperação  com os  seus pares e os seus superiores. 
  • tem o dever, em última análise, de empenhar-se na sua própria valorização e formação, de não malbaratar o investimento que o estado e a família fazem em seu nome, de 'construir-se' pessoa de bem, cidadão responsável, informado, interveniente, solidário, crítico e educado
.
* [e a si próprio]

e então? 2 artigos .. falta alguma coisa?

Falta pelo menos uma, e é séria: os alunos portadores de deficiência.
  • Desrespeitá-los é 'integrá-los' em turmas 'normais' sem lhes proporcionar assistência por parte de técnicos especializados que os acompanhem sistematicamente nas aulas. 
  • É acabar com escolas vocacionadas para um ensino 'especial' , as únicas capazes de desenvolver neles capacidades adaptadas à sua diferente condição, e de os fazer evoluir.  
  • É enganá-los, e às suas famílias, levando-os a crer que a inclusão numa turma 'normal' de 20 alunos lhes permite, depois, a inclusão na sociedade e no mundo do trabalho. É prometer-lhes, com estas condições e essa peregrina ideia da 'escola inclusiva-sem-mais', um futuro que não terão nunca ..
        .
        a imagem (distorcida) é de JP Basquiat

        5 comentários:

        tiago martins disse...

        1000% de acordo! Chegavam, bastavam e tudo funcionaria muito melhor. O mal das políticas da educação é que se olha para tudo menos para o aluno enquanto pessoa, enquanto "cidadão-a-ser", enquanto futuro do país... Olham-se para papéis infinitos e burocracias imensas e directrizes monumentais e para os euros no final de cada artigo e para as estatísticas e para os próprios umbigos e, só depois, para o aluno... O teu estatuto é, sem dúvida, melhor que o estatuto que qualquer partido apresente, tenham 70, 140 ou 280 páginas e outros tantos artigos... Quanto mais papel se gasta, menos se tem para dizer...

        Beijinhos ^^

        AL disse...

        obrigada, Tiago, AMIGO grande!! só mesmo tu para me vires animar o blogue! ;-)
        bjisss

        Em@ disse...

        eu só cheguei agora, mas também conto, não? *)
        pront(us) quero dizer que assino por baixo. enquanto estava a ler, pensava nos alunos portadores de uma qualquer deficiência, mas afinal estavam contemplados lá no fim.
        beijinho

        AL disse...

        contas, pois!!! :-))

        Fátima A. disse...

        Assim, a crú, concordo e subscrevo. Depois, reflectindo, penso que poderiamos alterar algumas coisas mas sem tocar na ideia principal - todos os alunos, qualquer idade ou situação, devem assumir o seu papel e defendê-lo no seu contexto. Bravo.