29 maio 2010

lições de economia ou as razões de uma manifestação nacional

o Grazia Tanta, que é economista, envia. Eu, que sou absolutamente leiga no assunto, procuro digerir, seleccionar o que me parece mais importante.. aquilo em que identifico facilmente a situação que agora se vive no país ..
Ora vejam, então, se se percebe por que razão estamos em crise, por que é que são sempre os mesmos a arcar com os seus custos,  e como, muito provavelmente, nunca mais sairemos dela - a não ser que ...

1- Apontamentos sobre o descrédito da teologia neoliberal

As instâncias reguladoras do capitalismo global (FMI, OMC), criadas depois da II Grande Guerra mostram-se ineficazes e inoperantes, na conjuntura actual, revelando a confusão e o temor que grassa entre homens de negócios, banqueiros e mandarins.

Os Estados avançam com medidas desconexas e reveladoras de divergências insanáveis, procurando, cada um, ajudar os seus próprios banqueiros. (…)
Os Estados, para acudirem aos bancos e temperarem situações sociais mais gravosas, endividam-se alegremente para tentar conter a crise e alegremente se endividam para lançar obras públicas que impulsionem a retoma. O deficit segue dentro de momentos. (…) 

Sucedem-se as magnas reuniões dos G de várias dimensões (8, 14, 20), os concelhos de ministros da UE, como se sucedem os avisos solenes, saídos de bocas sorridentes, que anunciam a saída breve da crise mas, na realidade, dificilmente se deverão confundir variações conjunturais com sinais consistentes de retoma.
(…)
Neste momento de fraqueza, de falta de legitimidade na opinião pública, o capitalismo vai ressuscitar o pacto social-democrata em que o Estado e as grandes empresas se associam com os sindicatos para estabilizar o sistema?

(…)

Procede-se, de seguida, à apresentação de alguns elementos de carácter sistémico, que aproximam ou diferenciam o capitalismo, no tempo da Grande Depressão e actualmente:

A intervenção estatal após a Grande Recessão dos anos 30 do século passado e inspirada por Keynes procurava, sem dúvida, salvar o capitalismo, nomeadamente a alta finança, tal como hoje vamos observando. 

A recessão daquela época (anos 30) provocou medidas proteccionistas em cada país, com ligações evidentes às derivas nacionalistas que em muitos casos conduziram a regimes fascistas. (…) Então, apesar de muitas afirmações solenes proferidas de retoma, de animação das bolsas, a verdade é que foi preciso esperar pela II Guerra Mundial para que nos EUA, a produção de armamento e a mobilização dos soldados promovessem a saída da estagnação e a redução do Desemprego. Esses resultados foram posteriormente prolongados com a reconstrução da Europa, arrasada pela guerra, através do financiamento pelo Plano Marshall, de apoio aos negócios das grandes empresas americanas, enquanto o dólar engrandecia o seu papel como moeda internacional, naquela época e até 1971, garantida por ouro. (…)

Como se sabe, a partir dos anos 50, foram sendo aplicados elementos conducentes à dinamização do comércio internacional, com o combate declarado ao proteccionismo, com os desarmamentos aduaneiros, com a criação de uma instituição mundial vocacionada para a liberalização do comércio, dos serviços e dos capitais (GATT/OMC) e com as integrações económicas regionais em que a EU vem sendo pioneira.
(…)
Se um país aposta deliberadamente na exportação e os outros não, o primeiro, pode, temporariamente enriquecer; mas, se todos apostam nessa política, com bens mais ou menos semelhantes, é óbvio que o enriquecimento a partir da exportação tem de surgir de factores exteriores – especialização na produção de bens que só alguns são capazes de produzir (o que é, geralmente, temporário) e, simultaneamente, no esmagamento dos custos de produção, o qual tende a coincidir com o modelo dos baixos custos salariais e laborais, aliado ao dumping ambiental. E isso, depende da hierarquia desse país no contexto global, da habilidade da sua burguesia e da maior ou menor combatividade dos explorados.

(...)
Na actual economia globalizada, como se evidencia, hoje, não é difícil imaginar que existe uma matriz de interacções conducentes à entropia e estagnação generalizadas.
As capacidades produtivas existem, mas não há compradores em quantidade suficiente ou poder de compra adequado, pesem embora campanhas promocionais e outros truques, que todos vão utilizando e, por isso, não diferenciam os vendedores. 

Do outro lado da barreira, estão muitos milhões de trabalhadores com rendimentos refreados pelas necessidades de competitividade dos seus patrões exportadores, com o apoio dos governos, na imposição do modelo empobrecedor, baseado em fórmulas de contenção dos gastos públicos de carácter social mas, muito atentos e disponíveis para ajudarem os “empresários” em geral, promover as exportações em particular e manterem sereno e bem oleado os aparelhos militar e de segurança interna. 

Discute-se muito se a retoma vem a caminho, todos procurando ver na escuridão a tal luz ao fundo do túnel. E, é inevitável proceder a comparações com a Grande Recessão dos anos 30.
(.......)  nos primeiros dez meses da actual crise, a queda do comércio mundial é mais acentuada que a verificada em idêntico período durante a recessão dos anos 30; o que indicia que, num modelo baseado na criação redentora de riqueza a partir da exportação, as coisas possam estar complicadas.
(…)
Dito de outro modo, se se justificou que o proteccionismo foi um obstáculo à saída da crise nos anos 30, a globalização excludente actual, sem reduzir as desigualdades do mundo, sem deixar de utilizar a militarização e a guerra como instrumentos de domínio e propondo com toda a veemência as virtudes dos mercados livres, está a conduzir o mundo para uma situação semelhante, se não pior.

A questão não está pois, nos instrumentos que se utilizam para gerar crescimento, emprego, paz e bem-estar. A questão não é se o rícino é servido em prato ou tigela; é o próprio rícino (sistema capitalista) que é intragável, nocivo, pestífero e, portanto, de urgente substituição.

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