18 maio 2009

as faltas dos professores: surrealismos

Claro que nós, professores, estamos fartos de saber (lutar contra) isto, mas pode ser que alguém, fora da profissão, também leia, pasme .. veja como somos uma classe tão 'privilegiada'..

então é assim:

- do "Guia Avaliação do Desempenho" (na página da DGRHE): para efeitos de determinação do grau de cumprimento do serviço lectivo, no Item A1 da ficha, deverá ser tido em conta o disposto no artigo 103.º do ECD. O item A2 pretende avaliar a disponibilidade e o empenho do docente em garantir que as aulas previstas para as suas turmas são efectivamente dadas. Para este efeito, são objecto de apreciação todas as ausências, salvo quando o docente se encontre efectivamente em serviço (por exemplo, em visitas de estudo) ou no exercício do direito à greve.

Ou seja, um professor tem direito a faltar, por doença, por nojo... mas se não garantir posteriormente que essas aulas são "repostas", (=compensadas), é prejudicado na avaliação do seu desempenho.
Aliás, até o direito de faltar por desconto no período de férias (ao abrigo do artigo 102) lhe é retirado na prática .. [e a propósito: o resto da Função Pública continua a ter direito a 12 dias/ano, enquanto, para os professores, esse número foi reduzido para 5 (isto, convém lembrar, numa profissão - a única? - em que se tem falta por se chegar 5 minutos atrasado!! ]

Agora o 'mimo' é que, repondo o professor as aulas a que faltou (e em que, diga-se de passagem, foi substituído..) , ninguém lhe repõe, nem o que lhe é descontado no subsídio de alimentação, nem o(s) dia(s) de férias que perdeu!

Pois ... pergunto-me em que outra profissão isto acontece ..

Quanto aos alunos, fiquem sabendo que odeiam estas reposições. E (a meu ver com toda a razão), se fartam de refilar:
-"Então temos aula de substituição e depois ainda nos fazem cá vir fora do nosso horário para uma aula de compensação?! E com falta se não comparecermos???"
Agora imaginem um professor que, apesar de tudo, até falta bastante (situação só possível com atestado médico, para o próprio ou de assistência a filhos menores) e depois, porque quer ser avaliado com MB ou Excelente, repõe todas essas aulas a que faltou: os alunos deixam de ter tardes disponíveis no seu horário, lá se lhes vai o tempo de lazer, ou o que têm reservado para TPC e outros trabalhos! Fixe, não, papás e mamãs?

.. O que me pergunto (mas isso sou eu que sou chata), é que rendimento se tira disto, com todos os envolvidos revoltados, forçados a , desmotivados?

É .. o nosso ME cuida bem de todos nós - e pensa! pensa mesmo muito, muito, no resultado das suas congeminações!
Em vez de criarem uma bolsa de professores substitutos, que dessem verdadeiramente aulas de substituição (a única situação séria e eficaz, acho eu..) e reconhecerem aos professores um direito que está a ser alienado, o ME prefere ir-nos atirando a todos muita areia para os olhos.
Prefere insistir no que, a mim, me parecem ilegalidades.
Prefere instituir/perpetuar este circo das «aulas» de substituição que agora temos = acompanhamento de alunos = vinte e tal miúdos fechados numa sala, dando cabo da cabeça de um professor/ama-seca ..

Assim vamos longe, pessoal, vamos longe!


- mais detalhes do 'ser professor',
aqui
a imagem acima: um quadro de Escher

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