A propósito de uma notícia publicada no Público de 30 de Outubro,"Audição aprovada por unanimidade: Ministra vai ao Parlamento explicar ideia de acabar com 'chumbos' até ao 9º ano" , onde se lê, nomeadamente, que:
(...) um dos dois relatores do documento do Conselho Nacional de Educação afirmou concordar que os alunos com mais dificuldades tenham mais acompanhamento desde que "isso não signifique que se generalize um sistema de passagens administrativas".
(...) o Conselho Nacional de Educação recomenda que o Ministério da Educação estude "soluções adoptadas noutros países" (...)
(...) o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, explicou que o Governo não quer proibir os chumbos, mas pretende reforçar "as estratégias e as medidas de apoio à recuperação de alunos, de forma a que a retenção e a repetição de ano deixem naturalmente de acontecer".
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Ora é precisamente aqui, nesta ideia da 'naturalidade' com que as coisas acontecem (ou não..) que entra o depoimento da ex-aluna da ESAG* que, na semana passada (teve agora 2 semanas de férias) esteve numa aula da sua antiga turma. Às perguntas dos colegas, da professora, foi dando conta da sua nova realidade, agora frequentando uma escola pública suíça.
Deixo aqui uma transcrição abreviada do diálogo, do relato desta ex-aluna. Cada um que tire as devidas ilações...
- "Então? Gostas da escola? Dos colegas, dos professores? As aulas são muito diferentes?"
- "Bom, para começar, já estou no secundário. Cheguei lá, fiz exame de matemática e francês, puseram-me logo no 10.º ano!" (no comments ..)
- "Gosto da escola, nas aulas aprende-se melhor, não há indisciplina (...) Além disso, para mim está a ser muito fácil, menos nas línguas." (tem 4, este ano, para o ano, mais 2). "Em Ciências, Matemática, estou a dar matéria que aqui já tinha estudado no ano passado." (oitavo ano). Lá os conteúdos são mais 'espalhados', não é tudo a correr, como aqui. Ah, e o secundário tem 4 anos. "
- "Então e os professores?" (insisto)
- "Os professores também são mais 'fixes' (nicer)"
- "A sério?" (reajo, meio ofendida:-) - "Porquê? Como?"
- "Sim, não são tão stressados, as aulas correm sempre bem. Se calhar é porque os alunos lá têm mais respeito, não se portam mal, estão interessados. É uma mentalidade diferente. Um aluno que 'chumbe' 2 anos é expulso da escola."
- "Expulso da escola? Não pode ser!" (digo eu). "Então e a escolaridade obrigatória?"
- "Quem me contou foi uma professora de lá. Mas também disse que nunca viu isso acontecer. Os alunos levam a escola a sério, não 'chumbam'. É outra mentalidade!"
- E acrescentou, para os colegas:
- "Sabem o que eles fazem durante os intervalos maiores? - Lêem livros!" (risos..) "E mais: lá toda a gente se deita cedo, tipo 8 da noite. De manhã as aulas também começam cedo (às 8), e eles, antes de irem para a escola, ligam a televisão na hora das notícias. Para estarem informados do que se passa no mundo." (mais risos..)
Nem mais! - les uns ... et les autres ... n a t u r a l m e n t e ! !
* Escola Secundária António Gedeão, Laranjeiro, Almada
postado por ana lima
no Esagbib,
Novembro de 2008
6 comentários:
"Lá os conteúdos são mais 'espalhados', não é tudo a correr..."
Isto explica porque é que lá ninguém chumba...
Mas tenho uma pergunta, em relação áquilo de se deitarem às 8 da noite e de lerem livros nos intervalos: eles têm vida própria lá, ou vivem apenas para os estudos?
Sábado, 01 Novembro, 2008
Assim se vê quão mal estamos. "Sim senhora, vamos lá passar os alunos, porque os outros países também o fazem", dirá o suprassumo da incompetancia, aquela criatura de nome Maria de Lurdes Rodrigues.
Minha (ini)miga, para si apenas aconselho a leitura deste excelente texto, neste excelente blog, ou de outros, que também os há por aí.
Caso prefira continuar a ignorar que realmente o melhor que poderia fazer ao ensino português (demitir-se, logicamente), pesquise melhor, faça melhor e acabe com esta enorme piada quase kafkiana de tanta burucracia que se impinge a professores e a alunos.
Já agora, André, lá também imagino que tenham "vida própria", mas ao contrário do que acontece cá eles não vão sair à noite a uma quarta-feira, evidentemente.
Mas isso já tem a ver com a mentalidade de cada um de nós. Os portugueses têm a mentalidade do "deixa andar que depois logo remedeio", os suíços já têm uma mentalidade do "é melhor prevenir que remediar".
Isto, claro, é apenas uma opinião, decerto que outros terão outras.
Sábado, 01 Novembro, 2008
Quando da "vida própria" deixar de fazer parte o querer aprender a vida deixa de ser própria, foi entregue a outro, deixada nas mãos de um perigoso desconhecido para que a manipule e determine como bem entender.
O que Portugal está a fazer neste momento é entregar a sua "vida própria" à imbecilidade da ministra da educação.
Não apenas os professores mas também os alunos, os pais, todos — podem e devem, AGIR!
Há quem diga que não há nada a fazer, que o melhor é dar tempo ao tempo mas... será que ainda há tempo para dar?
O tempo passa?
Não, o tempo não passa, ele é uma entidade permanente. Quem passa somos nós e a nossa... "vida própria".
[concordo com tudo o que disse o Tiago].
Valerie
.
Sábado, 01 Novembro, 2008
noob -.-'
Sábado, 01 Novembro, 2008
André: Haverá melhor e maior vida própria que ler e dormir? :)
Também é uma questão cultural, de educação, e de situação geográfica.
Em países mais a Norte às 4 já é de noite; não passa pela cabeça de ninguém(?) que um adolescente em fase crescimento não precise de dormir 8 a 10 h; ler é fazeres fintas à realidade que te impede, muitas vezes, de teres realmente uma " vida própria" .
Tiago : continuas a ser o meu Mestre de Aviz :)))
Domingo, 02 Novembro, 2008
:), Obrigado professora! Acho que sê-lo foi uma experiencia inesquecivel e que me ficará sempre na memória :)
Segunda-feira, 03 Novembro, 2008
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