19 agosto 2011

sobre o artigo de Santana Castilho

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'roubado' do sítio da APEDE ( aqui ), um texto que eu apoio e subscrevo inteira, entusiasticamente!

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«Com a sua contundência habitual – aquela que torna altamente improvável que algum político do centrão o venha a convidar para ministro -, Santana Castilho abordou, nesta sua última crónica, um tema essencial: o vínculo profundo que liga o conceito de avaliação do desempenho a um modelo despótico de gestão que a ideologia neoliberal dominante transferiu do mundo empresarial, onde nasceu, para universos laborais e institucionais originalmente orientados para a prestação de serviços sociais cujo fim último não é (não deveria ser) a produção de lucros com vista à acumulação de capital.

No território das empresas, a avaliação do desempenho tem sido um notável mecanismo de coerção sobre os trabalhadores, dominados pelo jugo das metas e dos objectivos de produção. Muitas vezes arbitrariamente definidas e impossíveis de atingir, essas bitolas são, ainda assim, impostas como forma de manter quem trabalha sob a pressão permanente do patamar inalcançável. Inculcada a ideologia do sucesso, supostamente quantificável e mensurável à luz dos ditos objectivos e metas, a impossibilidade de as realizar é vivida pelo trabalhador como fracasso pessoal e como culpa. No quotidiano despótico das empresas, a violência destes dispositivos de poder tem conduzido a um aumento exponencial das doenças nervosas e até das taxas de suicídio, particularmente obscenas em casos que foram denunciados no país de Sarkozy.

Já o dissemos antes e agora repetimo-lo, movidos pelo texto de Santana Castilho: a introdução deste conceito de avaliação para aferir a qualidade do desempenho docente, feita pela mão de José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues, e agora retomada por Nuno Crato, veio inscrever no exercício da profissão de professor o pior das estratégias de poder e de submissão usadas nas empresas.

E o erro fatal em que os professores – bem como os seus representantes sindicais – se deixaram cair foi precisamente o de aceitarem a inevitabilidade desta ideia de avaliação, como se de uma evidência se tratasse para a qual não haveria alternativa credível. Fragilizados perante a propaganda anti-docente montada pelos agentes do governo e pelos serventuários que regurgitam o que passa por opinião pública, os professores – todos nós – caíram na armadilha e cederam à chantagem. Capitularam face à imposição de um modelo de avaliação por «metas e objectivos», com receio de que a “opinião pública” pensasse que, afinal, os professores não queriam ser avaliados – o que, hoje em dia, parece quase um crime anti-social.

Divergir do rebanho traz sempre os seus riscos. Mas também acarreta as suas recompensas, às vezes inesperadas. Talvez tenha chegado o tempo de afirmar muito claramente, sem medo de escandalizar os nossos queridos conterrâneos, que, se a avaliação é esta coacção imbecil, então os professores não querem mesmo ser avaliados. »
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