11 julho 2011

escrevo o teu nome ..

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... e
vou-me,
com um beijo.

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Ordem e Turbulência do Amor
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Para começar citarei os elementos
A tua voz os teus olhos as tuas mãos os teus lábios
Paul Éluard

Eu vivo sobre esta terra e pergunto-me
Se nela viveria se tu nela não estivesses também

Neste banho postado em face
Do mar de água doce

Neste banho que a chama
Edificou nos nossos olhos

Este banho de lágrimas jubilosas
Em que penetrei
Pela virtude das tuas mãos
Pela graça dos teus lábios

Este estado humano primordial
Como uma pradaria dos começos

Os nossos silêncios as nossas palavras
A luz que se vai
A luz que de novo volta
A aurora e o crespúsculo fazem-nos rir

No cerne do nosso corpo
Tudo se torna flor e amadurece

Sobre a palha da tua vida
Onde deito a velha carcaça

Em que me tornei por fim.
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Paul Éluard, in “últimos poemas de amor” relógio d’água, 2002
trad. Maria Gabriela Llansol

poema retirado daqui 
foto retirada daqui

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Liberdade
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Nos meus cadernos de estudante
Na escrivaninha e nas árvores
Na areia nevada
Escrevo o teu nome

Nas páginas lidas
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel ou cinza
Escrevo o teu nome

Nas imagens douradas
Nas armas dos guerreiros
Na coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Na selva e no deserto
Nos ninhos entre as giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome

Nos meus trapos de caloiro
No açude de sol bafiento
No lago de lua esperta
Escrevo o teu nome

Nos campos no horizonte
Nas asas dos passarinhos
No moinho tenebroso
Escrevo o teu nome

Em cada sopro da manhã
No mar e nos navios
Na insensata montanha
Escrevo o teu nome

Na espuma das nuvens
E nos suores da borrasca
Na chuva densa e insípida
Escrevo o teu nome

Nas formas cintilantes
Nas cores dos sinos
Na verdade física
Escrevo o teu nome

Nos caminhos conscientes
Nas estradas estendidas
Nas praças que trasbordam
Escrevo o teu nome

Na lâmpada que se acende
E naquela que se apaga
Nas minhas razões reunidas
Escrevo o teu nome

No fruto cortado em dois
Do espelho e do meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo o teu nome

No meu cão glutão e terno
De orelhas levantadas
Na sua pata desastrada
Escrevo o teu nome

No limiar da minha porta
Nos objectos familiares
No rolo de fogo sagrado
Escrevo o teu nome

Em toda carne acordada
Na testa dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome

Na janela de surpresas
E nos lábios comoventes
Mais longe que o silêncio
Escrevo o teu nome

Nos refúgios destruídos
Nos meus faróis extintos
Nos muros do meu tédio
Escrevo o teu nome

Na vacuidade sem desejo
Na desnuda solidão
Nas escadas da morte
Escrevo o teu nome

Na saúde reencontrada
No risco extraviado
Na fé sem recordação
Escrevo o teu nome

E pelo poder duma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para te nomear.

Paul Éluard
in Poésies et vérités, 1942

Tradução: Fernando Oliveira

retirado daqui

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