08 julho 2011

ainda a pê da adêdê ..

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onde se fala de ADD, PPC, NC, RM; de políticas vira-casacas, venham elas de políticos de carreira ou dos 'outros'; de incongruências várias; de farsantes e maus-carácter; e etc.
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- para começar, coloco o texto do Octávio Gonçalves na íntegra, porque acho óptima a sua desmontagem do 'espectáculo' - retirado daqui

Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

Não adianta atirar areia aos olhos dos professores

Decorrida uma quinzena após a tomada de posse do novo Governo, nem o modelo de avaliação do desempenho docente é revogado, nem são avançadas justificações minimamente plausíveis para a violação grosseira de um compromisso eleitoral, o que lança um inevitável anátema de falta de transparência e de legítima desconfiança relativamente a uma nova governação, que se apresentou aos professores, em versão retórica e em dissimulação eleitoral, como desejando suportar-se numa "relação de confiança".
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Desde logo, há duas questões constringentes e inescapáveis, que já formulei e que aqui recupero, as quais, por um imperativo de seriedade intelectual, não podem deixar de ser convincentemente respondidas, a montante de qualquer defesa da postura política de Pedro Passos Coelho em matéria de Educação e de avaliação dos professores, por aqueles que se vêm arvorando em porta-vozes e defensores do Coelhismo e do Cratismo. Ei-las:

1. Em que razões de oportunidade e de seriedade fundamentam a decisão de Pedro Passos Coelho em não revogar o actual modelo de avaliação do desempenho, permitindo que processos "monstruosos" e "kafkianos" sejam finalizados e produzam consequências para a vida dos professores e para o agravamento da conflitualidade nas escolas?
 2. Independentemente de quem Pedro Passos Coelho convidasse para assumir o lugar de ministro da Educação, acham credível e gerador de confiança que um líder político troque, em três dias, medidas programáticas que considerou serem a base de um programa de governo e pelas quais empenhou, publicamente, a sua palavra, por outras que são a antítese daquelas?

Mas, vamos ao ponto de situação da desmistificação dos argumentos que por aí vão sendo alvitrados a benefício da pirueta do PSD e do Governo em termos do incumprimento da revogação da palhaçada avaliativa que vai pelas escolas estatais.
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O único argumento tornado público pelo Primeiro-Ministro, acoitando-se na inexistência de tempo útil para proceder à definição de um modelo alternativo, não passa de uma mentira que foi absolutamente desmascarada por Santana Castilho, na crónica publicada, na última quarta-feira, no jornal Público.
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Por seu lado, o Ministro da Educação e Ciência procurou desvalorizar a centralidade da avaliação dos professores (o que devendo ser verdade em teoria, revela cegueira ou insensibilidade à omnipresença e à nuclearização obsessiva que os processos avaliativos têm assumido nas práticas quotidianas e concretas das escolas), por um lado, fugindo à justificação pública da quebra da trajectória e do compromisso eleitoral do PSD, e, por outro, evidenciando uma aterradora ignorância sobre o potencial de conflitualidade, de arbitrariedade, de opacidade e de injustiça que o modelo de avaliação em vigor tem e continua a ter na vida diária das escolas e na disposição dos professores. Ao mesmo tempo, foi dizendo que os processos de avaliação em curso são pouco fiáveis e colocam em causa o regular funcionamento das escolas, mas mostrou-se confrangedoramente impotente e demasiado laxista para agir em conformidade com a gravidade destas afirmações, interrompendo, de imediato, procedimentos e resultados assim qualificados.
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Ultimamente, emergiram, em alguma blogosfera docente, auto-catapultada a porta-voz oficiosa de Nuno Crato, duas razões caricatas para justificar a não revogação da ADD e que são as seguintes:
  • o decreto-regulamentar de revogação da ADD seria vetado pelo Presidente da República, o que abriria uma guerra institucional indesejável no início da governação;
  • o Ministro da Educação reuniu com a DGRHE e foi-lhe transmitido que a avaliação do desempenho estava a correr sobre rodas, tendo a maioria dos professores já procedido à entrega dos seus relatórios de auto-avaliação.
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Já nem discuto a perda absoluta de credibilidade que adviria ao Ministério da Educação se enveredasse por confiar informação a mensageiros tão inconstantes (algo em que não acredito), mas, estas falácias delirantes merecem-me os quatro seguintes contra-argumentos:
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- a primeira pretensa razão esconde propositadamente a motivação que levou o Presidente da República a remeter a suspensão parlamentar da ADD para o Tribunal Constitucional, onde obteve acolhimento por se tratar de uma intromissão inconstitucional nos actos da governação, pelo que nunca o Presidente da República apreciou o mérito desta ADD em si mesma, o que colidiria com a sua própria preocupação de não interferência nos actos governativos (a não ser que estivessem em causa questões de constitucionalidade ou de regime, o que não é o caso), além de que a revogação, por parte do Governo, corresponderia ao cumprimento de uma promessa eleitoral, postura que tem vindo a ser enfatizada nos discursos de Cavaco Silva;
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- o segundo pretenso argumento seria altamente perturbador do juízo sobre a imparcialidade e a sensatez do Ministro da Educação, esquecendo que, desde os tempos de Maria de Lurdes Rodrigues, sempre o Ministério da Educação argumentou com a normalidade e sempre negou a existência de problemas no terreno decorrentes do modelo de avaliação;
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- além de a DGRHE não possuir ainda dados concludentes sobre a entrega de relatórios, uma coisa é o cumprimento dos procedimentos legais, outra coisa bem diferente é a natureza e as consequências desses procedimentos nas escolas, enquanto realidades que escapam às estruturas do Ministério da Educação;
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- a ter ocorrido a captura e a submissão do Ministro da Educação a uma visão parcelar, distanciada, distorcida e auto-interessada de uma das estruturas do Ministério, então, tal seria arrepiante, pois, ao invés de ser o Ministro a "implodir o Ministério da Educação", teria sido este a implodir o Ministro.

Esta Avaliação do Desempenho é uma FARSA e quem a legitimar, politicamente, chame-se Sócrates, Rodrigues, Alçada, Coelho ou Crato, é FARSANTE!

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e do Eduprofs, aqui
por  J. Amorim«O meu comentário ao texto "As razões de Nuno Crato para não suspender já a avaliação de desempenho" no blogue do Professor Ramiro Marques, ProfBlog.» - excerto:

Razões para suspender a ADD
(...)
Em terceiro lugar a informação que chega à DGRHE é na generalidade dos casos aquela que interessa que seja transmitida pelas pessoas que a transmitem, estando distante de reflectir a opinião dos professores.
Por outro lado, como pode estar o ministro descansado com um modelo “monstruoso e kafkiano”, que tem causado graves perturbações dentro das escolas e impede os professores de realizar um trabalho dedicado aos seus alunos e à sua principal função, que é ensinar?!
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Existe contestação visível nas escolas ao processo de avaliação de desempenho e existe mal-estar, desconfiança e frustração em muitos agrupamentos e escolas. Os professores não estão a interiorizar e a aceitar as rotinas impostas pelos procedimentos da avaliação de desempenho. Pelo contrário, os professores estão a fazer a avaliação porque a isso são obrigados, para não serem mais afectados do que já o foram com os cortes e as medidas impostas, recentemente, a toda a função pública.
Por que é dado como adquirido o veto presidencial à suspensão da ADD? Durante a campanha eleitoral não foi reiterada, pelo actual Primeiro Ministro, a ideia de que era preciso acabar com este modelo de avaliação, afirmando até já ter outro modelo para apresentar como alternativa? Isso não legitima o governo a suspender o modelo ainda em vigor?! Na ocasião, o veto presidencial deu-se com fundamento no facto da iniciativa da suspensão do modelo de ADD ter partido da assembleia da república e não do governo como manda a constituição. Agora esse argumento deixa de se colocar, porque a iniciativa da suspensão deste modelo já poderá partir do governo.
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Se o governo reunir com os sindicatos e chegar a um acordo sobre a suspensão imediata deste modelo e dos seus efeitos directos, (evitando assim injustiças e prejuízos injustificados sobre os professores) iria o senhor Presidente da República vetar o diploma? Que razões o orientariam para tal atitude?!
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Não defendeu o actual Primeiro Ministro uma avaliação no final de cada escalão da carreira docente em vez dela ocorrer por ciclos bianuais, como agora acontece? Não estão congeladas as progressões? Qual o interesse de uma avaliação sem qualquer carácter formativo, que apenas tem o efeito de impedir a progressão sobretudo dos docentes do 4.º e 6.º escalões, que já completaram o tempo de serviço entre 1 de setembro e 31 de dezembro de 2010 porque o ME decidiu não cumprir o acordado e não publicou o normativo necessário? Por que razão os docentes do índice 245, que aguardavam completar os 6 anos de serviço no antigo 8.º escalão, estão impedidos de progredir, tendo sido ultrapassados por colegas com menos tempo de serviço?
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As razões que no passado uniram os professores numa luta sem tréguas ao modelo de avaliação e mobilizaram políticos no mesmo sentido ter-se-ão alterado tão substancialmente apenas porque estes últimos se mudaram da oposição para o governo? A independência que até agora alguns anunciaram deixou de existir, ou outros interesses mais altos se levantam?
É muito estranha a mudança de postura e de comportamento de alguns acérrimos defensores da luta dos professores, até ao dia 5 de Junho, que agora parecem ter mudado de opinião ou pelo menos de estratégia e que ainda não se explicaram!
Vamos aguardar pelo futuro próximo com a esperança de que haja coerência e que a tão anunciada política de verdade se cumpra, não seguindo os exemplos de políticos de um passado bem recente e marcante. 

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aqui, o ionesco post de Ramiro Marques - que me suscita séria preocupação
  • dizendo o que diz, RM. só pode estar seriamente doente, e nesse caso lamento imenso o deplorável estado da sua saúde ..
  • não estando doente, então, o RM terá de mudar - urgentemente!! - o nome ao seu blogue: é que ele agora vem demonstrando não saber nada, mas mesmo NADA, do que se passa com os professores e nas escolas deste país, e muito especialmente no que concerne ao processo em curso da ADD !!! - isto, por mais opiniões que a DGRE (tão credível agora como no tempo da sinistra...) faça transpirar ..
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do mesmo sítio, 2 comentários:
  1. Pelo escrito depreendo que o Ramiro esteve presente na dita reunião entre a a DGHRE e o Ministro. Na qualidade de?
  2. . .
  3. A farsa continua! Quando não se quer mexer em nada todos os argumentos são válidos! A política é isto mesmo. O que hoje é verdade amanhã é mentira! Haja paciência...já ninguém aguenta o modelo 'chileno' imposto aos professores. Admitam este facto, façam inquéritos nas escolas aos professores e tenham a coragem política para voltar atrás! Rasguem este modelo de avaliação que se tivesse a notação da agência financeira moody´s há muito tempo que era de'lixo'. Pior do que não ser avaliado é ter um modelo de avaliação que não consegue avaliar nada! Este 'lixo' nem para reciclar dá, por isso é preciso criar um novo modelo em que os professores se vejam valorizados e não sejam tratados ao nível da notação anteriormente citada!
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do Ramiro Marques que já foi, a ler com atenção:

1.
3 de Junho de 2009 - aqui
Durante os últimos três anos, os professores portugueses habituaram-se a ouvi-lo (SC) com respeito e admiração pela frontalidade, coragem, independência e elegância da escrita. É a figura pública que mais e melhor tem criticado os efeitos nefastos das políticas educativas do Governo de José Sócrates. A sua coluna no Público ecoa pela blogosfera com evidente agrado dos bloggers. É provavelmente a coluna de Educação mais comentada e linkada na blogosfera.-   (eu ... pergunto: um dos "efeitos nefastos das políticas educativas do Governo de José Sócrates" não foi, precisamente, a imposição deste modelo de ADD? as violentas alterações ao ECD??)
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2.
daqui :
4 de novembro de 2009

Santana Castilho, Mário Nogueira e João Dias da Silva no debate sobre política educativa promovido esta manhã pelo PSD

Santana Castilho distribuiu aos presentes um texto de 10 páginas com o título "Dessacralizando a Avaliação de Desempenho". Para ter acesso ao texto completo, clique aqui. É um texto que desmonta os putativos efeitos benéficos da avaliação de desempenho na qualidade das aprendizagens.

O autor faz a crítica dos modelos de avaliação de desempenho de tipo taylorista e contrapõe-lhes modelos não burocráticos e que evitem a armadilha da quantificação e das grelhas. E afirma que os modelos de avaliação das empresas que produzem bens tangíveis não se aplicam às organizações que prestam serviços e bens não tangíveis como é o caso da escola.

Castilho desmistifica a ideia de que, nas últimas décadas os professores não teriam sido avaliados e defende a ideia de que as instituições maduras se preocupam mais com a promoção dos valores que potenciam, a partir de dentro, a melhoria dos desempenhos do que na criação de instrumentos de medida que visam promover a melhoria de desempenho através de sistemas de prémios e penalizações.
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3.
.. e mais interessante ainda (é, a www é 'lixada'..)
24 de Abril de 2008

Bases para uma Avaliação de Desempenho Justa e Exequível, por ... Ramiro Marques : aqui
um excerto:

1.3.Quem deve fazer a avaliação de desempenho?

Depois do que disse atrás, a resposta é óbvia: nunca os pares. Porquê?
  • Para evitar conflitos nas escolas e divisões nos professores. 
  • Para evitar a subjectividade e as perseguições por delito de opinião ou por questões meramente pessoais. 
  • Para evitar uma sobrecarga de trabalho impossível de aceitar por parte dos coordenadores de departamento. 
  • Para evitar que um professor de Educação Física observe e avalie as aulas de um professor de Música.
Ramiro Marques
(professor na ESE de Santarém) 
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.....  afinal como é, Ramiro?! .........
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