26 junho 2011

espectáculo não enche barriga!

in Público, 25/6/11
Opinião
Por Vasco Pulido Valente 



O espectáculo Passos Coelho
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Um ministro resolveu ir tomar posse de Vespa, demonstrando assim a sua modéstia, informalidade e juventude (não se imagina Catroga de bicicleta, pois não?) e, além disso, o que é ainda melhor, de acordo com o ambiente e a crise. No mesmo dia, Pedro Passos Coelho anunciou que ele (e, suponho, que o funcionalismo) passarão daqui em diante a viajar na Europa em "classe económica". E, não contente com isso, acabou com os governadores civis, sem acabar com os governos civis. Nenhuma destas tremendas decisões vai, evidentemente, fazer a menor diferença na vida dos portugueses. Dizem os peritos que são actos simbólicos, uma espécie de voto de pobreza laico e moderno e uma demonstração de que os grandes, embora na módica medida da sua natureza, sofrem tanto como os pequenos.

Infelizmente, o público ignora que o primeiro-ministro, mesmo voando todo torcidinho para Bruxelas, goza de extraordinários privilégios - como de resto lhe compete. Ou que o Estado é proprietário de um parque de 29.000 automóveis, que se destinam ao uso oficial e "pessoal" (que uso pessoal?) de quem manda (e certamente manda bem) no indigenato. A esses o dr. Passos Coelho por enquanto não lhes tirou nada. Nem me cheira que tire, porque a propaganda não valeria muito e ele próprio não teria a oportunidade de se mostrar à chuva na fila do autocarro de Massamá-S. Bento. A política do gesto, ou se quiserem do símbolo, é notoriamente limitada. Talvez provoque alguma simpatia ingénua e distraia as pessoas por um minuto ou dois de coisas mais sérias. Mas não é para levar a sério.

O mal é que este novo regime (reconheço que em estilo soft) até agora só se preocupou com aparências. Começou com o número mágico dos dez ministros, que no fim lá ficaram por 11 e não poupam um tostão a ninguém. A seguir, apareceram os quatro independentes, sempre uma experiência perigosíssima que se pode com facilidade pagar cara. Como também o principal número da festa, a "lufada de ar fresco", que é, no fundo, a proverbial quantidade desconhecida, em que não há razões para acreditar ou não acreditar. À superfície, os portugueses, com a sua habitual preguiça de pensar, andam contentíssimos com o espectáculo. Não deviam; deviam esperar por alguma mudança substancial e sólida. O espectáculo, às vezes, consola a alma, mas não enche a barriga.

retirado daqui

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