23 maio 2011

A Obesidade Mental

um post recuperado e acrescentado:

A Obesidade Mental - Andrew Oitke
Por João César das Neves - 26 de Fev 2010

O Professor Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.» Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.

Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hambúrgueres do espírito, as revistas e romances [os da chamada literatura light/pink, digo eu..] são os donuts da imaginação.»

O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.

Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.» O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»

Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandela é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.

O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.»



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2008
"o Estado, o mais frio de todos os monstros..."(Nietzsche,1844-1900):

Toda a gente sabe que hoje se aprende menos e pior que há algumas dezenas de anos. O que não se percebe é como e porquê, em vez de fazermos agora melhor do que no passado, fazemos pior, persistindo nos erros, não os corrigindo e até os agravando, escorregando impotentes pela ladeira da incompetência, da incultura e da iliteracia.. Como é que esta situação se mantém fora de controlo ao longo dos anos? Há já algum tempo, Guilherme Valente contava-me que em determinada reunião de uma estrutura oficial, um dos participantes fez uma crítica radical e uma análise extremamente lúcida ao sistema de ensino. Quem falava era um especialista sério, com longos anos de experiência e investigação no sector. A nota dissonante é que ele fora até há pouco tempo Ministro da Educação e não tinha conseguido alterar a inércia de que este titanic vai animado. Apesar de o ex-ministro se mostrar consciente dos erros de fundo de todo o sistema (que conhece como poucos), o próprio sistema impede a sua transformação, porque contém nele o estigma que perpetua e reproduz a informação que o impede de mudar radicalmente (quer dizer, na raiz). Cada vez mais os aparelhos monstruosos que brotaram no século XIX - os partidos posteriormente agrupados em internacionais e lóbis mundiais e regionais, os sindicatos que depois se confederaram, as grandes empresas que evoluíram para os grandes grupos económicos e as multinacionais actuais e os Estados - geram em si mesmos a respectiva continuação, locomotivas sem freio, alimentadas no carvão da auto-preservação que é o destino único da sua única linha.

por Carlos Ventura
2 Julho 2008
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