25 abril 2011

as portas que Abril abriu

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Crónica de Opinião
por Rogério Severino, Jornalista

publicada em 1999  e tão actual hoje como então ..


Os homens do 25 de Novembro não podem comemorar o 25 de Abril

(…) a 25 anos do 25 de Abril de 1974...
Não é hábito escrever na primeira pessoa mas neste caso tenho que dizer que não é este o meu 25 de Abril nem nada me identifica com ele. Não o comemoro e tenho por ele a maior indiferença pois esta data nada significa para aqueles que lutaram de facto por um Portugal melhor, sem explorados nem oprimidos.

O meu 25 de Abril foi o que pôs fim à guerra colonial. Mas para a tropa fandanga que está no Governo*, morrer nas ex-colónias era uma morte ao serviço da ditadura. Se os nossos jovens morrerem ao serviço da OTAN é uma morte democrática. Espero, por isso, que se houver necessidade, os governantes sejam os primeiros a enviar os seus filhos para a guerra, para não serem, como habitualmente, os filhos dos outros. Depois, os filhos dos deputados, dos 'boys' e de todos os que se serviram do 25 de Abril para ficarem muito bem na vida. Já que a morte é democrática, que comece por eles.

O meu 25 de Abril foi para levar o povo ao Poder não foi para tirar o Poder ao povo dando-lhe em troca um voto. Hoje, temos no Governo, no Parlamento, nos Conselhos de Administração das empresas, nas autarquias, nos Serviços que tenham cargos de nomeação política, gente que se não fosse o 25 de Abril não passariam de vulgares amanuenses. Devido ao 25 de Abril e porque distorceram a mensagem e a intenção, temos em S. Bento tropa que nem na rua deles seriam eleitos deputados e muitas vezes nem em casa. Vão todos a reboque dos Partidos.

O meu 25 de Abril resolvia o problema da habitação, da saúde, da educação e do emprego. Com esta tropa fandanga no Poder (só lá está com o beneplácito dos americanos pois quando não lhes agradar, invadem-nos) estes problemas não só não foram resolvidos como temos hoje uma classe média depauperada, endividada, e uma classe baixa que já não pode ser mais pobre.

O meu 25 de Abril criava condições para que os jovens fossem felizes, criativos, alegres e com amor à vida. Com esta tropa fandanga, que distorceu o 25 de Abril a grande parte da nossa juventude está espalhada pelas prisões devido à toxicodependência, pelos hospitais devido à SIDA e diariamente pelos Tribunais, para aumentarem o Registo Criminal.

Com tudo isto, este País, estes governantes não têm o direito moral de comemorar o 25 de Abril, apossando-se de um sentimento de liberdade que não têm. Comemorem, isso sim, o 25 de Novembro. Ou já se esqueceram das punições com que os direitistas, com o beneplácito dos autodenominados socialistas fizeram aos militares de Abril? É a direita que puniu Salgueiro Maia, enviando-o para os Açores, negando à viúva o direito à pensão quando os Pides tinham todas as mordomias, que festeja o 25 de Abril? É a direita que avalizou a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho e que passou à reserva outros militares de Abril, que hoje se reivindica de democrática? E onde estavam os 'socialistas' na altura? A pactuar, a fazer acordos, a discutir lugares.

Vinte e cinco anos depois, só o povo, os explorados e oprimidos, os sem casa, sem emprego, sem condições de saúde e sem possibilidades de dar educação aos filhos, só esses, que continuam a ser as vítimas do capital, podem comemorar Abril. O mesmo Abril que se fez para acabar com as oligarquias mas onde o Governo dito socialista voltou a dar à mesma meia dúzia de famílias o poder e deter a grande capacidade financeira do País.

O meu 25 de Abril nada tem com a globalização, nada tem com a guerra, e respeita os países. Hoje o meu País é um protectorado dos fascistas americanos, donos e senhores do mundo, onde, do cimo da sua infinita 'bondade' deixam Portugal parecer independente. 

Comemorar o 25 de Abril de 1974 com as gentes do 25 de Novembro de 1975 é uma ofensa histórica, é um erro histórico. Mesmo assim os ideais de 1974 estão vivos. E há quem se reveja neles e nunca esqueça os dias de liberdade. Nessa altura, tal como Neruda, posso dizer: Confesso que vivi.

Rogério Severino - 19-04-1999

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Titulares dos governos constitucionais (depois de 1976)
vira o disco ...

    (Primeiro Ministro)     Partido Político  Mandato

Mário  Soares    Partido Socialista 1976-1978

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Alfredo Nobre da Costa
   .
   Nomeação presidencial
1978-1978

Carlos Alberto da Mota Pinto
   Nomeação presidencial
   (Partido Social-Democrata)
1978-1979

Maria de Lourdes Pintasilgo    .
   Nomeação presidencial
   (Partido Socialista)
1979-1980

 .
Francisco de Sá-Carneiro
   .
   Partido Social-Democrata
 .
1980-1980

DiogoFreitas do Amaral (interino)    Centro Democrático Social        1980-1981

Francisco Pinto Balsemão    Partido Social-Democrata 1981-1983

Mário Soares    Partido Socialista 1983-1985

Aníbal Cavaco Silva    Partido Social-Democrata 1985-1995

António  Guterres    Partido Socialista 1995-2002

José Manuel Durão Barroso    Partido Social-Democrata 2002-2004

Pedro  Santana Lopes    Partido Social-Democrata 2004-2005
José Sócrates Pinto de Sousa    Partido Socialista  .
2005 -2011


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(III República)

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