27 novembro 2010

escola pública, os pontos nos ii - ou.. um post revisitado

é, o post em questão está quase a fazer dois anos (é de Janeiro de 2009), mas ao relê-lo (e vá-se lá saber por que me deu vontade de fazê-lo..) dou-me conta de como, realmente, é tão pertinente a máxima segundo a qual "é preciso que alguma coisa mude para que tudo continue exactamente na mesma"!

ora vejamos.. tudo começou (e transcrevo parte do que na altura se me afigurou dizer) com uma declaração da escritora Lídia Jorge para o jornal Público, a propósito de uma greve (manif, já ñ sei..) que envolveu os professores durante o inferno mlr:

« a escola pública portuguesa precisa de proceder a uma revolução nos métodos de trabalho.»

Ora .. sempre que há mudança de governo, a escola, o sistema educativo, sofrem revoluções / involuções - precisamente e apenas, a nível dos métodos / metodologias de trabalho e de ensino.
Sempre os vários governantes partem de um mesmo pressuposto/ falácia : a de que os responsáveis pelo insucesso do sistema são os professores, dos quais invariavelmente se espera que se adaptem e se renovem ao ritmo dos apetites de quem decide os destinos da educação. 

Nos meus mais de 30 anos de serviço já experimentei ou aprendi sobre métodos e teorias das mais variadas, algumas perfeitamente mirabolantes: a sugestopedia, aquela com que me brindaram no estágio, e que era, no final da década de 80, o último grito das pedagogias em ciências da educação , agora a novel e omnipresente revolução tecnológica ..

A tudo os professores vão dando resposta, acções de formação sobre acções de formação, trabalho de casa sistemático, malabarismos/ contorcionismos indiciadores de uma invulgar capacidade de adaptação/renovação que qualquer ME sério e atento aplaudiria de pé. No entanto, e apesar - ou por causa de - tanta experimentação, melhorias palpáveis, realistas, no que concerne às aprendizagens dos alunos, honestamente .. nenhumas. Corolário lógico: a culpa, ao contrário do que pretendem os vários podres poderes, alguns iluminados personagens da nossa praça, NÃO É dos professores!

Alteram-se os métodos de trabalho, as metodologias de ensino, a prática pedagógica. Um vector, no entanto, permanece: a 'macro-visão' do sistema educativo, mais as suas vertentes operacionais: os curricula e o sistema de transição dos alunos durante todo o período da escolaridade obrigatória, minado de disposições facilitistas apoiadas por uma rede burocrática 'infurável'.

Apenas um exemplo, flagrante, dessas aberrações, no que respeita ao sistema de transição:
  • os alunos do ensino básico (2.º e 3º ciclos, do 5º ao 9.º) podem transitar, ano após ano, com avaliação negativa a 3 disciplinas, que, previsivelmente, até serão sempre as mesmas..
  • duas dessas disciplinas podem ser, por exemplo, a matemática e o inglês - ano após ano, até concluírem o 9.º
Que ilações retiraria qualquer pessoa sensata destas circunstâncias? Que consequências advêm deste sistema de progressão? Basicamente, duas: iliteracia funcional e interiorização do facilitismo, por parte, quer dos próprios alunos, quer dos seus encarregados de educação, ambas, por seu lado, conduzindo a outras situações perversas:
  • o elevadíssimo insucesso no 10.º ano /abandono escolar no ensino secundário, porque regido por diferentes regras;
  • o desinteresse e a indisciplina - em pelo menos 3 disciplinas - factores predominantemente inibidores das aprendizagens, e que grassam nos ciclos de escolaridade obrigatória. Estendê-la ao 12.º ano FOI um erro crasso, porquanto não foram corrigidas as disposições que ainda vigoram.


Pois..

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