20 novembro 2010

da greve de dia 24 ..

por Marília Azevêdo
in DN Madeira, aqui

Passageiros clandestinos
É o caso dos não grevistas (*)  que beneficiam da luta dos outros sem perderem o salário
(*) no bons, velhos tempos, chamavam-se fura-greves, amarelos ..)
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«Vivemos um tempo demasiado complexo e angustiante. Confrontados, diariamente, com notícias que nos falam da crise em todas as tonalidades possíveis, que anunciam o empobrecimento generalizado da população e, o encerramento de empresas que lançam para o desemprego centenas de pessoas, aumentando um já insustentável nível de desemprego, de insegurança, precariedade e exclusão social.

Um tempo em que tentam vender a paradoxal teoria de que um verdadeiro estado social é aquele que reduz a protecção social e destrói os serviços públicos. Um tempo em que as perspectivas de futuro são quase um não-futuro.

Neste contexto, cinzento e asfixiante, é fácil ser dominado pelo sentimento de impotência e pelo desalento. Pela sensação de claustrofobia castradora do "não há nada a fazer". Mas há. São tempos como estes que exigem de todos uma resposta à altura. Uma resposta que passa por unir esforços e vontades para lutar por uma mudança, verdadeiramente, significativa.

A união de esforços em torno de uma luta comum levou a que a CGTP-IN e a UGT se juntassem na proposta da Greve Geral para o próximo dia 24 de Novembro. A união de esforços, porém, não isenta ninguém da individual responsabilidade de participar e agir.

Por isso, faz-me alguma confusão assistir a um grupo, não negligenciável, de cidadãos, que se arrogam no direito de assobiar para o lado, como se nada de importante se estivesse a passar. Esse grupo de cidadãos é o exemplo típico do que o economista Macur Olson caracterizou como "passageiro clandestino" na sua obra "The Logic Of Collective Action".

Como "passageiro clandestino" Olson identifica o membro de um colectivo que beneficia da acção pública desse colectivo, sem nada investir nessa acção concreta.
É o caso dos não grevistas que beneficiam da luta dos outros sem perderem o salário correspondente aos dias de greve convocadas pelos sindicatos, ou sem o incómodo de participar em vigílias, manifestações e outras acções de protesto. É fácil identificá-los.

São os "heróis" que no meio da crise e da contestação escolhem como alvo os sindicatos e os dirigentes sindicais. Que contestam as medidas anunciadas pelo Governo, fazendo, pasme-se, oposição aos sindicatos como se tivessem sido estes a apresentá-las e a aprová-las.

Incapazes de contribuir de forma construtiva para a solução dos problemas, a sua verborreia tem como único objectivo atingir as pessoas que, muitas vezes, em contextos difíceis, conseguem melhorar os seus interesses quer pessoais quer profissionais.

São os mesmos que depois arrogam direitos de interpretação como se tivessem contribuído para a mudança.

Não há como desistir de sermos protagonistas da nossa História. Temos, no entanto, a obrigação de escolher a forma como seremos recordados.

Eu vou fazer greve no dia 24 de Novembro. Porque não desisto de tentar deixar um mundo melhor para os meus filhos! »

*
Eu também vou fazer greve no dia 24. Porque tenho mais que razões para estar revoltada, para me sentir lesada por estas políticas e estes políticos. Não acho que uma greve de um dia (por mais geral..) vá alterar seja o que for neste mundo.

Neste campo, gostava...
  • de ser francesa. ou grega.   - ver aqui
  • de poder contar (há anos!) com um fundo de greve (e já lá vão 36 desde o 25 de Abril..)
  • que a união das 2 centrais sindicais não fosse motivo de notícia (por inédita/histórica/especial), num tempo em que, de há muito, vimos (quase)todos - trabalhadores com ou sem partido - a ser nada menos que siderados.
.
Gostava ..

  • de não ter compatriotas burros, tolhidos de medo, desinformados, oportunistas, acéfalos,  umbiguistas, carneiros ignorantes, inertes nêsperas.
  • de não precisar de explicar o óbvio
  • de não ter de ouvir justificações esfarrapadas dos "passageiros clandestinos" meus co-workers, ou de ler comentários alarves como alguns que se seguem ao artigo transcrito.
  • que fossem 'condenados' a ser professores todos os seus algozes militantes.


(*)
A Nêspera

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse,
olha uma nêspera!
e zás, comeu-a.

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece.

in Novos Contos do Gin

a imagem (dividida): "punhos", de Helena Almeida

3 comentários:

Em@ disse...

Pois eu também faço grEve e também gostava do mesmo que tu.
acrescento só que, gostava, principalmente, que não tivessemos motivos para fazer greve(s)...e que não existissem "passageiros clandestinos" nesta luta.
já tinha ampliado este artº, ontem chegou-me pelas mãos da Lelé, via FB.
beijo , Ana .

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apaguei o outro por causa dos typos

AL disse...

tens razão, Em@, bom mesmo era vivermos num estado socialista, sem ter de lhe pôr aspas no adjectivo..
bjinho!

Anónimo disse...

Obrigada, Ana.
Concordo.
Também acho que na prática não "adianta muito" a greve,além disso tenho turmas profissionais e efas e serei obrigada a repor essas aulas (um absurdo!), mas visto que há tantos sindicatos a aderir, finalmente, devemos ser solidários como povo e ser a "voz", com a nossa greve, de quem realmente a não pode fazer (os precários, os desempregados... e não quem se fica a chorar apenas pelo dinheiro de um dia de greve). Também acho que deveria haver o tal fundo de greve,como em alguns países e lamento que as bestas se vão apanhar com os nossos salários nos seus bolsos para gastar em mais deboches, mas é uma rara oportunidade de mostrarmos a força do nosso descontentamento como povo que está a ser massacrado e despojado dos seus direitos.

Um grande Xi-coração,
M-Joy