Prémio Camões: A poesia «valeu a pena», diz Ferreira Gullar
Emocionado durante a entrega do Prémio Camões 2010, na noite de quinta-feira (16 de Setembro) , no Rio de Janeiro, o poeta maranhense Ferreira Gullar disse que toda a sua poesia «valeu a pena» e, se depender dele, não vai parar de escrever tão cedo.
«Estou feliz, porque eu vejo que os meus amigos e o pessoal que me lê estão felizes», afirmou Gullar aos jornalistas, após receber, em mãos, o prémio dos representantes dos Governos do Brasil e de Portugal.
Aos 80 anos, Ferreira Gullar é o 22º escritor a receber o mais importante prémio literário (*) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
Diário Digital / Lusa
(*) no valor de 100.000 euros
foto (que acompanha um texto) retirada daqui
*
NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
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