enviado por Oblige, um texto que é uma bela reflexão filosófica:
*
Gostava de falar de um tema que ultimamente me tem ocupado o pensamento.
O nojo.
Não qualquer tipo de nojo, refiro-me ao nojo intelectual. O pior deles todos e o mais difícil de provocar.
O nojo que temos por algo repugnante, por exemplo, por muito intenso que seja, está-nos imbuído na mente de forma tão profunda que nem o podemos controlar. É algo orgânico, instintivo. O nojo intelectual não.
Este tipo de asco (visceral ainda que não venha das vísceras) é puramente racional, pouco ou nada tem de emotivo. É produto de um cérebro que tem ideias, que se rege (ou pelo menos que se tenta reger) pela lógica e pela lucidez e que é confrontado por algo que pode ser insultuosamente mesquinho, ou medíocre, ou presunçoso, mas que, de algum modo, tem algum poder sobre uma ou mais pessoas. Quero dizer, algo que gostaríamos de poder ignorar mas não podemos.
Pessoas que, quando têm algum poder sobre outras, costumam provocar esse nojo.
Pessoas cujo pequeno poder se amplifica pelo tamanho da sua mediocridade. Gente que pede mais do que aquilo que dá, gente que argumenta sem lógica. Cegos que pensam que só eles é que vêem. Hipócritas que nem sequer escondem a sua falsidade, ou pior, hipócritas que não sabem que são hipócritas. Moralistas sem ética, críticos de café… Enfim, podia continuar sem conseguir falar de todos eles.
Pessoas que não são demasiado ambiciosas ou cruéis, que não aspiram a muito mais do que o pouco poder que têm, que apenas querem agregar os outros ao seu pequeno ninho de putrefacção. São hienas, nunca leões.
Por si mesmos apenas provocam o nosso escárnio, ou irritação, ou a nossa pena. No entanto, quando têm poder revelam toda a asquerosidade que os move e os nutre.
Espero ter sabido explicar que este nojo, à sua maneira, é pior, mais incapacitante que aquele que sentimos por um ditador, alguém que viola, alguém que mata. Esse tipo de nojo é emotivo, moral, não necessita de racionalização para existir.
O outro sim.
O nojo intelectual nubla a mente, corrói a nossa resistência. Faz-nos adaptar a ele e, por muito que custe admiti-lo, adapta-se a nós.
Quando o aceitamos como algo que tem direito a existir, perdemos, perdemo-nos.
Eu já perdi, perdi-me.
.
Oblige .
.
.
imagem de Picasso
Sem comentários:
Enviar um comentário