Guilherme Valente, cavaleiro quase-solitário
Guilherme Valente (homem da Filosofia, editor da Gradiva) não desiste da sua longa cruzada contra o "eduquês". Toda a gente sabe que hoje se aprende menos e pior que há algumas dezenas de anos. O que não se percebe é como e porquê, em vez de fazermos agora melhor do que no passado, fazemos pior, persistindo nos erros, não os corrigindo e até os agravando, escorregando impotentes pela ladeira da incompetência, da incultura e da iliteracia.. Como é que esta situação se mantém fora de controlo ao longo dos anos?
Há já algum tempo, Guilherme Valente contava-me que em determinada reunião de uma estrutura oficial, um dos participantes fez uma crítica radical e uma análise extremamente lúcida ao sistema de ensino. Quem falava era um especialista sério, com longos anos de experiência e investigação no sector. A nota dissonante é que ele fora até há pouco tempo Ministro da Educação e não tinha conseguido alterar a inércia de que este titanic vai animado. Apesar de o ex-ministro se mostrar consciente dos erros de fundo de todo o sistema (que conhece como poucos), o próprio sistema impede a sua transformação, porque contém nele o estigma que perpetua e reproduz a informação que o impede de mudar radicalmente (quer dizer, na raiz).
Cada vez mais os aparelhos monstruosos que brotaram no século XIX - os partidos posteriormente agrupados em internacionais e lóbis mundiais e regionais, os sindicatos que depois se confederaram, as grandes empresas que evoluíram para os grandes grupos económicos e as multinacionais actuais e os Estados - geram em si mesmos a respectiva continuação, locomotivas sem freio, alimentadas no carvão da auto-preservação que é o destino único da sua única linha.
Falávamos do Estado e de um ministro, cidadão excelente mas ministro impotente e frígido. Então lembremos Nietzsche (1844-1900): "o Estado, o mais frio de todos os monstros...".
Carlos Ventura , 02 Julho 2008 (retirado daqui )
ver também:
- Manifesto para a Educação da República, assinado por cerca de 20 000 cidadãos e entregue em 2002 ao então Presidente da República Jorge Sampaio
- entrevista a Guilherme Valente
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