18 fevereiro 2010

lição de cidadania

Muitas vezes, nas chamadas "aulas" de substituição, faço debates com os alunos. Podem ser turmas do 7.º ao 12.º ano e são sempre eles que propõem o tema. 9 em cada 10 vezes, o mais votado é o da sexualidade. Alunos de 12, 14, 16 anos, escolhem discutir o que os preocupa ou os confunde, o que vivenciam ou vêem noticiado.

Invariavelmente, vamos parar à questão da homossexualidade, e pela actualidade do assunto, também ao casamento e à adopção por parte de pessoas do mesmo sexo. Quase nenhuns se opõem ao casamento homossexual, quase todos contestam o direito de adopção. Há-os, também, e são sobretudo raparigas, que referem os maus tratos, o abandono, o incesto, a violação de crianças, no seio de famílias heterossexuais.

Apercebo-me das suas dúvidas, das suas convicções. Retenho as frases feitas, a lucidez dos contra-argumentos. Oiço-os, só às vezes peço a palavra. Conto-lhes da História, das tolerâncias outras, dos costumes e das culturas diferentes, a Roma antiga e e a civilização grega, os trajes e as maquilhagens dos nossos antigos reis. E falamos dos documentários que aconteceu vermos, alguns, no National Geographic, a homossexualidade na natureza.
Assombro-me com a maturidade de tantos destes alunos, orgulho-me da capacidade que evidenciam, quase todos, de exporem as suas ideias, de ordenadamente, democraticamente, ouvirem as dos outros, tão contrárias às suas. Saio de lá agradada, o tempo que reclama escasso quem pede para conversar a vida.

Estes alunos que eu não conheço, de quem não sei o nome, passam depois a cumprimentar-me cá fora, um sorriso - de agradecimento? - aquecendo-me o coração. E penso: que lição, os nossos jovens. Que bofetada nas propagandas toscas,  nas mentes anquilosadas e doentes de tantos dos nossos 'líderes'.

Pudessem eles ensinar a tolerância a quem, avesso aos consagrados Direitos Humanos, no sábado vai , católica que não cristamente,  vociferar contra o (já aprovado!) casamento entre pessoas do mesmo sexo. Torquemadas dos tempos modernos, tristes cruzados babando pelo sangue dos infieis e a carne queimada dos autos de fé e dos campos de concentração nazis.
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2 comentários:

Em@ disse...

AL:
gostei de te ler. também eu tenho experiências idênticas às que tu relataste,também me repugna o que te repugna e me insurjo contra o que tu te insurges.
também fico com o coração cheio quando vejo miúdos darem lições de cidadania, ou outras, a gente com idade suficiente para ter horizontes mais largos e um coração (mente) mais aberto.
contudo, resta-me , somente alertar-te para o perigo que corremos nestas aulas ditas livres (sem guião), não vá alguém tecer uma qualquer tramóia que nos lixe a vida como à colega de espinho...
besito e a luta continua sempre em busca de dias mais claros.
Vou levar-te o banner do "gay mariage". Posso , não posso?
+ jinhos

AL disse...

olá Em@, obrigada!
claro q podes levar - o banner, tudo o q quiseres.
e agradeço o alerta, mas mais não faço, agora por escolha própria nos obrigatórios tempos de 'entreter alunos', do que já fui institucionalmente obrigada a fazer, quando me puseram a dar aulas-aulas de Educação Sexual, precisamente, a 2 turmas de 7.º ano, na disciplina de Área de Projecto.
Mas fica descansada, o que debatemos são ideias, nunca os deixo personalizar nada. Explico-lhes muito bem as regras dos debates, eles formam a 'mesa', dão a palavra aos colegas q se inscrevem (ou à prof..), zelam pelo bom ambiente, cortam a palavra quando há desvios às regras. Como te digo, uma lição de cidadania..
bjinhos