15 fevereiro 2010

3 poemas de amor


 de Carlos Drummomd de Andrade


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Que pode uma criatura

Que pode uma criatura senão, 
entre outras criaturas, amar? 
amar e esquecer, 
amar e malamar, 
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


as sem razões do amor

Eu te amo porque te amo. 
Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. 
Eu te amo porque te amo. 
Amor é estado de graça 
e com amor não se paga. 

Amor é dado de graça, 
é semeado no vento, 
na cachoeira, no elipse. 
Amor foge a dicionários 
e a regulamentos vários. 

Eu te amo porque não amo 
bastante ou demais a mim. 
Porque amor não se troca, 
não se conjuga nem se ama. 
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte, 
e da morte vencedor, 
por mais que o matem (e matam) 
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade [1902-1987] - biografia e poemas, aqui

último texto : depois do jantar (um assalto - muito engraçado..)
*
a imagem distorcida  é de Shen-Wei Dance Arts ,   aqui .........

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