15 maio 2011

esquerdas, direitas, o diabo a 4

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não sei se «o "socialismo" é o avô da crise», nem gosto especialmente do Nuno Rogeiro. O que sim, sei, é que da esquerda (a portuguesa, a europeia) o que eu esperava era precisamente o que assinalei no artigo abaixo..
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2011-05-13
por Nuno Rogeiro - aqui

E a "esquerda"fica-se?


Fica-se. Esperava-se da "esquerda" - portuguesa e europeia - mais e melhores ideias sobre a saída do nosso buraco, que para já é financeiro, mas pode ter extensões até ao mais íntimo da soberania. Esperavam-se mais radicais e mais (como hoje se diz) fracturantes medidas, como alternativa ao pacote de reformas negociado entre as duas troikas (a portuguesa e a estrangeira).

Esperava-se a proposta de nacionalização da Banca e seguros, e de indústrias estratégicas. Esperava-se o abandono da Zona Euro. Esperava-se a saída da União Europeia, nos termos do tratado. Esperava-se o agravamento drástico dos impostos sobre os mais ricos, os mais produtivos, os mais contribuintes. Esperava-se um agravamento das leis sobre falência. Esperava-se uma norma de criminalização, se calhar retroactiva, face a responsáveis de empresas e do Estado, que se provasse terem contribuído para a quase bancarrota.

Esperava-se uma revolução, e mais.

Mas quando se vê o partido comunista alemão falar de um "Plano Marshall", ou o SPD e o Bloco de Esquerda mencionar fundos de resgate com base em novos tributos da Banca e da Bolsa, ou a renegociação da dívida, mostra-se que a "esquerda" não só não tem ideias novas, mas renega os seus princípios.

Prefere, por exemplo, recorrer à caridade (Plano Marshall, renegociação da dívida), disfarçada de "diálogo" entre potências iguais e soberanas. Prefere continuar em torno da bolsa e dos bancos, independentemente de saber se o dinheiro daí vindo seria capaz de colmatar as necessidades mais básicas.

Na emergência, a "esquerda" não se lembra de medidas de emergência. Nem das suas velhas convicções socializantes. Nem do facto de ser, em teoria, contra "esta Europa", e este capitalismo.

Na emergência, a "esquerda" entrega nos tribunais uma queixa mal instruída - logo destinada ao não provimento - sobre as responsabilidades de agências de notação e outras entidades, esquecendo-se de juntar prova suficiente, jurisprudência e factos relevantes.

Na emergência, a "esquerda" balbucia contra as troikas, mas limita-se a ser gestor das suas crises e condições.

Porquê? Entre outras coisas, porque, secretamente, a "esquerda" sabe que, se o "neoliberalismo" especulativo é o pai da crise, o "socialismo" é o avô.

Foi do falhanço deste que se fez o sucesso oportunista do primeiro.
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