Ontem, excepcionalmente, vi televisão. Uma colega telefonou-me, "liga já para a SIC-notícias, está lá o Santana Castilho a falar do relatório da OCDE!"
Liguei, vi o programa, pensei:
- por que é que não põem este homem a falar em horário nobre, sem lhe limitarem o (muito escasso) tempo de antena porque "temos ainda de ouvir outros telespectadores"?
- e por que não põem a debater educação pessoas a ela ligadas e que minimamente saibam do que estão a falar?
- por que se pretere, num programa que, apesar de 'opinativo', se arvora também em informativo, a intervenção de um celebrado especialista nestes assuntos a estudantes de 26 anos (?!) que se põem a fazer a apologia de quadros interactivos que, desconfio, nunca viram na vida, ou a reformados que em vez de Educação (escolas, políticas/sistemas educativos/resultados PISA) se pronunciam sobre jovens mal educados?
- e por que me parece tão governo-vassala uma jornalista de um canal dito independente?
- e .. a informação/ a televisão que temos é suposta estar ao serviço de quem, afinal?
No "Opinião Pública" que ontem fechou o jornal das 17h, Santana Castilho desmistificou, com a clareza e a lucidez que se lhe conhecem, aquilo que leviana, imediata e irresponsavelmente levou José Sócrates e Isabel Alçada a embandeirarem em arco, ufanos(-íssimos) da bondade tanta das suas políticas educativas. (entrevista de JS ao Público, aqui)
Ora qualquer pessoa que actue no terreno (e não há volta a dar-lhe, são, única e exclusivamente, os professores) sabe /sente /comprova no dia a dia que o sistema educativo, a Educação no nosso país, vai de mal a pior.
Não há contestação possível, e bem podem os relatórios de ocdes ou do que quiserem vir atirar-nos com poeira para os olhos, elogiar-nos a subida de 4 lugares no ranking dos países. Como Santana Castilho muito bem explicou, há um sem número de variáveis a considerar (coisa que nem o PM nem a ME fizeram..) quando se analisam os resultados apresentados. E é ÓBVIO que, como referiu no programa, o êxodo massivo para os CEFs (Cursos de Educação e Formação) dos alunos mais problemáticos, impreparados, incapazes de concluírem o Ensino Básico 'normal', e cujos resultados eram antes contabilizados nos relatórios do PISA será, por si só, explicação mais que plausível para a melhoria dos resultados de 2009, em que estes alunos já não se incluem.
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No programa, Santana Castilho deitou completamente por terra - por não aplicáveis ao tempo de realização dos referidos exames - a (pelo PM invocada) relação de causa-efeito entre as políticas educativas do(s) governo(s) de José Sócrates e a aparente melhoria de resultados agora obtidos pelos nossos alunos de 15 anos.
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E eu, que fiquei agoniada com o orgástico discurso, o facies bacocamente triunfal do primeiro ministro, volto a perguntar-me:
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E eu, que fiquei agoniada com o orgástico discurso, o facies bacocamente triunfal do primeiro ministro, volto a perguntar-me:
- por que não aceitam José Sócrates, Isabel Alçada, todos os apoiantes destas assassinas políticas educativas, o repto de Santana Castilho, várias vezes lançado, de um debate público sobre as questões da Educação em Portugal?
Pergunto-me, sabendo a resposta de antemão: o rei vai nu, tão nu como nunca antes.
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- Socióloga francesa sustenta que avaliação desenvolvida pela OCDE está a orientar os sistemas de ensino apenas para os resultados e a matar a "matriz da educação" (aqui)
- O PISA procura medir a capacidade dos jovens de 15 anos (...) - ver: http://www.gave.min-edu.pt/np3/157.html
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