30 novembro 2010

Soneto quase inédito



de
José Régio (17/9/1901 - 22/12/1969)


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
J. Régio, poeta de deus e do diabo"

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO

Soneto escrito em 1969,  tão actual então, como hoje

*

José Régio foi uma das mais lúcidas consciências literárias do seu tempo. Possuidor de uma sensibilidade rara, deixou nos múltiplos vectores da sua actividade intelectual as marcas inconfundíveis do seu talento criador e da firme personalidade que o caracterizava.

Em 22 de Dezembro, completam-se 31 anos sobre a sua morte ... (ler mais)

2.ª imagem: óleo sb tela, de Ventura Porfírio,1958 (retirada daqui)

1 comentário:

Anónimo disse...

CARTA A EL-REI D.JOÃO III [EXCERTO]

Homem de um só parecer,
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da corte homem não é.
Sá de Miranda