14 julho 2010

a congruência de um homem


Chama-se Paulo Nozolino (ver portfolio)  

É um reconhecido e premiado fotógrafo português, residente em Londres (que admiração, não?..)

Chegou-me via mail a carta que publicou a propósito da recusa de um prémio que lhe foi atribuído pelo DGARTES ( ministério da Cultura) :

 
«Recuso na sua totalidade o Prémio AICA/MC 2009 em repúdio pelo comportamento obsceno e de má fé que caracteriza a actuação do Estado português na efectiva atribuição do valor monetário do mesmo.

O Estado, representado na figura do Ministério da Cultura (DGARTES), em vez de premiar um artista reconhecido por um júri idóneo, pune-o!
Ao abrigo de “um parecer” obscuro do Ministério das Finanças, todos os prémios de teor literário, artístico e científico não sujeitos a concurso são taxados em 10% em sede de IRS, ao contrário do que acontece com todos os prémios do mesmo cariz abertos a candidaturas.
A saber…
Quem concorre para ganhar um prémio está isento de impostos pelo Código de IRS.
Quem, sem pedir, é premiado, tem que dividir o seu valor com o Estado!

Na cerimónia de atribuição do Prémio foi-me entregue um envelope - não com o esperado cheque de dez mil euros, como anunciado publicamente, mas sim com uma promessa de transferência bancária dessa mesma soma, assinada por Jorge Barreto Xavier, Director Geral das Artes.
No dia seguinte, depois do espectáculo, das luzes e do social, recebo um e-mail exigindo-me que fornecesse, para que essa transferência fosse efectuada, certidões actualizadas da minha situação contributiva e tributária, bem como o preenchimento de uma nota de honorários, onde me aplicam a mencionada taxa de 10%, cuja existência é justificada pelo Director Geral das Artes como decorrendo de um pedido efectuado por aquela entidade à Direcção-Geral dos Impostos para emitir “um parecer no sentido de que, regra geral, o valor destes prémios fosse sujeito a IRS”.

Tomo o pedido de apresentação das certidões como uma acusação da parte do Estado de que não tenho a minha situação fiscal em dia e considero esse pedido uma atitude de má fé.
A nota de honorários implica que prestei serviços à DGARTES.
Não é verdade.
Nunca poderia assinar tal documento.
Se tivesse sido informado do presente envenenado em que tudo isto consiste não teria aceite passar por esta charada.
Nunca, em todos os prémios que recebi, privados ou públicos, no país ou no estrangeiro, senti esta desconfiança e mesquinhez.
É a primeira vez que sinto a burocracia e a avidez da parte de quem pretende premiar Arte.
Não vou permitir ser aproveitado por um Ministério da Cultura ao qual nunca pedi nada.
Recuso a penhora do meu nome e obra com estas perversas condições.
Devolvo o diploma à AICA, rejeito o dinheiro do Estado e exijo não constar do historial deste prémio. »

Paulo Nozolino
1 de Julho de 2010

2 comentários:

Teresa Amaral disse...

Haver pessoas assim é um bálsamo para a alma!
Beijos

Ana Calhau disse...

Esta situação que o Paulo Nozolino descreve passa-se vezes sem conta no mundo das artes em Portugal. Poderia descrever dezenas delas passadas com designers, pintores, bailarinos, fotógrafos e tantos outros.

No caso da DGARTES todos os prémios são presentes envenenados que, à laia de "condecorações de nylon" apenas servem para: "X está a ter sucesso lá fora*, vamos dar-lhe um 'prémio' para que a nossa instituição fique bem vista".

Mas não fica.

E não fica porque nem todos os artistas portugueses são vendáveis, nem todos permitem "a penhora do seu nome" e nem todos engolem insultos como este.




* tinha eu uns 15 anos e o Paulo Nozolino já era um dos melhores fotógrafos portugueses