17 maio 2010

2 Mários, uma nêspera

Rifão Quotidiano

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece


Mário Henrique Leiria, 
in Novos Contos do Gin




sobre Mário Henrique Leiria (1923 – 1980) ver o sítio "Vidas Lusófonas" - só um cheirinho:

«Ó Mário-Henrique: conhecemo-nos em Lisboa, no Café Chiado, em 1951. Tinha eu uns 20 anos e tu eras mais crescidinho, terias uns 28. Lembras-te? Se não te lembras, lembro-me eu, tu sempre agitadinho e a provocar tudo e todos, militância surrealista, as coisas arrancadas do seu lugar habitual, humor negro, a tua rebeldia a oscilar entre as artes plásticas, a prosa e a poesia.
.
No interior de uma das casas de banho do Café há, na porta, um poema escrito com tinta ácida, impossível de apagar:

Aqui
cagou
Pio XI,
Rei dos Ciganos.

Negas ser o autor mas desmanchas-te a rir e mais me convenço que o poema é teu.
O que tu adoras é choques em cadeia, dentro ou fora das casas de banho...  »
.

quanto a  Mário Viegas , o melhor mesmo é ouvi-lo :

do sítio da  Companhia teatral do Chiado :

Mário Viegas ( 1948-1996) * é e será recordado pelo «seu exemplo de homem livre e insubmisso, o seu amor à cultura, à poesia, ao teatro e ao cinema, a qualidade e a inteligência do seu humor» (Dr. Jorge Sampaio, Presidente da República, citado in "Semanário, 4 de Abril de 1996). «Impetuoso, rebelde com o gosto da provocação, se alguém fosse redutível a palavra, excesso seria talvez a mais adequada a uma tentativa de definir Mário Viegas» (Elisabete França, "Diário de Notícias, 2 de Abril de 1996). 
.

exactamente as mesmas datas, idêntica causa de morte, de Caio Fernando Abreu , curioso ..

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