26 janeiro 2010

boçalidades

Acaba de me chegar por mail e deixou-me sumamente irritada (sorry, A. A ..) O discurso, assinado por um tal de António Cheinho (não, não é o mesmo da guitarra!) , terá sido proferido na A.R. , a propósito da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo:

Exmo Senhor Presidente:
Srs. Deputados:
(...)
Irei expor, sucintamente, aquilo que em mão irei entregar ao Ex.mo Senhor Presidente, ou seja o pedido de discussão neste Plenário de um projecto-lei da minha, sublinho, da minha autoria, já que o grupo parlamentar em que me insiro nada tem a ver com o mesmo.
(...)
Fazendo parte deste grupo (heterossexuais) - e volto a repetir a palavra "felizmente" - tenho porém um problema, comum também a muitos outros cidadãos: Sendo solteiro e gostando de mulheres, gostaria de poder casar em simultâneo com duas delas.
(...)
Se uma instituição milenária é abruptamente corrompida e adulterada pelos homossexuais, porque não pode a mesma sê-lo também pelos que defendem a poligamia, que até são em número superior àqueles?
António Cheinho  / excertos

  • Bom, primeiro, o senhor reconhece que tem um problema, nada mau. Põe-se é em pé de igualdade com os 'homossexuais' que, ao contrário do sr. António Cheinho, não têm problema nenhum. Criam-lho.
  • Segundo: ele sente a imperiosa necessidade de repetir a palavra 'felizmente' - ele 'volta a ' repeti-la! .. Terá , o próprio, dúvidas a respeito da sua orientação sexual? Receará o sr (deputado?) Cheinho que, outros, não estejam plenamente convencidos da sua condição de macho? Em qualquer dos casos, um problema a acrescentar ao anterior: de identidade, de auto-confiança. 
  • Terceiro: fala este senhor de "uma instituição milenária (que) é abruptamente corrompida e adulterada pelos homossexuais" - abruptamente? Como abruptamente, senhor Cheinho? Abruptos são os terramotos, os tsunamis, que de um momento para o outro nos 'caem em cima'!! O casamento homossexual afecta-o a si do mesmo modo? Mais um problema, está a ver? .. E depois, que mania que o senhor tem de se repetir!! Um adjectivo não lhe chegava para expor o seu ponto de vista? Corromper e adulterar .. não vão dar à mesmíssima coisa?

Ora bem, e chegámos ao cerne da questão: O CASAMENTO !!!!!!
  • O casamento como instituição, ou seja, qualquer coisa que não existe naturalmente; que é criada, instituída, com uma finalidade, para servir um qualquer interesse, de acordo?
  • Não sei quantos milénios terá a instituição casamento, mas parece-me sereno que o tal interesse que ele é suposto servir seja de ordem muito material, o que, desde logo, o torna 'incorruptível', eticamente falando ..
  •  Quanto a 'adulterar' uma instituição .. vejamos: "adulterar" = "viciar dolosamente"; "falsificar"; "corromper" (dic. Porto Editora). Segundo o senhor, são os homossexuais culpados deste 'abrupto adultério'. Então e os adúlteros propriamente ditos, sr. Cheinho, não corrompem essa instituição 'velha de milénios'?? Não vêm eles, há séculos (milénios?) viciando, e dolosamente, um acordo que celebraram? Com o qual, solenemente, se comprometeram? Mais: não são, eles, perjuros, falsos, gente sem carácter, merecedores de pouca ou nenhuma confiança? E não é de sexo/género que estamos falando. Aqui o assunto são mesmo, e só, PARCERIAS - um 'negócio' de seriíssimos interesses (económicos) que, supostamente, deveria beneficiar as duas partes envolvidas, certo? E, como é óbvio, por 'duas partes' entende-se 1+1. É que, sabe, 1+2 ia adulterar a instituição..
e agora o grand finale:

pergunta o senhor: "porque não pode a mesma sê-lo também pelos que defendem a poligamia, que até são em número superior àqueles?"

  • Bom, p'ra já, p'ra já, aquele 'porque' devia estar separado. É, /por que..?/ = /por que razão... ?/
  • Depois, o senhor (deputado?)  é de uma contradição confrangedora: reivindica o direito ao 'seu' casamento, mas é definitivamente contra a instituição: quer vê-la 'corrompida' e 'adulterada' - também!!!- por polígamos!
  • Finalmente, uma pergunta: esse 'número superior' que alegadamente defende a poligamia .. inclui as mulheres? Ou o que o sr. Cheinho quer mesmo ver instituído e legalizado, afinal, são os haréns?
*

5 comentários:

grazia.tanta disse...

Olá Ana

O sr. Cheinho (o da guitarra é Chainho)é um triste, cuja insegurança o obriga a dizer em cada linha que é macho. Depois, confunde relações amorosas com casamento, instituição bem desenvolvida nos códigos civis para regular a propriedade e a herança. Nada mais. E é para isso que serve o casamento homo, para garantir às pessoas os direitos sobre a propriedade dos outros. Naturalmente que os homosexuais não precisam de casar para exercer os seus direitos a usufruir do amor.

E, claro o sr. Chainho deveria de gostar de ter um harém mas, primeiro avalie se tem rendimento para isso; e se tem o apetite sexual dos sultões que têm dezenas de mulheres por conta... se bem que isso agora com o Viagra... não é sr. Cheinho.

O sonho comanda a vida... mesmo dos idiotas

um beijinho
Vítor

AL disse...

:-))
gostei, Vítor!!
bjinho tb

Luis Faria disse...

Gostei muito do comentário! Corrosivo, inteligente, irónico! Parabens!
Quem é que o escreveu?

AL disse...

quem é q o escreveu????
ó Luís, franchement!!! quem havia de ter sido???
:-)

Anónimo disse...

Ao boçalidades também tiro o meu chapéu!
Já agora podias acrescentar mais um clip para ficar tudo ainda mais “giro” e dedicá-lo ao dito deputado e aos homofóbicos em geral…

Bj
IM
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http://www.youtube.com/watch?v=I30H7mhfLe8&feature=PlayList&p=0B064AF5ABCFD5EB&playnext=1&playnext_from=PL&index=5